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Homem com criança em manifestação segura placa vermelha com o escrito "Make America Think Again"
Imagem meramente ilustrativa de Jose M / Unsplash

Eleição nos EUA pressiona preservação da Amazônia

Após Biden criticar a gestão ambiental brasileira, Bolsonaro pode enfrentar desgastes com sua política negacionista

Durante o mês de novembro de 2020, o mundo acompanhou a disputa da eleição nos EUA entre o republicano Donald Trump, que buscava a reeleição, e o democrata Joe Biden, que venceu a corrida pela Casa Branca. Após muita apreensão, Biden foi anunciado no dia 7 de novembro pela Associated Press como o 46º presidente eleito dos Estados Unidos.

O presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) sempre demonstrou afinidade com Trump e declarou apoio à reeleição do bilionário. Essa proximidade gerou discordâncias com as propostas de Biden, que se intensificaram após declarações sobre as políticas ambientais brasileiras feitas pelo presidente eleito dos EUA em um debate presidencial:

“A Floresta Amazônica no Brasil está sendo destruída, arrancada… Eu tentarei fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$20 bilhões e digam: “Aqui estão US$20 bilhões, pare de devastar a floresta. Se você não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”.

Joe Biden, presidente eleito dos EUA

A política anti-ambientalista do governo Bolsonaro é, assim como foi a de Trump, fundamentada no negacionismo. Após a declaração de Biden, o presidente brasileiro rebateu: “Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de estado dizer que se não apagar o fogo da Amazônia, vai levantar barreiras comerciais contra o Brasil. Apenas diplomacia não dá. Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona”.

Histórico de queimadas

Registro de queimadas e suas cicatrizes no Sul do Pará, em Altamira, em agosto de 2019. / Coordenação-Geral de Observação da Terra / INPE / Via Wikimedia Commons

Os recordes históricos de desmatamento e queimadas na Amazônia, devido à estratégia de “limpeza” do solo para uso na agropecuária, foram intensificados em 2020. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi registrado um número 73% mais alto de queimadas em outubro deste ano, comparado ao mesmo mês de 2019.

Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente, negou em entrevista à Rádio Bandeirantes a existência de crimes ambientais: “Alguns saíram dizendo ‘a Amazônia esse ano está queimando de novo’, fizeram um filminho e tudo mais. Não está”. Mas a pressão relacionada à gestão da Amazônia poderá se intensificar caso Biden cumpra sua promessa e retorne ao Acordo de Paris, que visa reduzir as mudanças climáticas.

Segundo Marco Cepik, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “tal pressão à política ambiental será positiva para o Brasil, ainda que não o seja para os interesses e opiniões que se agrupam em torno de Bolsonaro”.

Eleição nos EUA versus meio ambiente no Brasil

Nem todos os integrantes do governo brasileiro prestaram suas congratulações a Biden. Se houve declarações como a do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que disse que “a vitória de Joe Biden restaura os valores de uma democracia verdadeiramente liberal, que valoriza os direitos humanos, individuais e das minorias”, em contrapartida, o líder da nação se recusa a reconhecer o resultado da eleição nos EUA, tentando atribuir descrédito à imprensa e ao sistema democrático daquele país.

Fernando Roberto, doutor em História Política e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que “o governo brasileiro precisará se adequar à pressão para preservar o meio ambiente na Amazônia e no Pantanal, caso queira manter os mercados europeus de carne bovina e derivados”. Nesse contexto, possíveis divergências ideológicas entre os presidentes afetariam a economia do Brasil e consequentemente podem resultar em mudanças de postura ambiental da ala pragmática do governo.

Devido a esse cenário, o Brasil pode ficar mais fragilizado no âmbito internacional com a derrota de Trump, além de ter que enfrentar possíveis embates ideológicos entre o presidente brasileiro e a futura gestão governamental estadunidense. Na visão de Antônio Marcelo Jackson, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), “O presidente brasileiro perde em qualquer circunstância desde que o eleito nos Estados Unidos não seja Donald Trump”.

Texto desenvolvido por Daniela Diniz, Isabella Cerqueira de Souza, Júlia Pimentel e Maria Júlia Nascimento para a disciplina de Jornal Laboratório no semestre 2020/2.

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