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Lições e desafios da cobertura jornalística na pandemia

Tema foi debatido no Fala Ciência, evento de divulgação científica realizado com apoio da PUC Minas

A 8ª edição do Fala Ciência, curso de comunicação pública da ciência e tecnologia promovido pela Rede Mineira de Comunicação Científica (RMCC) foi realizado nesta quinta, 27 de agosto, e transmitido gratuitamente pelo canal de Youtube da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A primeira mesa-redonda debateu sobre a cobertura jornalística da pandemia.

A conversa contou com a participação dos jornalistas Luisa Massarani, coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública em Ciência e Tecnologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Luis Felipe Fernandes, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde da Fiocruz, na linha de pesquisa Divulgação, Popularização e Jornalismo Científico. A mediação foi realizada pela jornalista Fernanda Fabrino, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).

O evento é uma realização semestral da Rede Mineira de Comunicação Científica, que reúne representantes de diversas instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa de Minas Gerais. A PUC Minas faz parte da Rede e também da organização do evento.

Cobertura da pandemia: COVID19 DivulgAção Científica

Luisa Massarani começou a sessão apresentando o COVID19 DivulgAção Científica, iniciativa do Instituto Nacional de Comunicação da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), sediado na Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O projeto visa reunir informações confiáveis sobre o novo coronavírus e a doença causada por ele. Acompanhe aqui:

Negacionismo científico, disputas políticas e dilemas econômicos

Já Luis Felipe Fernandes apresentou sua pesquisa de doutorado, orientada por Luisa Massarani, que analisa a cobertura jornalística da pandemia de COVID-19 em veículos dos Estados Unidos, Brasil e Reino Unido: “A intenção foi analisar a cobertura da imprensa numa perspectiva internacional, utilizando características que pudessem proporcionar uma análise comparativa entre os veículos The Guardian, The New York Times e Folha de S. Paulo”

A pesquisa leva em consideração atitudes dos líderes governamentais em relação ao combate da COVID-19 e suas posturas públicas, como o negacionismo científico em relação às orientações das autoridades internacionais de saúde. Luiz Felipe Fernandes conta que coletaram quase 40 mil links relacionados a matérias que continham a palavra-chave “coronavírus” entre janeiro e junho:

“A gente fez toda essa coleta utilizando linguagem de programação e técnicas de mineração de texto e dados”.

A pesquisa analisou os textos e chegou à conclusão de que existem tópicos mais evidentes: saúde, política, economia, ciência, questões sociais, comunicação, referências externas e referências internas.

Nos três jornais estudados, o tópico saúde é o mais frequente. Porém, na Folha de S. Paulo, os tópicos economia e política competiram com a atenção do público. O The New York Times segue o mesmo padrão, além das referências internas: o veículo tem uma cobertura mais voltada para seu país. Já o The Guardian tem tópicos mais bem distribuídos. “É possível perceber que uma crise sanitária como a pandemia começa a ser abordada com mais intensidade quando aquele problema começa a ser interno, dentro do país do jornal”, explicou o pesquisador.

Imparcialidade, pluralidade e divulgação científica na cobertura da pandemia

A questão da linha editorial na divulgação científica foi um tema abordado durante a transmissão. Luisa Massarani defendeu que toda cobertura jornalistica é orientada pelos princípios editoriais, e o que vai ser coberto pela imprensa é uma decisão dos veículos de comunicação:

“Imparcialidade não existe porque quando você escolhe um título, as fontes, a forma como você coloca a informação, de alguma maneira, você já está sendo parcial.”

Outro tópico questionado na live foi a pluralidade de pontos de vista que pode levar à abertura de espaços para o negacionismo científico. Luiz Felipe Fernandes afirma que muito tem se falado sobre isso “mas como colocamos uma pessoa anti vacina para debater uma questão de saúde? Essa posição é simplesmente um contraponto? A ideia de terraplanismo é simplesmente uma ideia contrária e equivalente à ciência? A decisão do jornalista tem que partir de uma abordagem crítica, de como vamos inserir essas pessoas no debate”.

Notícias da pandemia e ansiedade 

O que fazer em relação às pessoas que estão associando a pandemia e notícias à ansiedade e depressão?

Luiz Felipe Fernandes conta que existe uma linha tênue na cobertura jornalística da pandemia entre exagerar e minimizar o que é grave. “É necessário saber dosar, mas não viver em um mundo cor de rosa que sabemos que não existe.”

Luisa Massarani afirma que a recomendação de simplesmente evitar as notícias não é o melhor a se fazer: “Estamos em uma situação gravíssima, a gente precisa se informar. É fundamental a gente ler, sim, mas a gente precisa saber conhecer as fontes.” Ela diz que é necessário informar-se e envolver-se em ações para reverter o quadro em que nos encontramos.

O COVID19 DivulgAção Científica tem uma seção de fontes, onde você pode encontrar sites confiáveis para se informar acerca do COVID-19. Acesse aqui: Fontes Confiáveis

Todos os vídeos do Fala Ciência estão disponíveis no canal da Fapemig: youtube.com/fapemigoficial. Acesse e assista.

Júlia Dara

Terceiro período de jornalismo, apaixonada por cultura e produção de conteúdo digital.

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