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Marcha do 8 de março de 2018 na Espanha (imagem meramente ilustrativa via Wikimedia).

#8M e a luta das mulheres por direitos e liberdade

No Dia Internacional da Mulher, saiba como surgiram as manifestações que deram origem à data

Prédio da Triangle Shirtwaist Company em foto da Wikimedia Commons

No Brasil, o Dia Internacional da Mulher é muito associado ao incêndio ocorrido no prédio da Triangle Shirtwaist Company (foto), em Nova York, no dia 25 de março de 1911.

Na ocasião, morreram 146 trabalhadores, sendo 125 mulheres e 21 homens. Porém, o processo de luta das mulheres pelos seus direitos é muito mais complexo do que imaginamos e vem de muito antes desta popular história. 

É fato que, no início do século XX, grandes movimentos feministas começaram a surgir no interior das fábricas, em países da Europa e nos Estados Unidos. Afinal, o cenário era precário.

Em muitas fábricas, mulheres não eram autorizadas a ir ao banheiro, com a justificativa de que prejudicariam o ritmo de produção. Sendo assim, as portas permaneciam trancadas durante toda a jornada de trabalho.  A busca pelos direitos trabalhistas, que lhes eram negados, materializava-se em manifestações por melhores condições de trabalho. 

Mas mesmo no século XIX, já havia movimentos de mulheres que lutavam por direitos, como o sufrágio universal e o direito à educação. O que desencadeou, então, a criação do 8 de março como um dia de unificação de lutas das mulheres?

A origem do dia internacional das mulheres

Clara Zetkin em 1920. A socióloga foi uma das responsáveis pelo início de manifestações pelos direitos das mulheres pelo mundo. (Reprodução Wikipedia)

A luta pelos direitos das mulheres intensificou-se com movimentos socialistas idealizados e sugeridos por mulheres como a professora e jornalista alemã Clara Zetkin.

Em 1910, ela propôs, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, uma onda de manifestações por melhores condições de trabalho.

À época, já ocorriam manifestações  em massa nos Estados Unidos e, principalmente, na Europa. Uma das maiores ocorreu em 1909, em Nova York, e reuniu cerca de 15 mil mulheres cuja jornada de trabalho chegava a 16 horas diárias, 6 dias por semana.

Em 1917, um acontecimento marcou o 8 de março e transformou a data no que ela representa até os dias de hoje: Um grupo de mulheres operárias saiu às ruas para manifestar contra a fome e a  Primeira Guerra Mundial (1914-1918), movimento que seria um marco para o início da Revolução Russa. Após a revolução bolchevique, os soviéticos oficializaram a data como celebração da “mulher heroica e trabalhadora”.

A história, portanto, tem bem pouco a ver com flores, bombons e presentes, e está relacionada às batalhas das mulheres por igualdade e equidade.

Ressignificação do Dia Internacional da Mulher

“Os direitos das mulheres são direitos humanos” / Imagem meramente ilustrativa

O Dia Internacional da Mulher como o conhecemos hoje foi oficializado em 1975, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu as lutas políticas e sociais feitas pelas mulheres. De lá pra cá, o 8 de março passou por transformações e ganhou força. Se antes a luta das mulheres era por melhores condições no ambiente de trabalho, hoje, aborda situações mais amplas das nossas vidas.

O Dia Internacional da Mulher passou a servir como inspiração para reivindicações de movimentos sociais, como o movimento feminista, a discussão sobre a maternidade e o empoderamento da mulher em relação às decisões sobre seu próprio corpo, dentre outros.

Desde 1909, a persistência da mulher em conquistar sua  independência tem causado mudanças fundamentais nas sociedades, desconstruindo as relações historicamente estabelecidas sobre o “ser mulher”.

Panorama dos direitos das mulheres

  • Direito ao voto: oficializado em 1932 no Brasil, mesmo período em que a mulher também conseguiu o direito de ser eleita para cargos no executivo e legislativo.
  • Direito de ser dona de si e suas escolhas: em 1962 surge o Estatuto da Mulher Casada. O homem deixa de ser o líder da relação, e a mulher torna-se economicamente ativa sem precisar da permissão do marido.
  • Direito à vida: com a lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, os crimes de violência contra a mulher passaram a ser intolerados judicialmente.

Lutas reverberadas em hashtags

Atualmente, o uso ubíquo da  internet colabora para a popularização de movimentos feministas e possibilita que pessoas diversas, em diferentes lugares do mundo, tomem conhecimento sobre o que são os movimentos e quais seus objetivos.

Além disso, mobilizações em mídias sociais têm contribuído para dar visibilidade a denúncias que por muito tempo ficaram escondidas em função de disputas de poder. Um exemplo é o movimento #MeToo, iniciado em 2017, quando a atriz Alyssa Milano pediu na mídia social Twitter para que todas as pessoas que já sofreram algum tipo de abuso e/ou assédio sexual escrevesse a frase Me Too ao compartilhar suas histórias.

O termo viralizou e diversas celebridades passaram a relatar casos de abuso sofridos ao longo da carreira. Muitas mulheres saíram do anonimato e relataram seus episódios como vítimas de assédio:

Tweet publicado em 2017 pela atriz Alyssa Milano

A força do movimento fez com que homens poderosos, como o produtor Harvey Weinstein, fossem julgados a partir de denúncias de assédio.

A forma como o movimento cresceu e recebeu apoio de milhares de pessoas demonstra como movimentos do início do século XIX foram fundamentais para a construção da identidade das mulheres em sua luta por direitos, sem aceitar que suas vozes sejam caladas.

Maria Cecília Basílio

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