Por Frederico Brade Teixeira; João Scarano Guerra; Juan Chaves; Lacir Gomes Feital Junior; Leticia Santos Gois; Lucas Braga Teixeira Raposo da Cunha.
Nos últimos anos, em Belo Horizonte, observamos a ascensão de um fenômeno na música brasileira. De voz gritante e rimas que carregam o peso de uma dura realidade, Djonga trabalha em sua obra, desde o início da carreira, temáticas direcionadas a questões raciais e grupos marginalizados. No dia 16 de março de 2020, lançou seu quarto álbum de estúdio: Histórias da minha área. Com reconhecimento e fama por todo solo nacional, o rapper, no mainstream da mídia, dita tendências na música. Assume, mais do que nunca, sua verdadeira intenção como artista, afirmando suas raízes. Dessa forma, seu sucesso reverbera em todos aqueles que compartilham a realidade periférica, subalternizados por um sistema racista.
Em Histórias da minha área, Djonga não só busca afirmar quem ele de fato é, mas busca falar para/por quem ele é porta-voz. O artista discorre, principalmente, sobre onde veio, diretamente ou não. Ao dominar as plataformas digitais, alcançando diversos nichos da sociedade brasileira, este artista potencializa seu discurso, que, por vezes, soa como segundo plano para a classe alta, que o ignora ideologicamente enquanto se entretém com seu ritmo.
Através de sua possível capa mais emblemática, na qual aparece posando junto aos corpos baleados de seus companheiros, Djonga expõe sua preocupação em dialogar com o futuro, abordando o trágico presente. O enunciado da imagem anuncia a preocupação que se manifesta em música: o extermínio da população negra moradora de favela.
Djonga se integra à cultura Hip Hop, que tem a característica marcante de dialogar íntima e profundamente com a comunidade que a envolve. O ritmo musical rap, um de seus pilares, possui um forte caráter de denúncia e conscientização. Assim, o trabalho de Djonga é bastante incisivo, abordando relevantes questões sociais e denunciando estereótipos que afligem grupos racializados. Em Histórias da minha Área, o rapper privilegia uma representação intimista, mas que dialoga diretamente com processos socioculturais, buscando formar e informar criticamente sua audiência. O álbum ultrapassa o sentido de entretenimento e funciona prioritariamente como meio de transmissão de uma herança social. É uma obra que dialoga com o futuro, denunciando os problemas repetitivos da atualidade. Cumpre o papel de integração social, fazendo um uso da mídia para além do objetivo comercial, politizando-a.
Histórias da minha Área fala sobre o descaso com a pobreza, da falta de saneamento básico, da precariedade da educação e – muitas vezes uma opção alternativa para fonte de renda – da criminalidade. Em meio à fome, à dor da perda de familiares ou à luta diária enfrentada por pessoas em situação de baixa renda, alimenta-se a revolta. Djonga mostra que seu povo não é alienado, passivo diante da realidade que o aflige. É, inclusive, essa precariedade que o formou como artista. Porém, o artista não ignora o fato de sua trajetória ser uma exceção; por isso, reconhece sua obrigação social de empoderar, como pode, o cidadão periférico, muitas vezes desumanizados em outros discursos. Não custa lembrar que a morte de corpos negros é, frequentemente, noticiada em números. Sujeitos tornam-se estatísticas. Não há nomes, tampouco luto social. Djonga busca recuperar essas vidas perdidas ao criar um enunciado coletivo, revigorando a potência de possíveis significados e ações que estão, como constatação de uma emergência, no álbum as Histórias da minha área.
Os alunos são graduandos do 4° período do curso de Cinema e Audiovisual da PUC Minas.