Por Marcos Vinícius Correia de Oliveira, Sofia de Campos Marinho Diniz e Yuri Hermann Soares Viana Costa
O que fazer quando se perde alguém que se ama? Bom, se você for tão poderoso quanto Wanda Maximoff, pode ser que a resposta para essa pergunta seja simples: trazê-la de volta à vida. Se, por um lado, esse possa ser o sonho de muitas pessoas, por outro, havemos de certificar que não há nada de simples nessa situação. “WandaVision” é retrato disso. A dor do luto que permeia as decisões de Wanda (Elizabeth Olsen) resulta em ações extremas, desde reviver o marido sintezóide (Paul Bettany), morto no longa-metragem “Guerra Infinita” (2018), até criar o que chamaram de “Hex” em volta de uma cidade inteira, alterando a realidade e a vida daqueles que ali moravam ao seu bel-prazer.
Se “WandaVision” volta no tempo e passeia pelas décadas de 50 até os dias atuais, isso se deve não só à manifestação desse poder de alterar a realidade, mas, sobretudo, ao desejo da personagem de viver uma vida tranquila ao lado de Visão, ter filhos com ele – apesar de ser praticamente impossível – e se sentir parte de uma família novamente. A vida comum que fora negada a Wanda desde sempre, a começar pelos pais mortos em um bombardeio quando ela ainda era criança, depois por seu irmão morto durante uma batalha em “Vingadores: Era de Ultron” (2015), e, por fim, a perda traumática de Visão, colocam Wanda no centro do que ela mesma definiu como uma maré de catástrofe, como ondas que nunca a deixam se levantar.
O “Hex”, que coloca os habitantes da cidade em um estado de transe, é a materialização da dor irremediável do luto. Wanda controla tudo e todos na tentativa de proteger aqueles que ama e se proteger da dor da perda. Se a personagem passa de heroína à vilã, não é possível afirmar. O que se pode dizer sobre Wanda é que o luto guia suas ações em uma jornada emocional que a faz reviver traumas e lembranças do passado para se reerguer e seguir em frente no presente.
Essa jornada de superação e transformação dão a Wanda o tardio, porém muito merecido, protagonismo. O universo cinematográfico da Marvel é conhecido pelo seu descaso com personagens femininas desde 2008, com o primeiro filme do Homem de Ferro. Não que essas personagens não possuíssem arcos relevantes para a narrativa dos filmes, mas, infelizmente, em sua maioria, se tornavam plots de desenvolvimento para outros personagens homens com um interesse romântico (a exemplo de: Peggy Carter para Steve Rogers, Jane Foster para Thor, Pepper Potts para Tony Stark, entre outros…). É claro que essas personagens citadas ganharam imensa credibilidade dentro dos filmes e outras surgiram dentro do diverso universo compartilhado. É por isso que a estreia de “Capitã Marvel” (2019) promete, mesmo que presunçosamente, uma nova “fase” para as mulheres nesse cenário, uma vez que grande parte das heroínas que já marcavam presença há muito tempo na cinematografia poderiam finalmente receber tal honraria.
E melhor que um filme solo, só mesmo uma série de nove episódios. Wanda Maximoff, a Feiticeira Escarlate, finalmente recebe a atenção merecida nessa série. Em “WandaVision”, a personagem, que muitas vezes já havia provado o seu valor em meio a equipe dos Vingadores, recebe um dos melhores desenvolvimentos de personagem dentro do universo: o luto e o poder trabalham lado a lado para exemplificar a complexidade de uma heroína. A beleza de “WandaVision” é que, apesar de tratar de uma personagem guiada por sentimentos intensos como amor romântico e maternal, não cai na mesmice machista de uma mulher extremamente poderosa incapaz de controlar os seus poderes ou que é controlada por alguém ou até mesmo que é simplesmente louca. É por isso que o crescimento da personagem dentro da narrativa torna-se fundamental para corroborar as suas motivações e ações precipitadas movidas pela emoção e, assim, Wanda Maximoff torna-se uma das personagens femininas mais bem escritas e aproveitadas dentro do universo cinematográfico da Marvel (até o momento).
WandaVision – 1 temporada (Estados Unidos, 2021). Disney+.
Direção: Matt Shakman,
Roteiro: Jac Schaeffer, Gretchen Enders, Megan McDonnell, Bobak Esfarjani, Peter Cameron, Mackenzie Dohr, Chuck Hayward, Cameron Squires, Laura Donney, Jac Schaeffer.
Elenco: Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Kathryn Hahn, Teyonah Parris, Kat Dennings, Randall Park, Debra Jo Rupp, Evan Peters, Fred Melamed, Jolene Purdy, Emma Caulfield, Josh Stamberg, Jett Klyne, Julian Hilliard, Asif Ali, Zac Henry, Alan Heckner, Selena Anduze.
Duração: 9 episódios que variam entre 20 min a 50 min.
Trabalho produzido para a disciplina Análise e Crítica de Filmes, do curso Cinema e Audiovisual.