Neste ano de 2020, Duda Salabert conquistou um lugar na Câmara Municipal de Belo Horizonte (MG), ao receber 37.613 votos – marco histórico na luta por representatividade política. A professora, mulher trans, é uma das figuras públicas que promovem debates sobre saúde sexual da comunidade LGBTQIA+ e aumenta a visibilidade dos recursos estruturais para atendimento da população trans belorizontina.
Felipe Chaves, homem transexual que começou sua readequação de gênero em BH, relata experiências com o atendimento hospitalar. “Eu iniciei minha transição há dois anos e fiquei completamente perdido. Passei por situações que me abalaram muito, constrangimentos desnecessários, causados por pessoas que não sabem lidar, não tinham noção de como tratar a pessoa trans”, conta.
Ir em qualquer médico, sem saber se ele vai te atender bem, se ele sabe lidar com esse processo, com esse tratamento hormonal é uma coisa que trava a gente.
Felipe Chaves
A atriz e psicóloga trans Ueldes Pérola Preta Santos Reis destaca a importância do atendimento público especializado para pessoas transsexuais, que é um direito constitucional fundamental, como a carta dos direitos universais.
Para ela, ambulatórios trans, com equipes multiprofissionais e processo de harmonização para quem quer ou precisa, são um reconhecimento do Ministério da Saúde de que precisamos avançar na discussão: “A população trans vive em desigualdade e mal estar social. Sim, sempre sou atendida por terapeutas, mas ainda é complexo encontrar em algumas cidades uma escuta especializada”.
Saúde da população trans em BH
Na capital mineira, atendimentos voltados para saúde da população trans se ampliaram nos últimos anos. Há o ambulatório de atendimento a pessoas trans do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), que completou três anos; os centros de acolhimento espalhados pela grande BH, como a Organização não Governamental Transvest e o Centro de Referência LGBT, inaugurado pela prefeitura em 2018, além de pesquisas e propostas, como o projeto da UFMG PrEP 15-19, que encoraja o uso de preservativos e monitora a saúde de jovens da comunidade.
Felipe Chaves entende a difusão do conhecimento destes ambientes como de extrema importância para os jovens: “É preciso todo um acompanhamento. Não é só endocrinologista e hormônio, são vários médicos”.
Para ele, a maior divulgação dos centros públicos especializados é necessária para facilitar a fase inicial de transição dessas pessoas, “para elas terem uma direção, saber para onde ir e quem perguntar, até porque são vários médicos”, aconselha.
Profissionais de saúde precisam de atualização e treinamento
“A informação de fonte médica praticamente não existe. Esta população se informa pelo compartilhamento de experiências e conhecimentos, muitas vezes equivocados”, lamenta o médico Eduardo Mundim, endocrinologista que atua há mais de um ano no ambulatório trans do hospital Eduardo de Menezes.
O clínico reflete sobre o comportamento discriminatório dos profissionais de saúde com esta camada da população: “O que ocorre é resistência de profissionais, que não se sentem à vontade quando sua cisgeneridade é questionada pela existência concreta daquela pessoa trans que se apresentou. Uma reação comum é a negação explícita ou camuflada do atendimento”.
Ele explica que a população LGBTQIA+ sofre maior incidência de suicídio, depressão, uso de drogas (legais e ilegais) e adiamento de consultas de rotina pelo medo, que se transformam em urgências ou podem ocasionar morte. “Mas se essa população for atendida com respeito e atenção, haverá redução drástica desses números”, conclui.
Matéria desenvolvida por Letícia Avelar, Pedro Onofri e Vitória Dias para a disciplina de Jornal Laboratório no semestre 2020/2.
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