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Teuda Bara: “O Teatro é a minha vida”

Teuda encontrou no teatro uma forma de se salvar, de fugir das angústias e vivenciar outras realidades, uma forma de encontrar força em si.

Teuda Bara é uma das atrizes mais memoráveis da história do teatro brasileiro. Seu legado é fruto de uma vida dedicada à arte e ao público pela perspectiva de uma mulher presente, alegre e engajada, que encontrou no palco e nas narrativas a força que precisava para viver.

Conversamos com Teuda na semana em que foi celebrado o Dia Mundial do Teatro (27 de março) na sede do Grupo Galpão, no Horto, em Belo Horizonte. Em uma recepção amigável na tarde de quarta-feira, ela compartilhou com o Colab sua história e a centralidade da arte na sua vida.

O chamado

Desde criança, Teuda teve muitas influências artísticas: seu pai e sua mãe a criaram em meio à música, e ela participou de diversos teatros infantis em sua escola, além de ter presenciado a arte em circos. Ela conta sempre ter tido um fascínio muito grande na poesia e política presentes na arte, e que sua primeira experiência no teatro foi se apresentando com o grupo escolar: “As salas tinham que apresentar em datas comemorativas, você tinha que representar, representava as coisas todas, Tiradentes, Descoberta do Brasil…”.

Foi durante a faculdade que Teuda Bara entendeu que caminho queria seguir. Ela estudava Ciências Sociais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas não gostava do curso. A linguagem acadêmica a distanciava do seu objeto de interesse: a política. Para ela, era maçante a forma como os intelectuais escreviam para eles mesmos e prezavam por uma comunicação que não abrangia o público comum. Teuda não se identificava com esse universo. Em contraste com a frieza que sentia em sala de aula, experimentou a arte em outros ambientes da Universidade, como no teatro-jornal (prática de teatralizar notícias) que participava e no trabalho no Diretório Estudantil Acadêmico (DEA).

Em visitas como as de Gilberto Gil para a Universidade, ela conta que se sentia puxada pela arte. Nessas experimentações, encontrou o que queria fazer da vida: o teatro. Então, trancou o curso no terceiro ano e foi viver daquilo que se tornou sua missão de vida.

Uma artista de vivência

Teuda Bara não se profissionalizou em um curso de teatro, sua formação artística aconteceu a partir da experiência prática. Quando largou as Ciências Sociais, foi trabalhar como assistente de direção de Eid Ribeiro, diretor, autor, roteirista e ator mineiro, que também é curador e diretor de programação do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua em Belo Horizonte. Mas essa dinâmica não funcionou para ela, já que, durante a improvisação dos atores, era levada para aquele mundo, dispersando-se de sua função de assistente, que durou um dia. Ela foi dispensada, mas podia ficar na produção, aprendendo a fazer  teatro. Nesse processo, participou de tudo que a produção de uma peça demandava: foi atrás de patrocinador, divulgou peças na rua, foi em lojas em busca de figurinos, ajudou nos elementos de palco e muito mais. 

No ensaio de uma de suas primeiras peças, “Viva o Legado”, com direção de seu amigo Eid Ribeiro, Teuda conta que foram a um “bar de zona ruim”, onde foram aprender a viver o ambiente. Essa prática de visitar lugares relacionados à temática do trabalho é comum no teatro, para que a pessoa absorva mais da perspectiva do personagem, e essa foi uma das muitas formas como Teuda aprendeu a fazer arte. Ela sempre foi uma observadora: “Muito do que aprendi foi assistindo a outras peças, comparecendo a todos os cursos, monitorias e oficinas de teatro que eram ministradas na cidade”.

Em Belo Horizonte, fundou o grupo Fulias Bananas, mas logo depois foi trabalhar em São Paulo com o diretor José Celso Martinez, fundador do Teatro Oficina na capital paulista. Um ano depois, voltou para sua cidade natal, participando da Oficina do Teatro Livre de Munique, uma das experiências mais enriquecedoras de sua carreira. Apesar da dificuldade na comunicação, já que os ministros da oficina eram alemães e não falavam português, o grupo participante conseguia se comunicar com o pouco de inglês que sabiam. 

A diferença na cultura foi um ponto notório na prática da oficina: havia um contraste entre a forma como o teatro era tratado pelos alunos brasileiros e os ministrantes alemães. Teuda conta que em uma das atividades de improviso ela mordeu uma maçã durante o exercício de seu colega e o instrutor a repreendeu pelo desrespeito com o colega, a equipe e à arte.

“Para eles, o teatro é questão de disciplina! Era uma disciplina séria. A gente não tinha essa noção aqui, sabe? A gente ensaiava com gente passando no meio do corredor, na sala que a gente estava ensaiando tinha gente comendo, bebendo, falando”.

Depois dessa oficina, Teuda Bara criou o Grupo Galpão com colegas que também participaram da atividade com os alemães. Com o Grupo, ela desenvolve até hoje a maioria dos espetáculos, e foi com ele que atuou na maior parte de sua vida.

O Grupo Galpão desempenha um papel fundamental na promoção e preservação das tradições teatrais. Sua abordagem inovadora e compromisso com a inclusão social têm influenciado gerações de artistas e espectadores, tendo um impacto significativo na formação de novos talentos e na democratização do acesso ao teatro, tornando-se uma força vital na cena cultural do Brasil e além.

Durante sua carreira, Teuda viajou o Brasil e o mundo apresentando diversas peças, participou de filmes e novelas, venceu sete de onze prêmios aos quais foi indicada, como o Prêmio Questão de Crítica, Prêmio Cenym de Teatro e o FECIN (Festival de TV e Cinema do Interior).

Foi uma das atrizes mais presentes na cultura popular e passou a vida defendendo o teatro como forma de arte e política. “O teatro é uma coisa deliciosa. Vocês têm que ter cuidado com o teatro. Como representar, sabe?”

Teatro como missão de vida

Teuda encontrou no teatro uma forma de se salvar, de fugir das angústias e vivenciar outras realidades, uma forma de tirar de si forças que, muitas vezes, nem imaginava ter. O teatro diverte, contagia, critica e denuncia, e é através dele que Teuda se comunica com as pessoas, cria contato e memórias, é a sua forma de vivenciar o mundo. “O personagem para mim é como você consegue interpretar um texto dando vida a ele. Então, você passa a fazer parte”.

Ela não se encontrou em textos acadêmicos pois fugia daquela linguagem inacessível, ela se encontrou na linguagem popular, na força e na potência que a arte lhe concede, para criar um mundo em comum com aqueles que também a buscam. Foi nessa jornada de desbravar a cultura que Teuda Bara garantiu seu espaço na memória popular como uma presença singular.

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Rayssa Moura

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