Aline Aguiar é a segunda mulher preta a assumir a bancada do Jornal Nacional – um dos telejornais de maior audiência do país e uma das vagas mais relevantes no jornalismo atualmente. Ao longo de sua carreira, Aline teve diversas dificuldades e desafios, que conseguiu superar até conseguir conquistar espaço, respeito e notoriedade. Hoje, ela é um dos nomes mais falados na imprensa brasileira, ocupando cargos de relevância e atuando em grandes coberturas jornalísticas. Esse perfil busca apresentar um pouco mais sobre a vida de Aline, desde a infância, inspirando a perceber que podemos, sim, mudar o mundo por meio do jornalismo.
O sonho de mudar o mundo
Nascida e criada em Belo Horizonte, Aline Aguiar é uma jornalista de 37 anos. Ela atua na Rede Globo como âncora do MG1 e do Bom Dia Brasil, além de fazer parte do rodízio de apresentadores do Jornal Nacional aos fins de semana. Alineguiar conta que, durante a infância, costumava brincar de jornalista e entrevistava os pais utilizando um videocassete. Foi por meio dessas brincadeiras que a pequena percebeu que, por meio do jornalismo, era possível expor determinados problemas e propor soluções. A ideia de que o jornalismo podia “mudar o mundo” e as brincadeiras feitas quando era mais nova foram os fatores principais para a escolha da profissão – além da influência direta do pai, que atuava como radialista.
Vida acadêmica
Aline cursou jornalismo pela UniBH e, desde o primeiro período, procurou por vagas de estágio com foco no rádio e na TV. Inicialmente, voluntariou-se como estagiária na rádio FM Lagoinha, rádio da faculdade, na qual ficou por uma semana.
No segundo período, passou no processo seletivo para atuar na TV UniBH. Ela ficou como produtora durante uma semana e, depois de passar por um processo seletivo interno, tornou-se apresentadora. Do terceiro período em diante, mudou o foco exclusivamente para a televisão.
Já no quinto período, durante um dos trabalhos da faculdade em que sua turma deveria visitar a redação de um meio de comunicação (TV, rádio ou jornal impresso), a então estudante decidiu visitar a redação de uma televisão. Durante a atividade, ela conheceu uma editora que acompanhava a programação da TV UniBH que a reconheceu logo de cara. A funcionária da emissora então ofereceu uma vaga como auxiliar de operações jornalísticas. Aline aceitou e começou a trabalhar na televisão no mesmo cargo, já com carteira assinada.
“Eu que passava o TP, eu pegava e consultava os arquivos para entregar para o editor, arquivava todas as matérias que iam ao ar. Recebia geração – as reportagens, matérias, que vinham do interior -, então geravam material da capital e do interior”, relembra Aline.
A apresentadora conta também que sempre foi muito ativa durante todo o período na faculdade. Não ia atrás apenas de estágios, mas também participava de trabalhos e grupos de estudo. Ela ressalta a importância de entrar em contato com a parte prática do curso o quanto antes, principalmente se o estudante quiser se preparar melhor para o mercado de trabalho.
A importância do papel representativo na TV Globo
Aline Aguiar foi a segunda mulher negra a apresentar o Jornal Nacional. Além de expressar a felicidade e a honra pela oportunidade de aparecer para milhões de pessoas, ela destaca que vê a chegada à bancada do JN como um movimento que não vai parar mais. “Foi um passo que também abriu portas para as próximas apresentadoras pretas”.
Além disso, Aline também enxerga como conquista trabalhar em uma emissora tão grande com o cabelo natural. Os fios, que por vezes foram alisados como forma de se aproximarem daquele modelo que, durante muito tempo, foi colocado como padrão de beleza, agora estão na versão original.
Ainda dentro desse tema ela relata uma situação que viveu aos 7 anos. De acordo com Aline, houve um momento na vida em que não queria mais ser uma mulher negra – e isso se deu muito pela falta de representatividade que sentia quando assistia à TV.
As transições capilares (ela relata ter sido necessária mais de uma para remover a química completamente) só vieram anos depois, quando já trabalhava na Globo Minas. Com a identidade recuperada, o cabelo – agora sem química – apareceu nas telas e nas fotos compartilhadas nas mídias sociais.
