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Mulher branca de cabelos castanhos sentada de frente para a câmera e sorrindo no estúdio do SportCenter com uma imagem de prédios ao fundo. Veste Blusa branca com um colete preto, calça marrom
Mariana no estúdio do SportCenter / Arquivo pessoal

Mariana Spinelli: a jovem referência do jornalismo esportivo

Cinco anos depois, os caminhos da vida – ou melhor, do jornalismo – levaram Mariana Spinelli de volta ao lugar em que tudo começou. A mineira de 27 anos retornou à PUC Minas, onde iniciou a formação em Jornalismo, para compartilhar com os atuais estudantes do curso as experiências que a profissão a permitiu viver no mundo dos esportes.

“São quatro malucos na mesma Família”

Filha dos jornalistas Adriana Spinelli e Paulo César Jardim, conhecido no meio como PC, e irmã de Pedro Spinelli, também colega de profissão, é como se o jornalismo corresse nas veias da família.

Foto de família com 4 pessoas brancas, em pé, sorrindo. Dois homens e duas mulheres, entre elas Mariana Spinelli
Mariana Spinelli com sua família / Arquivo pessoal

Vestida com uma blusa branca, com gola e barra em um tom de verde escuro, da marca Adidas, com listras azul bebê no peito, e uma calça de alfaiataria cinza, Mariana mescla até no traje a informalidade do esporte com o profissionalismo da jornalista. Começa a falar sobre como foi crescer tão envolta com o jornalismo.

Sentada na beirada da mesa de um dos auditórios do Campus São Gabriel da PUC Minas, com o folder de sua palestra sendo exibido no telão ao fundo e um microfone na mão, ela conta do orgulho que sente do modo como foi criada. “Eu fui educada dentro de casa com o jornalismo. Então, o que as pessoas aprendiam… Tipo assim, ah, sei lá, ‘mastiga de boca fechada, fala por favor’, eu aprendi o que que era uma sonora, o que que era um off.” Acompanhando a mãe no trabalho, Mariana e Pedro Spinelli brincavam de jornalismo.

O jornalismo como educação

Mariana relata que uma das coisas que mais marcou a educação que recebeu de seus pais foi a gratidão que deveriam ter com a profissão. “Meus pais nunca menosprezaram o jornalismo… Eles chegavam em casa e falavam ‘tá vendo essa casa aqui que a gente mora? Foi o jornalismo que deu para a gente. Tá vendo essa oportunidade? Foi o jornalismo que deu”. Essa gratidão pela profissão nunca deixou de existir. Mesmo após terem uma carreira consolidada, Mariana ainda comenta, indignada, sobre como seus pais ainda são entusiasmados com a profissão:

“A minha mãe parece que ela tem 15 anos até hoje.” Aproximando o dedão e o indicador, ela brinca que às vezes precisa pedir para a mãe parar de falar um pouquinho, porque ela se empolga com o que está fazendo no trabalho: “Ela quer contar do que ela fez. Quer mostrar a matéria. Quer mostrar o texto que ela fez. Ela quer aprender, meu pai é a mesma coisa.”

Mas essa convivência com o jornalismo também teve ônus, a exemplo da ausência da mãe em aniversários: “Se minha mãe passou uns quatro aniversários comigo foi muito, porque futebol acontece final de semana, final de semana você comemora aniversário de criança, final de semana minha mãe tá em cobertura.”

Acompanhar essa rotina dos pais fez com que ela aprendesse a amar a profissão, mas a dúvida se seguiria o mesmo caminho no jornalismo invadia a mente de Mariana. Em conversa com a mãe, avisou que iria fazer faculdade de jornalismo, mas perguntou se, caso quisesse, poderia sair. Adriana falou para a filha se sentir à vontade, que não existia pressão, e assim Mariana fez.

