POR: Camila Freesz
“Os anos 3000 eram feitos de lixo (Chorumex)”, de 2016, retrata uma narrativa de ficção científica, na qual, como é apresentado logo na abertura pelos escritos, em um mundo pós-apocalíptico, ciborgues criminosos são procurados por uma espiã do governo.
Imediatamente, ao iniciar pela trilha sonora desconfortante, cria-se uma sensação incômoda, que opera tanto a favor da ambientação – elaborando a concepção retro futurista do ecossistema construído pelo curta – quanto a favor da história – servindo de apoio ao cunho social do roteiro. Tal sonoridade é criada, em geral, a partir de sonidos miméticos que se associam ao âmbito tecnológico como bips, ruídos de fitas cassetes rebobinando, chiados e zunidos, produzidos por máquinas e materiais artificiais. A título de exemplo, há o momento do videogame em que se utiliza do ‘chiptune’ adicionando à estética retrô dos fliperamas.
Em algumas cenas, como a apresentação do modo de produção dos ciborgues e o clímax do confronto da espiã com o grupo, o design de som é salientado pelo uso de música eletrônica que carrega consigo uma relação com a modernidade. Essa conexão constitui-se pelo uso de remixes e sintetizadores por esse gênero musical em conjunto com a estética dos personagens ciborgues. Além disso, percebe-se em parte do imaginário social uma associação deste estilo com o som psicodélico, em harmonia com a temática do vício em fitas e filmes trazida pelo roteiro do curta.
A obra não possui muitos momentos de diálogo, devido ao uso de escritos na tela. Entretanto, quando algum indivíduo do governo do Rio de Janeiro contacta a espiã e quando há voice-overs demonstrando a maneira com que aquela sociedade enxerga a comunidade dos ciborgues, a sonoridade é marcada pela distorção de tais vozes, na intencionalidade de mimetizar os depoimentos anônimos nos jornais atuais. Ocorre, também, o uso da voz feminina do Google Tradutor em uma cena que também se assemelha às reportagens brasileiras que retratam usuários de droga, que é reforçada pelo ícone da Rede Globo no canto inferior direito da tela.
Em suma, “Os anos 3000 eram feitos de lixo (Chorumex)” apropria-se da sonoplastia moderna, experimental e sintética para dar apoio ao roteiro e à sua crítica de maneira coesa e harmônica com a fotografia e a direção de arte do filme.
Curta-metragem disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=xyjngfT1Xl8