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Descrição de imagem: ambiente de escritório, com computador aberto em uma tabela, uma tela a frente com pessoas na videochamada.

Plataformização do trabalho: um novo mercado que evidencia novas desigualdades sociais

Como empresas e trabalhadores estão se adaptando às mudanças que chegaram com a plataformização do trabalho e suas consequências. 

Descrição de imagem: mulher sentada, tomando café, mexendo no computador e anotando em um caderno.
Créditos: Reprodução/Flickr

A plataformização do trabalho é um novo mercado que evidencia novas desigualdades sociais. Neste contexto, as empresas e os trabalhadores estão se adaptando com as mudanças que chegaram junto a esse novo jeito de se trabalhar. E uma das novidades trazidas por esse mercado é o trabalho remoto. 

A modalidade de trabalho em casa, também conhecido home office, já é realidade para muitos profissionais de diversas áreas. Essa “novidade” chegou, e veio para ficar. Com o avanço mundial da pandemia da covid-19, entre os anos de 2020 e 2021, as mudanças começaram a fazer parte do comportamento empresarial. Contudo, engana-se quem pensa que o home office é algo tão novo assim, principalmente aqui no Brasil. 

O que é teletrabalho?

O teletrabalho surgiu oficialmente no Brasil em 1997 durante o Seminário Home Office/Telecommuting. Já em 1999 foi fundada a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (SOBRATI), em um momento no qual o acesso aos computadores começava a se popularizar no país. Mas somente em 2017, com a lei 13.467/17, que o trabalho remoto foi regulamentado no país. 

A partir disso, e com o avanço das tecnologias, surgiram novas formas de segmentos para trabalhadores. O home office evoluiu e passou a a englobar as plataformas online. Para que esse novo sistema seja bem-sucedido, se faz necessário a compreensão das vantagens e desvantagens existentes na plataformização do trabalho. De um lado, há a flexibilidade de organizar melhor o tempo, o aumento da qualidade de vida com a redução do estresse decorrente do trânsito, a otimização do tempo de trabalho e o conforto. Afinal, trabalhar de casa pode assegurar mais horas de sono, mais facilidade de iniciar o trabalho e mais momentos de descanso de qualidade. 

Por outro lado, alguns pontos que podem ser vistos como vantajosos podem também se transformar em desvantagens se mal administrados. O excesso da carga de trabalho, a indefinição da carga horária e a dificuldade em manter uma rotina, são exemplos de dificuldades enfrentadas por trabalhadores em regime remoto. Além disso, a diferença de velocidade na internet entre os colaboradores pode ser uma desvantagem do home office, pois alguns funcionários podem não ter acesso a conexões mais rápidas, além da falta de ferramentas adequadas para trabalhar de maneira bem-sucedida em casa, como cadeiras e acessórios ergonômicos

Todos esses pontos podem, ao mesmo tempo, ser facilitadores para algumas pessoas ou tornar o trabalho algo complexo para outras. Entre as vantagens e desvantagens da plataformização do trabalho, as pesquisas revelam que a população vem tentando se adaptar a essas mudanças e, consequentemente, novas formas de trabalho. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, cerca de 90% dos lares brasileiros, em 2021,  possuíam internet. Este resultado revela uma alta de seis pontos percentuais se comparado com o mesmo período de 2019, quando o índice era de 84%. 

Como as empresas incorporaram o teletrabalho plataformizado?

Esse cenário revela também que as empresas estão se ajustando para administrar tanta tecnologia. De acordo com Bárbara Stéfany, gestora de Recursos Humanos da Empresa Localiza, rede brasileira de lojas especializadas em aluguel de carro.

Chegar aos maiores talentos é também estar por dentro das novas tendências de recrutamento e seleção”, afirma.

Nesse sentido, a utilização de plataformas e softwares de recrutamento são essenciais no processo de seleção. 

Esses serviços otimizam o prazo de conclusão do recrutamento, além de trazer, para a empresa, diminuição de custos. Essa tecnologia pode atuar selecionando os currículos e também construindo um banco de dados de candidatos para as vagas futuras que forem aparecendo na companhia, tudo isso através de inteligência artifícial.

Outro facilitador bem utilizado são os serviços de comunicação por vídeo.

“Softwares como Google Meet, Microsoft Teams e Skype possibilitam, para nós, a realização de entrevistas de forma virtual. Diante disso, a entrevista pode ocorrer de forma mais dinâmica sem que haja deslocamento do candidato, uma vez que, no caso da Localiza, a maioria das vagas são para o trabalho remoto”, revela Bárbara. 

Desigualdades provenientes do teletrabalho

Mesmo com a quantidade de tecnologia que envolve o “novo”  mercado de trabalho, é inegável que a pandemia do coronavírus escancarou os abismos sociais no Brasil, a começar pela divisão entre os trabalhadores que podem  e possuem condições de realmente permanecer em casa e se protegerem de uma possível infecção, daqueles que estão em setores essenciais. Também ficou inquestionável que os menos favorecidos sofreram maior impacto perdendo, em diversos casos, emprego e obtenção de renda formal, ou seja, através de contrato de trabalho.  E como única alternativa para se manter, uma das soluções encontradas foi o uso de aplicativos como Ifood, Uber, Cabify, 99 Pop entre outros, para garantir o sustento. É o caso de Anderson Veríssimo (36), motorista de aplicativo da Uber. Segundo o trabalhador, após uma série de demissões que ocorreram na antiga empresa onde ele era consultor de vendas, a saída encontrada para manter o sustento de sua família foi a realização de cadastro no aplicativo.

“De tudo, não foi tão ruim, considero uma boa alternativa para fugir digamos assim, daquele tipo de trabalho convencional que por muitos anos está presente na sociedade. Essa foi uma das soluções que várias pessoas encontraram para se manter dentro do mercado de trabalho e assim conseguir ajudar com as despesas de casa”, relata o motorista.

Descrição de imagem: homem dentro do carro e parado no congestionamento segurando o celular com o aplicativo do uber aberto.
Créditos: Reprodução/Flickr

Anderson revela também uma situação contraditória entre o aplicativo e a justiça brasileira. De acordo com ele, para a Uber, os motoristas não têm direitos trabalhistas. Em contraponto, a legislação brasileira considera a profissão como trabalho formal seguindo todos os requisitos propostos pelo Ministério do Trabalho. Contudo, mesmo sendo reconhecida pelo ministério, isso não significa que o Estado cumpra totalmente com esses direitos, ou seja, na prática existe uma precarização e embate no que se refere ao serviço e na profissão de motorista de aplicativo.

As diferenças presentes para quem emprega e para quem é trabalhador podem ser, em um futuro não muito distante, um dos muitos problemas sociais trazidos com a pandemia de covid-19. É evidente que a plataformização do trabalho pode gerar novas oportunidades, novos mercados e novos profissionais. Porém, para que esse cenário favoreça a todos, é notório que muita coisa ainda deve ser feita.

Conteúdo produzido por Lorena Gaudêncio e Marcela Calixto na disciplina Laboratório de Narrativas Digitais, sob a supervisão da professora e jornalista Maiara Orlandini. 

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