Aline declara que, com o simples ato de ir trabalhar com o cabelo natural, gerou um movimento na internet e começou a ver outras meninas surpresas e instigadas a passar pelo mesmo processo. Aparecer na televisão ostentando um cabelo natural a colocou em uma posição de representatividade grandiosa, ajudando a construir uma conquista coletiva de empoderamento e orgulho.
“Porque meu cabelo é uma conquista. E ele é uma conquista, inclusive na televisão, porque ele responde muito à menina de 7 anos que tentou trocar a cor da pele. ”
Ela aponta a importância da representatividade trazendo uma referência bibliográfica: o livro O que é empoderamento de Joice Berth, da coleção Feminismos plurais, coordenado por Djamila Ribeiro.
Representatividade é você ver a sua imagem de forma positiva nos mais diversos lugares. Principalmente o imagético, a mídia.”
Ela cita a importância de se ver de forma positiva, porque a partir disso você acredita que também pode estar lá. Você se imagina ocupando aquele lugar. É um papel que ela se sente honrada em representar. Há outras ‘Alines’ por aí: elas possuem nomes, histórias e trajetórias que rompem o fluxo e descortinam um Brasil plural.
O racismo e o abismo que ele cria até o topo
A apresentadora deixa como mensagem final em nossa entrevista que é preciso entender que a trajetória de mulheres negras é diferente. Como exemplo, relata um episódio: “Participei de um processo seletivo para o cargo de apresentadora auxiliar em um programa de esporte. Como meu pai era radialista, cresci no Mineirão, envolvida no futebol, eu tinha um pouco de conhecimento e por isso fiz esse teste. E uma mulher branca, que já tinha sido miss, mas com pouco envolvimento com futebol, foi escolhida”. A jornalista cita que a crítica não é à mulher branca, mas sim ao sistema. Apesar de muitas vezes terem o mesmo alvo, e saindo do mesmo ponto de partida, os caminhos sempre serão diferentes para uma mulher negra. Ela explica que o caminho de mulheres como ela tem mais “curvas” e “buracos” e que, por isso, são necessárias mais voltas para chegar ao alvo. E que ela acredita que isso acaba exigindo de mulheres negras mais persistência e busca de conhecimento. Porque sempre vão cobrar muito mais de uma mulher preta. “Seguir o caminho confiante e buscando oportunidades.”
Reforçando a fala, ela cita a atriz Viola Davis – que ao ganhar um Emmy de melhor atriz, disse: “A única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade”. Aline mostra que quando se tem oportunidade é que se consegue mostrar que é capaz, que é competente. Muitas vezes falta isso: oportunidade.
Em busca dessas oportunidades, ela recebeu muitas vezes um “não”, até que um chefe a enxergou e disse “sim”. E assim Aline seguiu, chegando não só a se tornar titular na apresentação do MG1, mas também com a mesma função no Bom Dia Brasil (ancorando as notícias de Minas dentro do matinal) e, também, para o Jornal Nacional (de início foi pela comemoração de 50 anos do telejornal. Em seguida, a Globo a colocou como plantonista junto a outros colegas). “Então é isso que eu falo para as mulheres negras, para se encher de conhecimento, porque a caminhada é diferente, ela é dura.”
Hoje, Aline Aguiar segue a caminhada, pavimentando o caminho para as próximas mulheres. Ela espera que depois dela venham várias meninas que vão dar menos voltas, com atalhos criados por ela e tantas outras jornalistas que, pouco a pouco, conquistam mais espaço na área. Hoje, ela tem isso como propósito: encurtar essa distância para outras. Para que o caminho seja mais leve.
Conteúdo produzido por Ana Clara Cardoso de Pinho, Diêgo Bessas Silva, Giovanna Lara Tostes, Júlia Nunes Pinto Coelho, Karol Rocha Noronha, Maria Antônia Rebouças de Oliveira e Maria Eduarda Oliveira Gonçalves de Almeida na disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard. A edição foi realizada por Henrique Toscano Fonseca Romano, Isabela Bernardes Soares e Pedro Henrique Maia do Prado Miranda na disciplina Edição Jornalística, sob a supervisão da professora e jornalista Maiara Orlandini.
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