Entre a narração e a visualização: uma crítica ao filme “A Incrível História de Henry Sugar” de Wes Anderson

Por: Isabela França Prates

“A Incrível História de Henry Sugar” é um filme lançado em setembro de 2023 com duração de 39 minutos e atualmente disponível na Netflix. Essa obra cativa o expectador com sua abordagem peculiar e narrativa única. Além disso, a direção do filme foi feita por Wes Anderson, conhecido por sua estilística própria e narrativas marcantes. Assim, esse filme oferece uma visão envolvente e surreal sobre a vida de Henry Sugar.

Esse filme foi o primeiro de quatro filmes produzidos por Wes Anderson lançados pela Netflix. Ou seja, foi uma acordo estabelecido entre o diretor e a Netflix resultando na produção dessa série de filmes curtos que estreiam, respectivamente, na seguinte sequência: “A Incrível História de Henry Sugar”, “O Cisne”, “O Caçador de Ratos” “Veneno”. Todos esses curtas lançados por Anderson se baseiam em contos de Roald Dahl. Essas produções marcam um retorno do cineasta ao universo literário do autor infanto-juvenil britânico Dahl, parceria que foi inaugurada em 2009 com o filme “O Fantástico Sr. Raposo”. Essa colaboração permitiu ao diretor não apenas experimentar narrativas mais curtas e variadas, mas também oferecer uma coletânea diversificada e única de suas obras para os assinantes da plataforma de streaming. A inclusão destes filmes na Netflix expandiu a acessibilidade das criações do cineasta, proporcionando aos espectadores a oportunidade de mergulhar em seu mundo cinematográfico característico e, isso tudo, dentro de um ambiente digital de fácil acesso.

A narrativa segue a vida de Henry, um homem rico que, ao ler um livro de forma despretensiosa, descobriu a incrível capacidade de enxergar sem o uso dos olhos. Com esse dom extraordinário, Henry mergulha em uma jornada de autodescoberta e transformação. Então, o filme retrata a busca dele por significado e propósito, explorando temas de superação, busca interior e a descoberta das possibilidades ilimitadas do potencial humano. O filme convida os espectadores a imergir em um mundo cativante, permeado por reflexões profundas sobre a natureza da existência  e das próprias capacidades latentes.

O principal diferencial dessa produção é a habilidade de Anderson em criar mundos visualmente ricos. Sua estética meticulosa e paleta de cores vibrantes se combinam para criar uma atmosfera hipnotizante, incluindo o espectador na jornada emocional de Henry. Assim, o reconhecimento que a produção audiovisual faz de simplicidade é perceptível. Essa sinceridade do filme dá a ele uma impressão de ser uma historia contada. O diretor é reconhecido por sua capacidade de transformar elementos mundanos em momentos extraordinários, e “A Incrível História de Henry Sugar” não foge à regra. Nele a fantasia e a realidade se entrelaçam de maneira intrigante.

Em “A Incrível História de Henry Sugar”, Benedict Cumberbatch oferece uma atuação envolvente, dando vida ao protagonista Henry de maneira cativante e emocionalmente rica. Sua habilidade em transmitir a jornada de autodescoberta do personagem é notável, contribuindo para a profundidade e ressonância da história. Além disso, Dev Patel, um ator que já se faz quase que obrigatório nas obras de Anderson, entrega uma performance marcante como parte do elenco de apoio, enriquecendo a narrativa com sua presença carismática e sua capacidade de dar vida a personagens cativantes que complementam a jornada extraordinária de Henry.

Para os amantes de cinema do diretor e da abordagem não convencional, este filme é uma jornada fascinante. Porém, apesar dessa estrutura descontraída ser condizente com o estilo característico de Anderson, tal escolha pode não agradar a todos os gostos, por ser um tanto quanto fragmentada. Sendo assim, a obra exige um esforço para apreciar plenamente a experiência, o que pode ser desafiador para um público leigo.

Outro aspecto que pode dividir opiniões sobre “A Incrível História de Henry Sugar” é a tendência do filme em se assemelhar a um áudio livro visualmente ilustrado. As cenas muitas vezes parecem estar servindo apenas como uma representação literal do que está sendo narrado, o que pode gerar uma experiência menos cinematográfica e mais próxima de uma narrativa oral acompanhada por imagens. Essa abordagem pode desafiar a expectativa de parte do público, já que o cinema frequentemente explora a visualização criativa e a interpretação imagética da história, indo além da simples representação dos acontecimentos narrados. Na obra, a conexão direta entre o que é dito e o que é mostrado pode limitar a liberdade interpretativa do espectador e reduzir a complexidade visual que muitos esperam encontrar no cinema de Wes Anderson, deixando de explorar completamente o potencial da linguagem cinematográfica para transmitir emoções e significados de maneiras não verbais.

Em suma, a obra é muito boa e merece ser destacada como um filme obrigatório, não só para os fãs do diretor, como para todos que se interessem por um cinema excepcional. Assim, mesmo tendo algumas questões que poderiam entrar em conflito com a convenção cinematográfica, como uma certa restrição perante a liberdade interpretativa e uma linearidade sobreposta, o filme segue apresentado uma narrativa ímpar e profunda, merecendo, portanto, ser exaltada e parabenizada.

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