Um brinde ao presente. Amor e Sorte surpreende com linguagem simples e criatividade na produção

Fernanda Montenegro e Fernanda Torres gravam ‘Amor e Sorte’ no sítio da família.
Foto: Globo/ Andrucha Waddington

Por Ana Flávia Barbosa; Nicolle Gonçalves; Pamella Tomich; Rebeca de Castro.

A gente nunca se livra do agora. Pode até se livrar do que foi, procurar esquecer e ressignificar. Podemos também tentar criar artimanhas para evitar o futuro, mas para o agora, não há fuga. Amor e Sorte, série de tevê exibida às terças-feiras pela Rede Globo no período de 8 a 29 de setembro, brinda o agora. Os episódios de, em média, 30 minutos contam histórias e desafios de pessoas que passaram a quarentena juntas, confinadas.

O elenco é formado por alguns atores e atrizes aclamados da emissora, sendo os personagens principais interpretados por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres (Lúcia e Gilda), Taís Araújo e Lázaro Ramos (Linha de Raciocínio), Emílio Dantas e Fabiula Nascimento (Territórios) e Caio Blat e Luisa Arraes (A Beleza Salvará o Mundo). O ponto alto da série, que faz com que ela se diferencie das demais que têm como pano de fundo a pandemia do coronavírus — como Sob Pressão, outra série exibida pela Rede Globo —, é que os atores e atrizes que contracenam juntos já possuíam algum tipo de vínculo afetivo fora das telas (mãe e filha, marido e esposa, namorados) e gravaram os episódios por conta própria, em suas casas. 

Com as medidas de isolamento social, as gravações nos estúdios foram suspensas. Assim, para gravar as cenas de Amor e Sorte, os atores e atrizes receberam, por meio de videochamadas, auxílio técnico da equipe da emissora e aprenderam sobre ângulos, luz e o que mais precisassem saber para gravar de forma autônoma. O final de cada episódio traz um pedacinho dos bastidores, mostrando o elenco aprendendo a mexer nas câmeras e comentando sobre a experiência.

Luísa Arraes e Caio Blat em “A Beleza que Salvará o Mundo”, último episódio de Amor e Sorte – Foto: Reprodução/Gshow (Globo/ Sergio Zalis)

No primeiro episódio, Lúcia e Gilda, a equipe de gravação foi formada pelos netos de Fernanda Montenegro, que se deslocaram para a casa na serra da família, cenário onde ocorreram as gravações. Já nos outros episódios, muitas das conversas eram filmadas pelos próprios atores, o que fez com que dialogassem frequentemente com a própria câmera. Em outras cenas, um tripé foi posicionado em um local estratégico para captar as atuações. Em relação ao enredo, há muitos pontos abordados na série que causam a identificação do público. No episódio Lúcia e Gilda, há o cuidado extremo da filha em relação à pandemia. Já dona Gilda, teimosa e com sede por viver sem repressões, vê os cuidados da filha como exagerados e não deixa de fumar ou de ir para a praia com os amigos. Motivos que fizeram com que Lúcia a levasse, à força, para passar a quarentena em um local afastado e sem aglomerações. Ao longo do episódio, torna-se nítida uma questão muito discutida atualmente: o isolamento acabou por aproximar mãe e filha, que moram em estados diferentes, e a casa na serra se tornou um local de reconexão e reencontro.

Na segunda semana, Linha de Raciocínio conta o drama de Tábata e Cadu, casal que, em uma de suas crises, reflete sobre os dilemas que envolvem o casamento. O que começou com uma discussão sobre bater panelas e se posicionar politicamente, se transforma em uma reflexão sobre o amor, a manutenção do romantismo, os sentidos e as ambições de seus caminhos em conjunto. Os protagonistas dão vida a uma situação que foi comum entre casais na quarentena: a dificuldade de preservar a relação imersos em uma montanha-russa de emoções e em um confinamento sem previsão para acabar. Tábata e Cadu brigam, choram, discutem, riem, zombam um do outro e entendem o que é viver o agora. 

O terceiro episódio, intitulado Territórios, conta a história do casal Clara e Francisco, que tinham acabado de decidir que iam se divorciar quando a pandemia os forçou a passar dez dias juntos. Clara estava com suspeita de coronavírus e o casal foi obrigado a esperar o resultado do exame. O cotidiano é retratado, nas primeiras cenas, pela constante implicância um com o outro. Ambos chateados com a separação, mas tentando ao máximo não dar o braço a torcer. Atitudes simples e cotidianas das quais os dois sentiam falta vão revivendo o sentimento, que estava escondido pela correria da vida profissional que afetou o casamento. De forma leve e engraçada, o episódio reflete a importância de dar atenção às pessoas que se têm no dia a dia.

No último episódio, A beleza salvará o mundo, o engenheiro químico e cineasta amador, Manoel e a atriz Teresa, que tinham acabado de se conhecer, passariam apenas um final de semana juntos na casa dela, quando descobriram que teriam que cumprir a quarentena juntos. Manoel aproveita a oportunidade para terminar seu filme sobre “uma mulher forte, independente, em constante transformação, que luta contra os maiores temas da humanidade, o amor e a morte”, interpretada por Teresa.

Além da criatividade presente em cada episódio, a trilha sonora tem um papel essencial na composição de Amor e Sorte. Logo na abertura, ouvimos Gilberto Gil e sua família interpretando “Parabolicamará”, e todos os episódios são marcados por regravações de 11 canções memoráveis do artista, com melodias que colocam as letras em primeiro plano e realmente puxam o telespectador para a cena. Diversos nomes da música brasileira foram reunidos nesta produção: Sandy e Lucas Lima, em “Estrela”; Lucy Alves, com “Andar com Fé”; Liniker, cantando “Barato Total”; Elza Soares e Renegado, em “Divino Maravilhoso”; Milton Nascimento e Amaro Freitas, em “Drão”; Céu e Pupilo, com “Aqui e Agora”; Anavitória, com “Retiros Espirituais”; Pitty, em “Questão de Ordem”; Teago Oliveira, com “Esotérico”; Rubel, em “Palco” e Silva, com “A Coisa Mais Linda”.

Para completar a homenagem ao cantor, no dia 21 de outubro, o especial musical “Amor e Sorte com Gilberto Gil” foi disponibilizado no Globoplay e está aberto para não assinantes. Nele, Gil conta a história de suas composições e responde questões feitas pelos músicos convidados; também podemos assistir à performance de algumas dessas releituras. Em entrevista ao Gshow, o diretor Jorge Furtado explica que “Amor e Sorte foi feita para falar sobre o aqui e o agora. E para cantar o aqui e agora, ninguém melhor que Gilberto Gil”.

A trilha sonora homenageia a carreira de Gilberto Gil – Foto: Reprodução/Gshow (Multishow/Juliana Coutinho)

FICHA TÉCNICA

Amor e Sorte – 1 Temporada (Brasil, 2020)

Autor: Jorge Furtado

Direção: Patrícia Pedrosa, Andrucha Waddington, Ricardo Spencer

Roteiro: Jorge Furtado, Fernanda Torres, Alexandre Machado, Caio Blat, Luísa Arraes, Antônio Prata, Chico Mattoso, Adriana Falcão, Jô Abdu

Elenco: Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Luísa Arraes, Caio Blat, Fabíula Nascimento, Emílio Dantas.

Duração: 4 episódios de 20 a 40 minutos cada.

Trabalho produzido para a disciplina de Jornalismo Cultural do 8° período do curso de Jornalismo do Coração Eucarístico.

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