“Eu curti muito a faculdade”

Em sua participação no Central da Resenha, programa da rádio on-line da PUC Minas, Mariana, sentada entre duas entrevistadoras, relembra como era sua vida de estudante. Ela ingressou na PUC Minas Campus Coração Eucarístico em 2016 e passou a frequentar o prédio 13. Sendo gente como a gente, em seu primeiro ano da faculdade ela curtia as famosas calouradas da PUC Minas. Por estudar de manhã, sempre tinha muito sono, e confessa que, em alguns trabalhos, não entregava o seu máximo, optando pelo que era mais tranquilo de fazer, mas nos que gostava, ela “pirava”, citando as aulas práticas, principalmente as de rádio, e as aulas de política.

A Nepo Baby entende que, por ser educada com o jornalismo, para ela foi muito mais fácil:

Não tem porque negar e fingir fazer uma falsa modéstia de ‘Não realmente eu vim da batalha, guerreira do universo, e matei várias pessoas pra chegar aqui’. Eu tive esse caminho muito encurtado para o bem e para o mal.

Para a jornalista, o lado maldoso citado foi de não ter o vislumbrar dentro da profissão, a parte romântica, como seus ouvintes estão tendo naquele momento da graduação, porque o seu deslumbrar aconteceu dentro de casa.

Mariana aproveitou que tinha acesso a equipamentos e decidiu arriscar. Orgulhosa, ela cita o projeto Roteiro Alternativo que, de forma 100% independente, desenvolveu com os amigos Celso Lamounier e Thomaz Albano:

A gente queria aproveitar aquilo pra ser um grandíssimo laboratório. Se desse certo, ótimo, começamos sem qualquer perspectiva. Se não desse, olha o tanto de coisa que eu teria vivido.

Nele o trio de amigos começou a testar o básico do jornalismo e chegaram até a ser contratados para cobrir eventos. Entre os aprendizados, ela cita aprender a mexer em câmera, editar, criar pauta, fechar VT, entre outros. Para Mariana, aquela foi uma época em que eles estavam com fome de trabalhar.

Mas, enquanto vivia a vida de universitária, uma tragédia assolou a vida de Mariana Spinelli: a perda da melhor amiga. 11 de dezembro de 2016 foi um dia que ficou marcado em sua vida. Isabella sofreu um acidente de trânsito e veio a falecer. Naquele momento, com a voz baixa, ela se lembra que o dia está chegando.

Duas imagens de duas crianças, lado a lado, sorrindo para a câmera. As duas têm cabelos castanhos e usam fantasias. A expressão é alegre e despreocupada, típica da infância.
Mariana e sua amiga Isabela posam sorrindo lado a lado. As duas estão com roupas casuais e descontraídas. O clima da imagem é de intimidade e amizade, com fundo neutro e iluminação suave.
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“Aquilo ali me desnorteou assim me tirou do chão, né, obviamente, e 2017, foi um grande borrão na minha mente, eu não lembro direito do que aconteceu no ano. Sei lá, né? Foi muito ruim.”, relembra Mariana.

PUC TV: sua primeira experiência na televisão

Após chegar do enterro da melhor amiga, o telefone toca, e Mariana recebe uma notícia muito boa em um dos piores dias de sua vida. Alguém da PUC TV avisa, super feliz, que ela havia passado no estágio, sua reação foi a vontade de chorar. Ela queria recusar, mas o pai a convenceu de que seria bom para se distrair. Hoje, Mariana reconhece a importância da PUC TV em sua vida, principalmente naquele momento delicado.

“A PUC TV foi uma grande virada na minha vida, por isso que eu sempre tenho muita gratidão à PUC.”

Ela destaca que essa primeira experiência foi primordial em sua carreira, porque, como estagiária, ela podia errar. Na PUC TV, Mariana viveu a rotina televisiva, fechou matéria, viu os materiais que produzia entrar ao vivo, adquiriu noção editorial, teve contato com os equipamentos utilizados na TV e, quando chegou onde está hoje isso fez diferença:

Quando você chega cru numa televisão, todo mundo sabe que você está cru. Só que quando você já chega sabendo fazer algumas coisas eles falam: ‘pô, menina leva jeito, a menina conhece e tal’, explica Mariana.

