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Neta conta a história dos avós em documentário sobre cartas de amor

Filme dirigido por alunas da PUC Minas fala sobre a relação entre memória e paixão

Nosso filme é uma forma de documentar um sentimento e fazer uma retrospectiva do que é se apaixonar, a partir da história do meu avô Mauro e da minha avó Léa”. 

Selena Souza, estudante de cinema

“Do seu para sempre o mesmo”

Em 1973, um evento trágico fez com que o caminho do belo-horizontino Mauro Lopes de Almeida, na época com 20 anos, cruzasse o de Léa Gonzaga, uma moça dois anos mais nova que morava em São João Del Rei, interior de Minas Gerais. A partir desse fato, os dois começaram a se corresponder por cartas, em um relacionamento à distância. Foi assim durante os cinco anos de namoro, que terminaram em casamento e uma paixão que dura até hoje.

Cinco décadas, três filhas e três netas depois, eles permanecem juntos. As duzentas correspondências que trocaram ao longo da vida ficaram como um registro guardado pelo tempo. Até que a neta deles, a estudante de cinema Selena Souza (20) resolveu revisitar essas memórias por meio de um documentário. Em parceria com a colega de faculdade Natália Carvalho (22), Selena passou o último semestre roteirizando, filmando e editando a história real, mas digna de ficção, cujos personagens principais são os avós dela. 

O filme ganhou o título “Do seu para sempre o mesmo“, forma carinhosa que Mauro usava para se despedir de Léa em todas as suas cartas. “É um resgate à memória, ao romantismo da época, porque as coisas são muito diferentes hoje em dia. Nós vivemos e acabamos esquecendo os detalhes, não costumamos lembrar. E os avós da Selena tem tudo documentado, datado, escrito. Nossa ideia foi resgatar isso”, explica Natália, que aceitou prontamente o convite da amiga para participar do processo criativo.

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Mauro e Léa, personagens principais do documentário. Foto: Selena Souza e Natália Carvalho

Registrando memórias

Selena conta que transformar o enredo da própria família em uma produção cinematográfica parecia um sonho distante. O ‘estalo’ para tirar o projeto do papel veio após assistir o filme Santiago, do diretor João Moreira Salles. “Me veio a consciência de: “nossa, um dia tudo vai acabar, então o que eu posso fazer para guardar esses momentos? Esse documentário foi uma forma de resgate, uma luta contra o esquecimento. Quero guardar a história dessas pessoas que eu gosto tanto e que as próximas gerações da família não vão ter a chance de conhecer”.

A produção envolveu várias etapas, como uma viagem para gravar cenas externas em São João Del Rei e a escolha de músicas para a trilha sonora. As duas organizaram as cartas por datas, mas optaram por deixar Mauro e Léa escolherem quais seriam usadas, por acreditarem que ninguém faria essa seleção melhor do que eles. Apesar do hábito ter sido mais frequente quando moravam em cidades diferentes, eles continuaram trocando cartas por muito tempo, mesmo depois de anos de casados. “Nós escondemos uma câmera, espalhamos essas cartas e filmamos as reações deles abrindo, lendo, relembrando. Foi tudo muito espontâneo”, contam as diretoras.

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Natália e Selena gravando externas na cidade de São João Del Rei

Segundo Natália, as duas também registraram a rotina na casa do casal: “Não queríamos perder os detalhes, quem eles são no dia a dia. um com o outro. Até coisas simples, como dobrar uma toalha. Tudo isso tem um símbolo, um significado importante”. Selena acrescenta: “O que o documentário traz de mais bonito é essa questão: você não dirige, você conduz. O grande desafio é: como documentar um sentimento? E também existe um subtexto ali: não é só sobre a relação de amor dos meus avós. É sobre uma neta que está tentando ao máximo não esquecê-los”.

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O título do documentário remete a forma com que Mauro assinava todas as suas cartas

A nossa proposta é uma imersão. A gente meio que se apaixona assistindo. Antes eu enxergava o meu avô e a minha avó de uma forma, depois de eu ler as cartas, é como se eu reconhecesse eles, como se fossem novas pessoas. Eu falava: “Nossa! A minha avó pensava assim?! O meu avô falava de tal jeito! Que pessoas! Que romantismo!” E pensar que eu sou fruto disso é muito legal, é incrível”

Selena Souza

A futura cineasta conta que os avós ficaram muito felizes com a iniciativa dela, e participaram ativamente dos preparativos até o lançamento. E o sr. Mauro já prometeu: no dia que em que ele não estiver mais aqui, as cartas ficarão de herança para a neta. Selena e Natália pretendem seguir adiante com o projeto, produzindo uma versão mais extensa do filme. A primeira versão, com duração de 15 minutos, teve a supervisão da professora Elisa Rezende e está disponível no link abaixo para os leitores do Colab.

Clique aqui para assistir ao documentário:

https://drive.google.com/drive/folders/1egpqO9uAmdR6Nwc1l8RelB0WWnQDQuX1

Amanda Pena

3 comentários

  • Nossa que maravilha e orgulho assistir esse documentário que tbm faz parte dainha história, e ainda mais retratada por essas duas mais novas cineastas que estão se desenvolvendo. Para Selena meu amor e Nat minha sobrinha do coração. PARABÉNS!!!!

  • Nossa que orgulho!!!! Parabéns Nathalia e Selena !!!! Vcs não tem dimensão do quanto nos fizeram bem ao eternizar a história dos meus pais!!!!!

  • Que coisa linda, é tão lindo ver o amor na sua forma mais pura e duradoura, parabéns pelo trabalho, a curiosidade foi de ler todas as cartas em ordens, mas é ser muito intimista kkkkk mas de tão gostosa a história, não dá conta de parar. Parabéns ao casal ❤️