Por Ana Luiza Coelho Rocha, Tainara Batista Calassa e Vitória Muniz Ferreira.
Diferentemente de algumas séries teen, Sex Education é repleta de representatividade, e isso faz com que os seus espectadores se identifiquem com as personagens e se reconheçam na obra audiovisual.
Os personagens da série têm diversas questões e problemas comuns de jovens da atualidade, tais como: a descoberta de sua orientação sexual, do seu próprio corpo e dos desejos sexuais. Algumas das representatividades da série incluem personagens gays, assexuais, lésbicas, pansexuais, bissexuais. Além disso, pavores comuns de jovens que estão começando uma vida sexual são retratados: a vergonha do próprio corpo (querendo assim ter relações sexuais de luz apagada), não conhecer seu corpo e o prazer, o vício em masturbação, dificuldades na hora do sexo, entre outras.
Por mais que a série fale mais sobre educação sexual, outros temas relevantes como bullying, pressão ou abandono dos pais, personagens negros, traumas de infância, deficientes físicos, entre outros, também são tratados.
Ademais, a série apresenta o sexo de maneira diferente. Durante muito tempo, a indústria cinematográfica abordou o sexo pela perspectiva masculina, construindo um imaginário de mulheres “sexy”, que por vezes apareciam quase nuas em cena, despertando o desejo de rapazes. Exemplo disso é o filme American Pie, dirigido por Paul Weitz. A saga conta a história de adolescentes que estão entrando na vida universitária e ao mesmo tempo iniciando sua vida sexual. No entanto, não percebemos nenhuma questão mais aprofundada sendo discutida. A jornada dos personagens e seus conflitos estão todos na insegurança do desconhecido.
Sex Education trabalha o mesmo tema, entretanto sob nova perspectiva, englobando questões sociais, emocionais, psicológicas e, por fim, biológicas do sexo. Além das inseguranças acerca da iniciação sexual, a série tenta englobar tudo que perpassa na construção da nossa sexualidade e por vez no desejo. Aborda o tema com mais sensibilidade e com a responsabilidade que ele merece, já que, ainda existe muito tabu mesmo depois de tantos avanços, como os do feminismo e da luta LGBTqia+, por exemplo.
Além disso, a série desconstrói diversos tipos, como o de Otis, que seria o tradicional nerd da escola, mas que não passa por situações de bullying e nem “sobe” na hierarquia de seu colégio, tradicionalmente representando no meio americano. Do mesmo modo, o melhor amigo de Otis, Eric Effiong, é negro e gay, mas tem um arco narrativo que vai além de sua amizade e da sua cor. Com interesses em tocar na banda da escola e em se tornar popular, o jovem é um personagem independente, e que, apesar do tipo que representa, consegue fugir do comum. Ademais, outra personagem fascinante é Maeve Wiley. Rude e confiante, ela representa as mulheres fortes. A estudante tenta melhorar como pessoa, já que, o histórico de drogas da família e a sua atual situação financeira a deixaram com medo de julgamentos. Por isso, ela gradualmente vai se abrindo e se mostrando gentil e generosa, fugindo da ideia de ser puramente má. Sex Education foge do padrão, mostrando que tipos cinematográficos e sociais, cenas de sexo e representatividade são possíveis e necessários, mas precisam de ser reproduzidos com respeito.
Sex Education – 2 Temporada (Reino Unido, 2019). Netflix.
Direção: Ben Taylor, Alice Seabright e Sophie Goodhart. Jamie Campbel e Laurie Nunn.
Roteiro: Laurie Nunn, Sophie Goodhart, Bisha K. Ali, Laura Hunter, Laura Neal e Freddy Syborn
Elenco: Asa Butterfield, Emma Mackey, Ncuti Gatwa, Connor Swindells, Kedar Williams-Stirling e Gillian Anderson.
Duração: 16 episódios com cerca de 50 min.
Trabalho produzido para a disciplina Análise e Crítica de Filmes, do curso Cinema e Audiovisual.