Colab
Branca Vianna, da Rádio Novelo, no palco do JFest 2025 // Foto: Isabella Silva

O poder da escuta: Branca Vianna fala sobre jornalismo narrativo no JFest 2025

Fundadora da Rádio Novelo, referência em narrativas em áudio no Brasil, compartilhou histórias e dicas de sua trajetória

“Faz. Vai lá e faz.” O conselho, direto e encorajador, foi dado por Branca Vianna a estudantes que desejam iniciar projetos em áudio. Fundadora e presidente da Rádio Novelo, Branca esteve na PUC Minas na manhã do dia 26 de maio para abrir a 6ª edição do JFest. A palestra, realizada no auditório 3 do famoso Titanic (Prédio 43) do campus Coração Eucarístico, trouxe uma conversa inspiradora sobre produção de podcasts, construção de histórias e o papel do áudio na comunicação contemporânea.

Ítalo Damasceno recebendo prêmio da Profa. e Coord. Viviane Maia // Foto: Pâmella Ribeiro/LabFoto Coreu

Contudo, antes da conversa com Branca Vianna, um momento especial marcou a abertura do JFest: a premiação do aluno destaque do primeiro semestre de 2025. Ítalo Sérgio Lemos Damasceno, do 2º período de Jornalismo, recebeu o reconhecimento por seus méritos acadêmicos, conquistando o prêmio por suas notas e dedicação. Sua conquista serviu como um incentivo ao talento dos estudantes da PUC Minas.

Em seguida, durante a conversa, mediada pela professora Verônica Soares, do curso de Jornalismo da PUC Minas, que também coordena o Colab (Laboratório de Comunicação Digital da Faculdade de Comunicação e Artes), Branca compartilhou aprendizados acumulados ao longo da sua trajetória e falou sobre o que considera essencial para uma boa narrativa sonora. “Você tem que ter um personagem com o qual o ouvinte vai se identificar, sentir raiva, rir, chorar. Alguma coisa tem que acontecer entre eles”, afirmou. Segundo ela, é essa conexão que sustenta o interesse do público e que, embora o podcast soe informal, nada é improvisado. “A gente escreve tudo, tudo ali é lido. Tem transcrição no site, cada ponto e vírgula está lá.” O cuidado com o roteiro, disse, garante ritmo, clareza e precisão — ingredientes fundamentais para envolver o ouvinte.

Branca também revelou que sua experiência como tradutora simultânea foi fundamental para moldar sua percepção sobre a comunicação oral. Ela enfatizou a facilidade em usar a própria voz e o microfone, algo que muitos enfrentam dificuldade, e ressaltou como a prática da tradução a ensinou a “realmente ouvir o que a pessoa está falando”, uma habilidade essencial para o jornalismo.

Ao ser questionada sobre o impacto de projetos como Praia dos Ossos e Crime e Castigo, Branca destacou que o podcast é mais do que uma forma de informar: ele oferece uma experiência narrativa imersiva. Para ela, o áudio cria uma intimidade com o ouvinte que o jornalismo impresso ou visual nem sempre alcança. Ela descreveu o podcast como uma “espécie de descanso sensorial”, destacando como ele se integra à rotina das pessoas naturalmente. Além disso, o efeito dessas produções vai além da escuta individual. Praia dos Ossos, por exemplo, gerou debates dentro do Judiciário e abriu portas para conversas com magistrados e instituições do Direito. Branca ressaltou o impacto impressionante do podcast nesse meio. Para ela, “A mídia tem poder de gerar impacto, e isso requer responsabilidade”.

Essa responsabilidade também aparece nas escolhas editoriais da Rádio Novelo: a equipe mantém uma planilha em que mapeia quem são os personagens retratados, levando em conta aspectos como raça, gênero, região e deficiência. A intenção é garantir a diversidade, tanto na equipe quanto nas histórias. “A gente olha com frequência para ver se estamos se representando bem”. Para ela, essa preocupação não é só ética, mas estratégica: amplia o alcance, o impacto e a relevância das narrativas.

Por outro lado, entre as falas mais marcantes da manhã, uma ganhou silêncio e concordância da plateia: “Nenhuma pauta vale destruir a vida de alguém. Zero pautas valem isso.” Ao falar sobre entrevistas com pessoas comuns — muitas vezes envolvidas em situações delicadas ou traumáticas — Branca reforçou que o respeito ao entrevistado dever estar acima de qualquer audiência. “A pessoa pode achar que está ajudando ao falar com a imprensa, mas cabe a nós medir o que pode ou não prejudicá-la”. 

Branca Vianna durante o evento JFest 2025 // Foto: Pâmella Ribeiro/LabFoto Coreu

Adicionalmente, ela também deu pistas do que faz uma pauta ser aceita pelo Rádio Novelo. Além de um arco narrativo bem definido e personagens fortes, é preciso que a história diga algo maior do que ela mesma, o que a equipe da Novelo chama de ‘segundo andar’. Afinal, como Branca fez questão de frisar, uma história sobre o avô, por mais cativante que seja para o neto, precisa encontrar um significado mais amplo para o público geral — um convite a ir além do pessoal.

Finalmente, ao fim da conversa, que desde o início se mostrou um espaço aberto para perguntas e reflexões, Branca Vianna respondeu a estudantes sobre o mercado de trabalho e os desafios de começar. Ela compartilhou critérios para contratar freelancers, erros comuns que impedem pautas de decolar e o que espera de quem deseja trabalhar com narrativa em áudio. E, com a mesma simplicidade e incentivo do conselho que abriu o texto, sua reposta final reafirmou o essencial: “Mostra seu trabalho, aceita crítica, aprende fazendo. Se você tem uma boa ideia, começa. Vai lá e faz.”

Rádio Novelo: o laboratório do áudio narrativo brasileiro

Criada em 2019, a Rádio Novelo é responsável por podcasts como Praia dos Ossos, Crime e Castigo, Tempo Quente e Rádio Novelo Apresenta. A produtora reúne uma equipe diversa e colaborativa, com cerca de 20 pessoas entre jornalistas, roteiristas, sonoplastas e editores. Referência no formato narrativo, a Novelo se tornou uma escola para quem quer entender o potencial do jornalismo em áudio no Brasil.

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Marina Saddi

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