Foi por influência de seu ex-namorado e colega de faculdade, Matheus Capanema, que Mariana Spinelli entrou na ESPN. Ela relembra que era o sonho de Matheus entrar no canal de esportes e a incentivou a fazerem o processo de estágio juntos. Em uma certa fase, apenas Mariana passou e a sua reação foi um: “puta merda, e agora?”

Mariana deixou o processo correr. Em um evento em sua antiga escola, a jornalista recebeu um vídeo em seu WhatsApp de um número desconhecido. Quando abriu, era o narrador Rômulo Mendonça. Imitando o tom de voz do narrador, Mariana se recorda das palavras: “Bem-vinda, Sirigaita, não sei o que… Você está contratada pela ESPN.”

Mas, na cabeça de Mariana, tinha um problema: ela ainda não havia contado para os seus pais. Crente de que sua mãe não iria deixá-la ir, por ser em São Paulo, surpreendeu-se com a reação de Adriana, que apenas a parabenizou, sem se espantar. Indignada, Mariana  perguntou: “Mãe, você não me ama? É para eu ir embora mesmo?” Adriana a incentivou a ir: “Filha, vai! Vai embora, vai viver essa experiência e eu não tô te expulsando de casa. Se você não gostar, se você não se adaptar nem nada, você tem sua casa aqui, não é demérito nenhum voltar.”

Mariana Spinelli diz que seus pais nunca a pressionaram por excelência, mas que, na ESPN, ela queria provar competência para si.

“Lá (em São Paulo) ninguém me conhecia, ninguém conhecia minha mãe, ninguém conhecia meu pai, nem nada. Então era uma coisa assim, será que eu sou boa?”

O início de Mariana Spinelli na ESPN

Sem conhecer ninguém no estado mais populoso do Brasil, ela se transferiu para a PUC São Paulo e morou com duas desconhecidas em uma República:

No início é difícil porque você não tem ninguém. Você não tem nenhuma base, o trabalho vira sua vida como um todo, as coisas se misturam, mas eu usei isso de uma forma positiva.

Mariana foi formando sua base enquanto “vivia na ESPN”. Ela conta que chegava na ESPN ao meio-dia, antes do seu horário de trabalho, e, quando não estava muito cansada e tirava um cochilo em uma salinha de áudio, se oferecia para tudo o que tivesse. Acompanhava o trabalho do editor, da produtora, interessada no que eles faziam, ia para o estúdio, conversava com todo mundo, puxava cabo. A Mariana estagiária era a personificação do ditado “pau para toda obra”.

As peripécias de estagiária

Rindo, a apresentadora conta as loucuras que já se meteu quando era estagiária, como mentir para o, na época, chefe de reportagem da ESPN, André Plihal. Ela chegou no Plihal e pediu para ser a repórter de um clássico mineiro, já que não havia repórter escalado para esse jogo. Plihal concordou com a ideia, para que Mariana pudesse viver a experiência, mas disse que não poderia pagar a passagem para Mariana ir de São Paulo à Belo Horizonte, e aí que vem a mentira. Mariana, na cara dura, disse que já tinha tudo comprado para ir para o aniversário do Pedro, seu irmão, que era no fim de semana do clássico.

“Mentira! Óbvio que eu não ia no aniversário do Pedro”, confessa a jornalista.

Ela chegou em BH sábado de manhã e foi para o jogo. Ao final, com o  placar de 1 a 0 para o Atlético, com gol de Roger Guedes, ela foi para a rodoviária e no domingo de manhã após chegar em São Paulo, já foi direto para a redação trabalhar. Apesar de corrido, Mariana diz que aproveitou a oportunidade que tinha.

 “Eu lembro que eu entrevistei o Arrascaeta e perguntei se era o último clássico dele, morrendo de medo.”

Mariana ainda contou de quando conheceu Jô Soares, em sua primeira semana na ESPN, e o apresentador a desejou boa sorte na carreira.

