Apesar da crença de que o universo de músicas clássicas é inacessível e elitizado, a realidade se mostra mais propensa ao acesso do público às produções artísticas. O maestro regente da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Fabio Mechetti, comenta: “É preciso distinguir as noções de excelência, qualidade, daquelas do elitismo ou da exclusividade. Temos investido, com resultados palpáveis, na qualificação profissional de uma nova geração de músicos brasileiros, muitos deles advindos das classes mais baixas da sociedade, que veem, na música, um ideal de esperança”.
A dificuldade, entretanto, está na oportunidade, conforme argumenta Fabio Mechetti, da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. “Temos, no Brasil, músicos, compositores, regentes, que minguam devido à falta de oportunidades de desenvolverem seus trabalhos, seja de formação, seja de divulgação ou desempenho. Em um país com mais de 200 milhões de habitantes, a 10ª economia no mundo, ter somente um punhado de orquestras profissionais onde esse talento possa desaguar é bastante frustrante”, lamenta Mechetti.
É importante que o incentivo à cultura aconteça desde a tenra idade, inspirando jovens a aspirar futuros em uma carreira musical. “A pessoa que não tem oportunidade, se ela entrar numa orquestra, se ela entrar numa escola pública, numa universidade pública, ela pode achar uma possibilidade futura. É o meu caso”, conta o maestro e pianista Ramon Theobald. Ele estudava na Escola Municipal Robert Kennedy, na cidade de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, que teve problemas para manter o coral com os estudantes, onde Ramon teve o primeiro contato com a música. Já apaixonado pelo canto, conseguiu integrar outro tradicional coral da cidade, o coral dos Canarinhos, de onde saiu para ingressar na formação superior na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Após se formar na UFRJ em 2016, Ramon iniciou sua carreira trabalhando como pianista no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde atuou como pianista do coro e das produções do teatro. Devido às dificuldades de se viver de arte no Brasil, mas com as possibilidades de se aprimorar fora, ele se mudou para a Europa. Passou para as audições dos Ópera Estúdios de Roma e Paris. Atua desde 2021 como membro da Academia de Ópera de Paris. A ida à Europa é um percurso comum para artistas brasileiros que desejam seguir no ramo, mas não é o único possível.
Não é todo mundo que quer vir para a Europa, e não tem que ser todo mundo que quer ir para a Europa. Porque o Brasil é um país rico, interessante, culturalmente rico”.
Ramon Theobald
Incentivo ao mercado brasileiro
“A maioria das instituições estabelecidas, clássicas do mundo, tem uma preocupação muito grande com a formação de público novo, com a acessibilidade”, conta Ramon Theobald. Ele destaca iniciativas de diversas orquestras que proporcionam atividades ao público amplo, como ensaios abertos e concertos gratuitos. A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, por exemplo, apresenta projetos voltados à integração de crianças e adolescentes de escolas públicas. Também o Teatro Municipal do Rio de Janeiro sempre disponibiliza concertos gratuitos em seu aniversário.
Universidades do país também realizam projetos populares para a divulgação de peças musicais e informações acerca delas. Alguns exemplos são Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual de Campinas (Unicap), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade de Brasília (UnB).
Entendendo a riqueza e potência cultural do Brasil, Ramon Theobald elaborou um projeto para incentivar artistas brasileiros e estrangeiros que percebam o Brasil como um lugar proveitoso, chamado Ópera-Estúdio. “Se uma pessoa quer fazer uma carreira no Brasil, a gente quer apoiar ela também, dar ferramentas para ela também ter uma carreira aqui”, diz.
Projeto Ópera Estúdio Brasil
O projeto Ópera Estúdio Brasil, inicialmente preparado para o Rio de Janeiro, foi aprovado pela Lei Rouanet e pretende facilitar a formação de cantores e músicos de ópera brasileiros. Inspirado em modelos europeus de ópera estúdios, pretende oferecer uma etapa pré-profissional em teatros renomados, proporcionando uma plataforma para jovens talentos que desejam ingressar no mercado de ópera.
Os idealizadores, o maestro e pianista Ramon Theobald e o cantor Michel de Souza, já estruturam um plano para trazer ao Brasil professores europeus que trabalharão em parceria com professores brasileiros na formação de novos músicos. Essa integração busca promover mais profundamente o mercado nacional de ópera no cenário internacional.
“A dificuldades dos jovens é ir para o Brasil, porque o mercado no Brasil funciona, mas não está muito integrado ao mercado internacional de ópera ultimamente. Então, queremos proporcionar esse encontro,” informa o maestro.
O projeto está em fase de captação de recursos para viabilizar despesas como cachês de professores estrangeiros e custos associados às suas viagens, o que é dificultado por fatores econômicos relacionados ao câmbio de moeda para os pagamentos. A equipe organizadora está sendo composta, com o alinhamento da agenda de professores estrangeiros sendo um fator determinante na definição dos participantes.
O projeto, idealizado há mais de um ano, não apenas abrirá portas para aspirantes a músicos, mas também fortalecerá a presença e a reputação da ópera brasileira no contexto global, oferecendo novas oportunidades de desenvolvimento profissional e cultural.
“Se uma pessoa quer fazer uma carreira no Brasil, a gente quer apoiar ela também, quer dar ferramentas para ela também ter uma carreira no Brasil”, declara Ramon Theobald.
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