Em 2022, ano eleitoral, é possível observar aumento expressivo da participação dos adolescentes entre 16 e 17 anos nas eleições. Apesar de não terem obrigação de tirar o título de eleitor, essa parcela da população se mobilizou para participar das votações. Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o aumento nessa faixa etária foi considerável. Se em 2020, havia registro de 90 mil adolescentes, em 2022, o número mais que dobrou, representando 210 mil até o momento. As estatísticas dos registros ainda não foram fechadas pelo TRE, e o número pode aumentar até o mês de julho.
Isso significa que uma porcentagem importante do eleitorado vai ser constituída pela juventude brasileira, que poderá contribuir com um novo olhar para a política brasileira nestas eleições. Para a juíza Lívia Barbosa, diretora-executiva da Escola Judiciária Eleitoral, é fundamental a participação dos jovens este ano. Segundo ela, é importante o engajamento como cidadãos e como eleitores, pois somente dessa maneira conseguirão levar às urnas suas reivindicações e serem protagonistas das mudanças que esperam para o país.
Por que os mais novos se engajaram dessa maneira nas eleições deste ano? Parte dessa mobilização se deve ao envolvimento de artistas e influenciadores digitais que se manifestaram, através de seus perfis nas redes sociais, estimulando que os adolescentes tirassem seus títulos para ir às urnas em outubro. Antes dessa campanha do TSE e dos artistas, o número de registros estava abaixo do esperado.
Então agora é isso hein… me pediu foto quando me encontrou em algum lugar? Se for maior de 16 eu só tiro a foto se tiver foto do título de eleitor. 😌
— Anitta (@Anitta) March 23, 2022
In 2020, Americans only defeated Donald Trump because record voters used their democratic rights, especially young people. To defeat Bolsonaro, Brazilians aged 16 and 17, must register to vote in the next elections. They have until May 4th to do this at https://t.co/EzvkuIzyrL https://t.co/cbIfSWYwZ9
— Mark Ruffalo (@MarkRuffalo) March 24, 2022
Segundo o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, esse é um fator, mas outros motivos podem ter contribuído. “Isso certamente pode ter sido capaz de produzir um agendamento desse tema em jovens que talvez em outros contextos nem sequer se preocupassem muito com essa discussão”, afirma.
Outro motivação apresentada pelo cientista político é a polarização. De acordo com Paulo Roberto, há certa tensão e animosidade entre as principais candidaturas, o que gera uma eleição muito disputada. Por causa disso, muitos jovens podem ter sido estimulados a tirarem seus títulos mesmo sendo facultativo. “É a primeira vez que temos dois ex-presidentes disputando juntos, nunca houve isso, um presidente disputando reeleição com um ex-presidente com alto nível de conhecimento do eleitorado e grande polarização, grande distância ideológica entre os dois.”
Essa polarização se manifesta na opinião dos jovens, como é o caso de Anne Reis, 17 anos, integrante do grupo de 210 mil adolescentes que tiraram o título em 2022. “O que me motivou foi a vontade de participar de um ato de cidadania tão importante para o Brasil, principalmente neste momento tão difícil. […] Além disso, acho que as pautas da juventude são pouco representadas e valorizadas.”
Apesar de reconhecerem um novo interesse dos partidos e dos candidatos no eleitorado mais jovem, para alguns, como o estudante Ian Keusen, 17 anos, os esforços ainda não são o essencial: “Não acho que os ideais e as pautas da minha geração sejam levados em conta o suficiente.” Dentre as temáticas que interessam o novo eleitorado entrevistado pela reportagem há pluralidade de assuntos, passando por tópicos como a educação, segurança e saúde, até pautas relacionadas a minorias, como a desigualdade de gênero, os direitos LGBTQIA+ e o combate ao racismo.
Redes Sociais
Os entrevistados colocaram as redes sociais como principais meios de pesquisa e conhecimento. Apesar da dependência do digital, alguns se mostram atentos para os perigos de uma narrativa única, como aponta o estudante Luiz Carlos Vieira, 17 anos. “A internet é uma via de mão dupla: democratiza o acesso às atualidades e manipula completamente as bolhas ideológicas. Entretanto, se usada corretamente, pode ser extremamente útil durante este ano de eleições”.
