Por Júlia Horta.
O Centro de Crítica da Mídia conversou com Juliana Martins, atriz e professora de teatro, para entender a luta, a resistência, as complicações e reinvenções que as práticas teatrais estão enfrentando durante a pandemia. O questionamento principal que norteou a nossa conversa foi: como fazer para sobreviver no campo educacional e nos palcos a arte do encontro, do coletivo, do afeto e do toque, em tempos que temos que nos manter tão distante? Buscarmos refletir sobre as formas de sobrevivência do teatro ao longo deste ano atípico que enfrentamos; lembrar da importância de exaltar, divulgar, compartilhar e consumir os conteúdos criados por espaços culturais relativos ao teatro; e apontar as grandes dificuldades que acometem os artistas que precisam do público e do coletivo para seguir existindo.
Segundo Juliana, “existem pessoas que chegam na aula e dizem: ‘que bom esse encontro, está me salvando’. Pessoas que choram, é o momento da pessoa ser ela, falar sobre ela e se expressar. Isso é saúde, é tratamento para seguir em frente e se fortalecer.”. Para a atriz, as práticas teatrais têm uma importância fundamental, ainda que no ambiente online, para ajudar aqueles que procuram por esses espaços para continuar caminhando, se cuidando, preservando o psicológico e o físico. Mesmo diante dessa jornada imposta de solidão, medo e angústias, o teatro pode possibilitar pilares para que as pessoas se apoiem e continuem se conectando consigo e com o outro.
O galpão Cine Horto, escola de curso livre de teatro onde a entrevistada ministra aulas, encontrou na internet uma maneira de continuar existindo e lutando pelo teatro. Através de aplicativos para reuniões e aulas on-line, eles seguem desenvolvendo os trabalhos que antes eram feitos presencialmente. É claro que as dinâmicas para interagir e concentrar se alteram e novas experiências e exercícios podem surgir. “A gente teve que se reinventar no primeiro momento e ir descobrindo, tateando a partir da prática… Quando decidimos voltar, nós já tínhamos internamente preparado cabeça e coração para estar ali naquele novo modelo e falamos aos alunos que estávamos em um espaço de experimentação com eles e seria necessário caminhar juntos. Fomos adaptando e experimentando. Existem exercícios coletivos que não rolam, mas no individual e na percepção espacial do aluno começamos a descobrir outras relações e a presença no ambiente virtual.”, relata Juliana.
O Cine Horto não se contentou em estar ativo apenas para os alunos. Novos meios de compartilhar experiências com o público externo também foram encontrados. Partilhou-se um pouco do processo trabalhado nos cursos livres, mas também do teatro, mantendo a arte viva e resistente. Ainda, criou-se um canal no YouTube, que conta com quadros que apresentam poesias, relatos de lendas brasileiras, festival de cenas curtas, improvisações dos alunos, entre outros conteúdos. É como um grito de luta para continuar existindo em um contexto de desvalorização do trabalho de artistas, agravada pelas dificuldades impostas pela distância.
O cenário pandêmico que o mundo enfrenta, assim como o Brasil, afetou diversas áreas de trabalho, lazer e encontros. Entretanto, a cultura – que já vinha sendo atacada, desmoralizada e desvalorizada pelo governo conservador, de retrocessos e ignorância que dominou o país – adentrou ainda mais um espaço de desvalorização. Para Juliana, “está muito difícil para todo mundo. É um boicote do governo para com os artistas, é uma perseguição, vai fechando portas e dificultando a vida dos artistas. Aí surgiu a lei Aldir Blanc, então foi um respiro para alguns artistas. Mas segue muita gente parada, se esse governo não mudar, não sei o que vai acontecer, pois está uma loucura.”.
Juliana ressalta os sentimentos de angústia e de medo que cercam os artistas. A falta de valorização da classe artística é, para além de um problema pandêmico, fruto de uma ideologia política que busca formar ignorantes, impedindo a liberdade de expressão, o direito ao conhecimento e buscando destruir formas de arte que podem ajudar a sociedade a fomentar o pensamento crítico.
Neste momento que exige que todos fiquemos em casa, podemos refletir sobre a importância da arte e de quem a produz: neste cenário de reclusão, as pessoas muitas vezes só encontram um conforto, aconchego e até mesmo uma forma de lutar dentro da arte: seja nos filmes, em uma poesia, em um quadro ou em uma peça de teatro que encontramos no campo virtual. É necessário fortalecer e gritar pela vida dos artistas e da cultura.
Júlia Horta é graduanda do 3° período do curso de Cinema e Audiovisual pela PUC Minas.