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Crédito: Brett Sayles

Por que não existe alta-costura no Brasil?  

Entenda o que é alta-costura e por que as marcas brasileiras não podem usar essa nomenclatura  

Diferentemente do que o senso comum acredita, alta-costura não é apenas um sinônimo de qualidade de roupa. Alta-costura é uma designação protegida por lei, concedida pelo Ministério da Indústria da França. Essa designação qualifica uma confecção manual e específica para marcas que seguem uma série de regras estabelecidas pela Federação de Alta Costura da França.  

As regras são rígidas e garantem que o padrão de qualidade seja mantido. É preciso ter ateliê em Paris, apresentar duas coleções por ano (com no mínimo 35 looks), fazer peças sob medida para seus clientes (com pelo menos uma prova de roupa), realizar toda a construção da peça à mão e ter ao menos 15 artesãos em seu ateliê.  

Atualmente, existem apenas 15 maisons (casas de alta-costura): Adeline André, Alexandre Vauthier, Alexis Mabille, Bouchra Jarrar, Chanel, Christian Dior, Frank Sobier, Giambattista Valli, Givenchy, Jean Paul Gautier, Julien Fournié, Maison Margiela, Maison Rabih Kayrouz, Maurizio Galante, Schiaparelli e Stéphane Rolland. Marcas não francesas também são convidadas a apresentar coleções de alta-costura como membros correspondentes. Essas marcas – por seu compromisso com a qualidade e técnicas luxuosas – são convidadas a desfilar nas semanas de alta-costura. Ralph & Russo, Miss Sohee, Giorgio Armani Privé e Elie Saab são alguns dos membros convidados.  

Existe alta costura no Brasil?  

Crédito da fotografia: Jacline Addis Ababa

A resposta simples é: não. Como dito anteriormente, só podem ser chamadas de maisons de alta-costura as marcas francesas que estão inscritas pelo Ministério da Indústria da França.  

Ainda assim, temos figuras como Reinaldo Lourenço, que é conhecido como o “rei da alta-costura brasileira” por seu primor e criatividade de suas criações. No entanto, a nomeação que ele mesmo coloca em suas coleções (Couture) está equivocada. Não que suas peças tenham menos qualidade que as peças produzidas pelas marcas francesas, mas essa terminologia só pode ser utilizada pelas marcas sediadas lá.  

Patricia Bonaldi e Misci são marcas brasileiras de altíssima qualidade que também são comparadas à maisons francesas. No entanto, essa comparação que a priori parece ser positiva, divide opiniões. Enquanto uns acreditam ser plausível importar essa nomenclatura, outros defendem que a moda brasileira não precisa de termos estrangeiros para garantir sua qualidade.  

Foto: Noel Tracy

Profissionais da área criticam restrição do uso do termo 

Marlene Mukai, YouTuber do ramo da moda e designer brasileira, defende que nenhum outro país além da França deve utilizar esse termo. Ela cita a Itália, que utiliza “Alta Moda” como equivalente. No entanto, há quem acredite que o Brasil pode, sim, fazer uso da denominação para valorizar a moda nacional. Rayssa Júnia, estudante de Moda da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que a alta costura no Brasil não é valorizada: “Infelizmente os brasileiros não dão valor à moda, sempre preferem olhar para os designers do exterior”. Nayara Fernandes também é designer de moda e concorda: “O Brasil tem alta costura, porém não sabe reconhecer isto, marcas como Misci e Dendezeiro, são um exemplo”. Marina Barcellos é estilista e diz que a relação que os europeus e o brasileiros têm com a moda é diferente, uma vez que o poder de compra é diferente. Assim, a questão da nomenclatura também é impactada, já que, segundo ela: “os brasileiros não têm tempo para se importar com moda”.  

Cairo Machado

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