Da Pandemia à ascensão jornalística

Ao fim de seu contrato como estagiária, o futuro de Mariana Spinelli estava dividido entre o jornalismo digital e a TV. A escolha foi fazer um contrato híbrido, em que ganhava por participação.

Até que o mundo parou. Indo para BH com uma malinha na mão, o intuito de Mariana de passar apenas o final de semana se transformou em um ano e meio, quando a Pandemia foi decretada. Nesse meio tempo, um repórter de Minas da ESPN foi demitido e Mariana começou a fazer reportagens de casa.

Como aquele era um ano cheio para o futebol, com o Galo contratando o técnico Sampaoli e o Cruzeiro em um ano difícil, Mariana comenta da decisão da ESPN de colocá-la para preencher a vaga:

“A ESPN é muito doida, né?”, reflete.

Para ela e os que estavam à sua volta, esse tempo trabalhando de casa foi uma loucura: “O meu avô não conseguia entender. Às vezes eu tava ao vivo ele vinha com um pão:  ‘Quer pão?’, imita o avô, gritando.

O começo de uma parceria duradoura

Ao final de 2020, Mariana foi convidada para apresentar o SportsCenter, programa esportivo diário:

“Eles colocaram eu e o Bruno que somos mais inconsequentes e colocaram o Mara e o Eugênio para ter dois velhos para dar uma responsa no programa, e foi um time que deu muito certo”, brinca.

Mariana lembra que sua primeira apresentação foi tenebrosa, mas que estar em um ambiente seguro, com profissionais que já tinham experiência, foi crucial:

“O Bruno sabia que ele ia ter que segurar a ponta por um tempo até eu ganhar casca, então o Bruno não tava alí para me ferrar e me expor e briga de égua, o Bruno foi um parceiraço é um dos caras que eu mais devo a minha carreira.”

Em suas redes sociais, ela diverte seus seguidores mostrando os bastidores do programa e o dia a dia de zoação, principalmente com o Bruno.

Recentemente, Mariana Spinelli renovou o seu contrato e continua na telinha da ESPN.

A jornalista ainda menciona a cobertura da morte do Pelé como uma das que mais exigiram profissionalismo da sua parte:

Ao som de You are In Love

Mariana afirma ter muita sorte de estar no ambiente da ESPN, uma empresa Disney. Segundo ela, ter o “papai Mickey” como chefe é de extrema importância pela forte política de inclusão adotada, fator fundamental quando ela se assumiu LGBT.  Ela não esconde seu relacionamento homoafetivo, e, em suas mídias sociais, compartilha a vida com a agora noiva, Thamara Batista.

Spinelli documentou o pedido em seu Instagram e, sentada no sofá de casa com Thamara ao lado, admitiu que já planejava dar mais um passo na relação desde 2024, nas Olimpíadas de Paris, mas cancelou após Thamara alertá-la para não misturar o noivado com futebol feminino. O segundo momento pensado por Mariana foi na viagem que o casal realizou com a família de Thamara para a Itália, mas ela preferiu deixar a viagem como uma memória familiar. Por último, desejou pedir Thamara em casamento no carnaval de Salvador, com a participação da cantora Ivete Sangalo, da qual Thamara é fã de carteirinha desde adolescente, mas não rolou.

Por mais de um mês Mariana Spinelli escondeu a aliança na gaveta, até que a apresentadora decidiu fazer acontecer. Mas antes de realmente dar certo, deu errado mais uma vez. Viajaram para uma pousada, mas no local Mariana sentiu que não era o momento. Foi no apartamento em que elas moram que tudo aconteceu. Mariana preparou um jantar romântico, com a desculpa de que no sábado da viagem não tinha sido possível, e pediu para que Thamara se trancasse no quarto. Com tudo pronto, Mariana recebeu Thamara com um buquê de rosas amarelas, ajoelhou-se e pediu a companheira em casamento, ao som de You are In Love, de Taylor Swift.

