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Foto: Leandro Couri/Maio de 2021 teve o maior índice de focos de queimada para o mês desde 2007

Estação do ano: queimadas

Minas Gerais entrou em estado de alerta devido aos riscos de incêndio no período seco

Este ano tem sido marcado por aumento na quantidade de queimadas em Minas Gerais. Segundo dados do Instituto Estadual de Florestas (IEF), foram registrados 38 incêndios nas unidades de conservação do estado entre janeiro e abril de 2021, ante 16 em 2020. Já o mês de maio deste ano foi o que concentrou maior número de ocorrências em comparação com o mesmo mês dos últimos 14 anos, conforme a série histórica realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

De acordo com os dados do Programa Queimadas, do Inpe, somente no mês de maio foram detectados 382 focos de queimada ativos em Minas Gerais. O índice é o segundo mais alto desde o início do monitoramento, em 1998. A alta no número de queimadas continua em junho, com 352 focos ativos detectados até o dia 20. Confira no gráfico o comparativo do número de focos de queimada registrados nos últimos seis anos.  

#ParaTodosVerem: O gráfico de barras mostra a quantidade de focos de incêndio registrados entre janeiro e maio em Minas Gerais. Em 2016, foram registrados 599 focos, em 2017, 443; em 2018, 438; em 2019, 608; em 2020, 525 e em 2021, 898 focos de incêndio, o que demonstra que 2021 teve um número de ocorrências maior do que em todos os anos citados anteriormente. Fonte: Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Influência climática  

Em entrevista ao Colab, o tenente do Corpo de Bombeiros Pedro Aihara afirma que o aumento das queimadas em relação aos anos anteriores se deve, principalmente, a uma condição ambiental que é mais específica: o fato de ter havido um período chuvoso menos intenso. 

Conforme Aihara, chuvas menos intensas e com menor regularidade, com índices de umidade relativa do ar mais baixa e com o aumento de temperaturas médias em alguns locais, proporcionam um cenário favorável à propagação mais rápida dos incêndios, e a expectativa é que se observe aumento ainda maior nos meses de julho a setembro. Além disso, o tenente afirma que Minas Gerais tem uma condicionante específica que demanda preocupação, com o fato de ser um estado em que o relevo dominante é composto por muitas serras e montanhas, que formam corredores de ventos nesses locais e facilitam propagação mais rápida e intensa dos focos de incêndio em ambientes florestais.

Levantamento realizado pela Cemig aponta que cerca de 30 mil clientes ficaram sem energia entre janeiro e abril de 2021, após 32 interrupções serem registradas na área de concessão da empresa. Todas elas foram causadas por focos de incêndio. No mesmo período de 2020, foram cerca de 3,5 mil clientes sem energia após incêndios atingirem a rede elétrica, sendo registradas 31 interrupções causadas pelo fogo na área atendida pela companhia.

É difícil prever quantos focos de incêndio irão acontecer no ano, considerando que as estações chuvosas e secas têm se tornado cada vez mais inconsistentes, como explica o meteorologista do Inmet Lizandro Gemiacki. “Isso é um fenômeno que a gente tem observado recentemente, um ano chove muito e em outro chove quase nada. Períodos chuvosos são bem intensos e os períodos de seca podem ser bem mais longos”, afirma o meteorologista. Os últimos dois anos são exemplos desse fenômeno, como a diferença das chuvas entre o mês de janeiro de 2019 (88,6mm) e janeiro de 2020 (934,7mm). 

Gemiacki também aponta 2021 como um ano mais seco. “Este ano tivemos o agravante de que a estação seca começou em meados de março na maior parte do estado. Ela começa geralmente em meados de abril, então estamos com um mês a mais de estação seca.” Ao observar a quantidade de chuvas em Belo Horizonte neste ano (ver gráfico), é possível ver como os números estão abaixo da média.  No mês de abril, por exemplo, choveu apenas seis milímetros na capital, número distante da média histórica para o mês, que é de pouco mais de 90 milímetros. Confira abaixo o comparativo das chuvas no início do ano em Belo Horizonte.