No entanto, é importante não generalizar. “Talvez a gente não possa dar um grau de unidade a uma faixa etária com milhões de pessoas. Obviamente, em cada grupo há sempre uma diversidade interna. As questões são: Jovens de onde? Jovens de que região do país? Jovens de que classe social? Jovens com que tipo de acesso aos dispositivos digitais? Então, há uma grande diversidade interna”, alerta Paulo Roberto, que também é professor de comunicação na UFJF.
Na hora de se informar, a família e os colegas também têm papel essencial para os que se preparam para suas primeiras eleições, mostrando que a velha ideia de que política não se discute ficou perdida nas gerações anteriores. “Procuro sempre debater em família e com amigos, pois como afeta todo o país, acredito que deva ser um tema aberto para discussões” afirma a estudante Ana Maria Elisiário, 17.
Visão dos Partidos
“Os jovens precisam ser motivados. Com bons exemplos, com histórias de decência, com valores e princípios éticos. A conscientização política precisa vir também da escola, dos mestres, dos pais. Hoje, o país respira política por todos os lados. Os candidatos expõem seus pontos de vista e seus programas. Não existe melhor momento que este para que os jovens possam fazer a sua avaliação e tomar as suas decisões”, afirmou o ex-presidente Michel Temer em artigo para a Câmara dos Deputados em 2010, quando era presidente da casa.
Agora, surge uma necessidade de reinvenção por parte dos partidos para se comunicar com esse novo público. Segundo Paulo Roberto, “qualquer força política com aspirações à efetiva possibilidade de vitória eleitoral não pode negligenciar esse contingente de eleitores e tem que desenvolver uma série de desenhos de políticas públicas como ferramentas também para chegar a um conjunto de propostas que possam incidir sobre a vida dessas pessoas e desse público alvo”.
Dessa maneira, os partidos criam novas formas de comunicação e políticas que permitam a identificação por parte da juventude brasileira. O pesquisador ainda afirma que os mais jovens tendem a se guiar muito mais pela imagem do que por propostas concretas feitas pelos candidatos. Por isso, não será feita apenas a inclusão de pautas dedicadas a esse público nos programas do governo, mas também a construção de personagens que carregam significados para os mais novos e permitam a sua aproximação no universo eleitoral.
O Partido Liberal (PL), que hoje representa o atual presidente Jair Bolsonaro na busca pela reeleição, afirma que há sim projetos voltados para a juventude e sua inclusão na política em desenvolvimento por eles. “Acreditamos que a tecnologia e as mídias sociais são fortes aliadas para chegar a esse público, já que um dos grandes desafios dos partidos políticos é engajar e ter alguém dentro do Partido que seja referência”, afirma a assessoria de imprensa do partido. “Neste caso, temos uma das vozes mais expressivas dentro do cenário político mineiro, o vereador Nikolas Ferreira, que atrai a atenção deste público”, completam. Nikolas Ferreira (PL) coordena o movimento Direita Minas que está presente em várias cidades do estado.
O Partido dos Trabalhadores (PT), relata que projetos voltados para a juventude já existem e são executados dentro do grupo. “Nós temos aqui no partido uma Secretaria de Juventude que existe no nível nacional, mas também no estadual e municipal. Quem compõe essas secretarias são os jovens em vários espaços bem organizados. […] Eles atuam muito nas faculdades, nas universidades, participando dos movimentos estudantis, mas também participam dos movimentos sociais e populares”, diz Jean Piter, assessor de comunicação do PT-MG. Jean também explica que o partido dá o suporte necessário para esses jovens, sediando eventos, encontros estaduais da juventude e cursos de formação que ajudem na construção do conhecimento da faixa etária.
A equipe tentou contato também com o Partido Democrático Trabalhista (PDT), porém não obteve resposta até a publicação da reportagem.
Reportagem produzida por Gabriel A. Sousa, Julia Salim, Larissa Guimarães, Marcos Costa e Mariana Coelho para a disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da prof. Fernanda Sanglard.
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