A maior cobertura da história da Libertadores

Mariana considera que as coisas aconteceram muito rápido para ela, e hoje em dia ela é responsável por grandes coberturas no mundo do futebol. Na ocasião da entrevista, tendo acabado de voltar da maior cobertura da Libertadores na história da ESPN, entre Atlético Mineiro e Botafogo, no ano de 2024, ela reconhece que foi a cobertura mais desafiadora de sua vida.

Mulher branca, vestida com uma blusa vermelha e calça, e usando óculos escuro, do lado de fora do estádio. Ela sorri e faz gesto de relaxamento com a mão. Ao fundo, um template com os símbolos de Atlético-MG e Botafogo-RJ movimentado.
Cobertura da final da Libertadores de 2024 / Arquivo pessoal

Mariana explica que, ao mesmo tempo em que ficava livre para ver o jogo, já que não estava na transmissão, ela também tinha que analisar tudo o que acontecia durante os 90 minutos. Ela dá exemplo de um bate-boca entre Scarpa e Battaglia, jogadores do Atlético, em que anotou para dar a informação quando entrasse ao vivo:

“Às vezes isso não aparece na transmissão, e, se eu tô lá, eu tenho que trazer alguma coisa de valer, porque senão é o que a pessoa viu na TV. Eu tenho que trazer alguma coisa diferente.”

O profissionalismo posto à prova

Mariana conta que quando acabou o jogo ela estava arrasada e tinha a responsabilidade de apresentar duas horas de jornal do título mais importante da história do Botafogo conquistado contra o seu próprio time.

Eu estava lá para ser a jornalista Mariana, então isso nunca pode sair do radar.

A apresentadora conta que os torcedores do Botafogo passavam abraçando e beijando eles, aos prantos. E que até chorou junto com um torcedor que estava caracterizado de Homem Aranha do Fogão, porque, para ela, é muito mais que futebol:

“Quando você gosta muito do trabalho, quando você gosta muito do esporte, é inevitável você não se conectar, com história, com a narrativa. O título era dos caras velho, olha que campanha absurda que eles fizeram”, comenta.

Foi quando acabou que Mariana se permitiu sentir a derrota, já no silêncio do estádio. Seu chefe, que é cruzeirense, salienta, a entregou um lencinho e falou para ela ir. A torcedora desceu até o gramado do Monumental de Nunez e se sentou na grama, sozinha. Olhou para o gramado e chorou. Depois, retocou a maquiagem e se preparou para mais duas horas de programa.

Futebol Feminino: um espaço em construção

O futebol feminino no Brasil ainda carrega o peso de ser visto como um projeto em construção. Para Mariana Spinelli, essa modalidade é como um filho que precisa de atenção constante para crescer. Essa necessidade de vigilância constante traz uma carga emocional e profissional: “Às vezes, depende muito da gente, e isso é um peso que não deveria ser assim”.

Apesar disso, Mariana também enxerga avanços importantes, como a presença cada vez maior de mulheres na cobertura do esporte. O momento mais especial em sua trajetória profissional ilustra bem isso: o primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo Feminina de 2023, contra o Panamá, na Austrália.

Quando entrei no centro de mídia, tomei um susto: era muita mulher. Nunca vi um lugar com mais mulheres do que homens. Naquele dia, eu contei os homens na sala.

Para ela, esse cenário foi uma amostra concreta de que um novo mundo está sendo construído.

Grupo de cerca de quinze mulheres sorrindo e posando para foto em uma sala destinada à imprensa. O grupo aparenta estar animado e celebrando um momento especial durante um evento esportivo internacional.
Cobertura da Copa do Mundo feminina de 2023 / Arquivo pessoal

Mariana também sonha com o dia em que o futebol feminino seja tratado com a mesma naturalidade que o masculino. “Cansei do papo de luta, de guerreira. Quero que elas só possam existir, treinar, jogar e voltar para casa. Que eu possa apresentar meu programa 100% de futebol feminino sem precisar convencer ninguém, sem brigar na internet para defender o óbvio”, desabafa.

