POR: Rafaela Freitas Mendes
O filme documental Lavra traz uma proposta interessante ao retratar as tragédias dos rompimentos das barragens da Vale em Minas Gerais. Trazendo uma narração da protagonista, o voiceover está presente durante todo o longa, tornando-a mais humana fazendo com que o telespectador consiga se conectar a ela ao longo do filme e entender a
tragédia pelo olhar de alguém que nasceu no Brasil.
Os relatos trazem a humanidade pela forma com que são contadas as tragédias das barragens, levando o cotidiano de pessoas que moravam nos locais do acidente e até mesmo de pessoas que possam vir a ser futuras vítimas de barragens com grandes riscos de romperem, mostrando uma realidade que somente essas pessoas conhecem e
conheceram com a negligência da própria empresa para com vidas humanas que cercam os arredores das mineradoras.
O longa consegue contemplar vários tipos de moradores, desde pessoas comuns do campo até indígenas. Propondo uma visão sobre essa realidade e importância da terra e dos impactos ambientais provocados pela mineração. O filme deixa claro a importância do local, da história daquele povo e do crime que foi cometido contra todos os moradores, fauna e flora pela ação constante da mineração.
Apesar de ter uma narrativa fluida com relatos verdadeiros de várias pessoas que foram afetadas pela tragédia e que ainda seguem lidando com o impacto negativo que a Vale causa nos locais de exploração. O documentário tem uma atriz interpretando uma personagem fictícia, que refaz o trajeto de histórias vividas a partir do rompimento das barragens. No filme se retoma narrativas que fazem reviver momentos desconfortáveis, como a cena em que há a recriação da fuga quando houve o rompimento da barragem em Brumadinho. Nele se remonta toda alegoria de sirenes tocando e o caminho da fuga sendo refeito por vítimas dessa tragédia e a personagem principal.
Estas cenas devem gerar desagrados por envolver pessoas que enfrentaram essas tragédias. Talvez, apenas o relato delas fosse o bastante para rememorar aqueles momentos trágicos. Apesar de a personagem conseguir uma boa conexão do telespectador, é um pouco frustrante saber que havia várias pessoas que viveram a tragédia entre os
participantes e eles mesmos poderiam protagonizar a história. Nesse sentido, o longa deixar a desejar quando se analisa sua investida no campo do realismo. Fora isso, o filme consegue trazer, com destacada aceitação da crítica, o relato dos impactos negativos da atuação da Vale para o povo mineiro.