#ParaTodosVerem: o gráfico de linhas apresenta uma comparação das chuvas em Belo Horizonte entre os anos de 2019 a 2021, em milímetros. Em janeiro de 2019, foram registrados 88 milímetros. Em fevereiro, 223; em março, 135 e em abril, 84. Em janeiro de 2020, o registro foi de 934 milímetros; em fevereiro, 391; em março, 295 e em abril, 97. Em janeiro de 2021, foram registrados 309 milímetros. Em fevereiro, 431; em março, 137 e em abril, 6.

Consequências das queimadas 

Neste período do ano, que é marcado pela baixa umidade do ar e escassez de chuvas, é muito comum vermos pessoas realizando queimadas, um tipo de prática agrícola muito antiga e ainda usada, tanto na área rural quanto urbana. Porém, em alguns casos essas ações podem sair do controle. A utilização da queima para limpeza de pastagens só é permitida com licença ambiental, ou seja, a prática indevida dessas ações, tanto na zona rural quanto na urbana, é crime previsto em uma série de códigos ambientais e legislações estaduais, conforme explica o tenente Pedro Aihara.

Atitudes que às vezes parecem simples, como atear fogo para queimar o lixo recolhido no quintal são possíveis de provocar um incêndio florestal de grandes proporções e muitas vezes irreparável. Especialistas do IEF reforçam o quanto a população precisa ser consciente em relação à conservação ambiental para a preservação do meio ambiente e de vidas, já que um incêndio florestal é capaz de causar um “efeito borboleta” em toda uma cadeia.

De acordo com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais,
99% dos incêndios florestais são provocados por ações humanas.

O tenente do Corpo de Bombeiros faz um apelo para que as pessoas se conscientizem e procurem outras alternativas para auxiliar na limpeza, como o uso da capina tradicional e das roçadeiras. “As questões ambientais logicamente influenciam na propagação do incêndio, mas o que realmente é o gatilho para que se inicie o processo é sempre, praticamente de forma invariável, a gente tem uma estatísticas acima de 99%, é a ação humana. Então o que a gente pede a todas as pessoas é que, já que não podemos controlar a natureza, as temperaturas médias e o índice de umidade, que a gente controle a nossa atitude”, orienta Aihara.

#ParaTodosVerem Na sequência de fotos, árvores e vegetação rasteira queimadas em meio à fumaça, com pequenas partes da vegetação ainda em chamas baixas. Um brigadista com roupas de proteção usa mangueira para apagar fogo em vegetação rasteira seca. Há bastante fumaça no ambiente. Conjunto de brigadistas utilizam mangueiras e vassouras-de-bruxa para combater o fogo em vegetação seca. É possível notar que a cor amarela e alaranjada do sol está intensificada devido à fumaça.

Grandes queimadas deixam rastros de destruição, e se engana quem pensa que as consequências são só locais, na área onde o fogo está concentrado, como afirma Lizandro Gemiacki. A poluição e a fumaça – consequências desses desastres – podem ser sentidas a quilômetros de distância, além de serem um dos principais problemas ambientais do nosso país. Uma queimada sem controle pode causar sérios prejuízos à fauna e à flora, reduzindo a cobertura vegetal e provocando  diminuição da fertilidade do solo, extinção de nascentes, mortes de animais silvestres e comprometimento da qualidade do ar, causando assim vários tipos de doenças à saúde humana, principalmente respiratórias. 

Dados da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) mostram que quando uma queimada ocorre, altas concentrações de poluentes nocivos à saúde são lançadas no ar em um curto espaço de tempo, como monóxido de carbono (CO), material particulado em diferentes frações, compostos orgânicos voláteis (COV), monóxido de nitrogênio (NO), dióxido de nitrogênio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2). 

Telefone para fazer denúncia ambiental: 155 – opção 7

Matéria produzida pelos alunos de Jornalismo da PUC Minas: Alice Lobo, Letícia Mendes e Veronica Izequiel.

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