Ao falar sobre os desafios estruturais, a jornalista aponta o desmonte de times como um dos grandes entraves para o crescimento da modalidade. “Em Minas e em outros estados, vemos casos como as bases do Atlético e do Santos sendo desmontadas. Falta visão dos gestores, que ainda enxergam o futebol feminino como gasto, e não como produto”, critica. Para ela, a mídia tem papel fundamental em mudar essa percepção e atrair torcedores.

Entre as muitas histórias que já viveu, Mariana carrega a certeza de que sua luta – e a de tantas outras mulheres – está abrindo portas. Mas, enquanto o cenário ideal não chega, ela segue se dividindo entre a paixão pela modalidade e a missão de garantir que o futebol feminino receba o respeito e o espaço que merece.

Mariana, mulher branca de roupa preta, segura o microfone da ESPN em uma mão e na outra segura um celular enquanto entrevista a jogadora Marta, que veste o uniforme da Seleção Brasileira. As duas estão em pé, próximas uma da outra, com semblante sério e atento.
Entrevista com a Marta na Copa do Mundo feminina de 2023 / Arquivo pessoal

A jornalista, que é inspiração para muitos que estão começando na área, afirma ser “muito doido” lidar com isso por ser muito nova. Falando sobre suas inspirações, ela relata preocupação com a falta de mulheres como referência no jornalismo esportivo, mas entende que essa nova geração está buscando mulheres para se inspirar. Em sua lista de inspirações seus pais ocupam o primeiro lugar. Em seguida, nomes como Fernanda Gentil, Tata Werneck, Cesar Tralli e Biel estão presentes. São profissionais que possuem características diversas, mas ela justifica que bebe de diversas fontes para incrementar seu trabalho.

“Nem ao céu, nem ao inferno”

Dona de uma voz que vez ou outra divide opiniões, a jornalista é “pulso firme” em suas falas “Eu ficaria muito chateada, se eu apanhasse de pessoas que eu admiro. Enquanto eu tiver tomando pancada de pessoas que eu realmente não compactuo com os valores dela, para mim tá tudo certo”, afirma Mariana.

Então, para Mariana está tudo bem se alguém entrar no meio esportivo e não aguentar, porque ele é muito cruel:

Não precisa ficar engolindo sapo para ser a Mulher Maravilha.

Durante a pandemia, quando estava trabalhando de Belo Horizonte, Mariana “apanhou muito” nas redes sociais devido ao caso Robinho. Ela relata que foi uma época muito difícil, de muito choro e pressão psicológica.

Ao ver a situação, sua mãe a mandou fazer algo inusitado: ir na padaria comprar pão e voltar. Mariana brinca que achou que sua mãe estava tendo um AVC, mas que falou que pegaria o carro e iria. Adriana, no entanto, insistiu para que ela fosse apê e, como era pertinho de casa, Mariana foi.

Quando chegou, ela entregou o pão para a mãe e perguntou, rindo, sem entender nada, o que tinha sido aquilo. Adriana Spinelli perguntou quantas pessoas na padaria falaram sobre o que ela estava sofrendo nas redes sociais, a resposta foi nenhuma. Então, a jornalista mãe completou:

“Nem ao céu, nem ao inferno. Quando te odeiam não é assim e nem quando te amam.”, aconselha

Adriana Spinelli, uma mulher adulta com uma criança no colo sorrindo, sua filha Mariana Spinelli. A criança também está sorrindo e segura um microfone
Mariana, ainda bebê, com sua mãe / Arquivo pessoal

Esse conselho serviu para lembrar Mariana Spinelli que antes de ser uma profissional, ela é apenas uma pessoa normal seguindo sua vida. Ela entende que tem as pessoas que a admiram, assim como tem as que a detesta e que “as pessoas na vida real, são muito mais legais e elas são maioria.”

