POR: Maria Luiza Sant’Ana Guidugli
Existem oportunidades que são únicas na vida e na quarta-feira, dia 29 de novembro, nós, alunos de Cinema e Audiovisual da FCA (Faculdade de Comunicação e Artes), vivenciamos um desses momentos. Como parte da programação da 3ª Semana de Cinema, organizada pelo CEIS (Centro de Experimentação de Imagem e Som), recebemos o cineasta João Moreira Salles, um dos mais importantes documentaristas de nosso país.
Nos dois dias anteriores, foram exibidos dois documentários do diretor seguidos de debates que enriqueceram ainda mais suas obras: Santiago (2007), sobre o mordomo de sua casa quando era criança, e No Intenso Agora (2017), sobre conflitos políticos ao redor do mundo na década de 1960. Ambos foram comentados durante a palestra, rendendo perguntas interessantes por parte do público e respostas enriquecedoras do diretor.
É muito valioso poder ouvir, ao vivo, as opiniões, as histórias, os conselhos e a experiência de um dos grandes profissionais do audiovisual brasileiro. João (como pediu para ser chamado, sem formalidades) nos deu uma verdadeira aula sobre o que é o documentário e sua função artística e social. Em suas palavras, o documentário permite dizer coisas novas sobre um assunto, são como “aulas ilustradas”. Ao falar de um de seus trabalhos recentes, um documentário que fez com uma comunidade indígena de Roraima, João nos trouxe a reflexão sobre a diferença de representar e ser representante de uma história, frase que ouviu durante a produção do filme. As experiências de quem está atrás da câmera e diante dela são muito contrastantes e o documentário permite que essas diferentes experiências sejam traduzidas para as telas. Documentarista e personagem podem se complementar.
Além da troca de experiências, o tempo também é algo muito importante no processo criativo. Santiago precisou de treze anos para amadurecer, assim como João. “O tempo trabalha ao nosso favor”, ele nos disse. Precisamos desse tempo para fazer, falhar, refazer e, então, chegar aonde queremos. O Cinema é sobre tempo, e precisa dele. João fala com muito carinho sobre Eduardo Coutinho, que foi seu amigo e também o maior documentarista brasileiro. Coutinho dizia: “Existem vitórias medíocres e fracassos gloriosos”. Estamos em constante aprendizado.
A palestra de João e seus documentários exibidos nos fizeram pensar sobre o Cinema, sobre nosso país, sobre o mundo e sobre a vida. Foi um momento que, tenho certeza, será lembrado com muito carinho por todas as pessoas que estavam presentes no auditório.
Belo texto. Mostra o envolvimento e o encantamento da autora, pelo assunto e pelo documentarísta.