Por Juliana Gusman.
No segundo dia da Jornada das Utopias, os debates começaram na rima da palavra cantada. A potente voz de Azzula, importante artista da cena cultural LGBTQI+ de Belo Horizonte, tomou conta do Teatro do Prédio 30 da PUC Minas e transbordou pela garganta toda a força política de seu corpo preto e travesti. Acompanhada do violonista André Resende, se inspirou em Cássia Eller para criticar aquilo que a sociedade não gosta, exaltou as amarras rompidas pela Dandara de Bia Nogueira e vocalizou em composições de sua autoria outras formas de existir no mundo.
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Azulla e André Resende. Fotografia de Isaque Henrique / LabFoto.
Apesar da especificidade de cada linguagem, a conferência que sucedeu a apresentação da cantora trouxe para cena problemáticas semelhantes. Franklin Martins, jornalista e ex-ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, falou sobre a urgência de pensarmos outras formas de fazer jornalismo no Brasil. Assim como Azzula, se preocupa, a seu modo, com a pluralidade das vozes, ou a falta delas, que influem nas principais questões que concernem o nosso tempo. Refletiu, em sua fala, sobre a importância da liberdade de imprensa e, sobretudo, sobre a necessidade de democratizar essa liberdade de dizer. Aliás, a democracia tem que ser, para ele, o maior foco de nossas ações políticas. Para isso, torna-se fundamental enfrentar oligopólios midiáticos que monopolizam interpretações do mundo a partir de interesses de determinados grupos, de fato pouco comprometidos com um futuro de justiça social.
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Franklin Martins e o professor Ercio Sena. Fotografia de Isaque Henrique / LabFoto.
Contra monopólios insurge, também, a combativa figura de Juliana Antunes, diretora de Baronesa, filme premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes em 2017. Após a exibição do longa no lotado auditório do prédio 43, o debate foi além de sua obra: a cineasta afirmou sua luta contra as desigualdades de gênero entranhadas em seu campo de trabalho. Denunciou a misoginia, o racismo e a lgbtfobia que poda oportunidades e constrange a persistência das minorias sociais. Felizmente, a teimosia de Antunes é maior do que a insistência da opressão: se as normas a constrangem, propõe o ironicamente óbvio: que se trabalhe, incansavelmente a e a despeito dos riscos, fora delas. Como já dizia o próprio Franklin Martins: “ Se for para errar, que seja lutando”.
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Juliana Antunes. Fotografia de Letícia Mattos / LabFoto.
A Jornada continua.
Juliana Gusman é graduada no curso de jornalismo da PUC Minas. É membro do grupo de pesquisa Mídia e Narrativa e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.