Mariana e suas multifacetas

A TV Mariana domina, e o Instagram não é diferente. A apresentadora tem uma relação íntima com os seus seguidores, os intitulado “ratazanas”. Na rede social, ela tem uma liberdade a mais do que na TV e seu modo de se comunicar tem conquistado as mais de 160 mil pessoas que a acompanham diariamente.

“Eu acho que eu consegui chegar numa bolha muito saudável de pessoas que me seguem, não somos milhões, mas somos fiéis”, comenta.

Quando a TV é desligada, uma outra Mariana surge. A Mariana apresentadora sai de cena para que a Mariana pessoa possa assumir, mostrando, além do seu trabalho, seu dia a dia.

“Eu não sou só a Mariana do futebol”

Uma parceria inusitada, mas que vem fazendo sucesso é Mariana Spinelli, cultura e a casa de apostas H2bet. No projeto, Mariana comenta não apenas sobre esportes, mas também sobre música, moda e outros aspectos culturais. “Quando fechei com a H2, fui muito clara: eu não vou falar sobre apostas ou onde as pessoas devem colocar dinheiro. Minha responsabilidade é criar conteúdo que engaje, que as pessoas queiram assistir por interesse genuíno. Foi uma forma de unir o esporte com a cultura pop de um jeito que eu sempre quis.”

Essa união também aconteceu na tela da ESPN. Quando a cantora Taylor Swift começou a namorar o jogador de futebol americano Travis Kelce, do Kansas City Chielfs, foi a oportunidade perfeita para a apresentadora colocar o seu lado fã da loirinha para jogo. “Foi como se Deus descesse e falasse: ‘Tome Mariana, seja feliz!’”

Mulher branca de cabelos castanhos tirando uma foto do seu próprio rosto. Mariana Spinelli está dentro de um estúdio de gravação. Atrás dela há um telão que está com imagem fixada de dois homens jogadores de futebol americano vestidos com camisas branca e vermelha e capacetes branco e vermelho. No meio da imagem, entre os dois uma mulher loira de roupa vermelha.
Mariana Spinelli é fã da cantora Taylor Swift / Arquivo pessoal

Mariana Spinelli encontrou uma forma única de unir suas paixões e construir uma identidade que vai além do nicho esportivo. Ao misturar futebol e cultura pop, ela tem dialogado com diferentes públicos e conquistado um espaço que reflete sua visão contemporânea sobre o papel do jornalista na era das redes sociais.

Para ela, essa integração entre o esporte e o pop não foi uma surpresa, mas uma oportunidade natural. “Eu acho que esses dois mundos sempre se tocaram, mas agora estamos vendo mais interações. Hoje, artistas pop olham para o futebol como uma vitrine poderosa, e o futebol também começa a entender o potencial de dialogar com outros universos. Essa conexão é algo que sempre quis explorar”, conta.

Com a habilidade para transitar entre o esporte e a cultura pop, Mariana Spinelli está redefinindo o papel do jornalista esportivo e mostrando que é possível ser mais de uma coisa, sem perder a autenticidade. Seja na TV, seja nas redes sociais, ela se consolida como uma voz relevante e plural.

Quando questionada sobre quem Taylor Swift seria no mundo do futebol, Mariana Spinelli, sempre cheia de referências culturais, não hesitou em traçar um paralelo ousado e inesperado:

De Mariana para os jornalistas

Mariana deixa alguns conselhos para os futuros jornalistas: “Goste da profissão, porque ela é uma profissão que ela vai te exigir muito fisicamente e mentalmente e você terá que abrir mão de várias coisas”, afirma.

Ser de grupo, trabalhar e aprender com o outro é fundamental, e isso auxilia em diversas tarefas do dia a dia de trabalho. Por fim, brincando que nem ela mesma conseguiria seguir esse conselho, ela diz:

Respira! Porque às vezes nós juramos que temos controle da nossa carreira, da nossa vida, de onde a gente vai estar e nunca temos.

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Este perfil foi produzido por Danielly Camargos e João Augusto, sob supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard.

Danielly Camargos

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