O futebol é a paixão nacional, e principalmente, a paixão do nosso estado, Minas Gerais. Um dos maiores palcos desse esporte no Brasil e no mundo é o Mineirão. Mas, no primeiro semestre de 2023, o Gigante da Pampulha passou por um momento conturbado, quase não recebendo jogos de futebol.
Por ser um grande símbolo do esporte, o Mineirão tem importância cultural e socioeconômica na cidade de Belo Horizonte. Ele é um ícone do futebol brasileiro e de toda sua cultura. Além disso, várias famílias dependem do estádio para seu sustento. Comerciantes locais – donos de bares e restaurantes – também são diretamente dependentes de eventos no estádio, além de ambulantes e trabalhadores temporários e autônomos.
Mudanças na relação do Mineirão com a cidade e as pessoas foram intensificadas com as obras para adaptação do estádio ao padrão Fifa para a Copa do Mundo de 2014. Novos setores, instalações esportivas e turísticas foram renovadas, como a criação da Esplanada. Após as obras, ao mesmo tempo em que o Mineirão voltou a ser casa de jogos de futebol, o Governo de Minas optou por um contrato de concessão pública do estádio, então, a Minas Arena passou a gerenciar o local. Desde então, os dois maiores clubes de Belo Horizonte, Cruzeiro e Atlético, são obrigados a negociar os contratos de utilização do estádio com a empresa caso queiram jogar no Mineirão.
Entretanto, as ressalvas e duras críticas ao contrato de concessão e ressalvas sobre a situação contratual dos clubes com o estádio se intensificaram. Depois de celebrarem grandes momentos e partidas, além de títulos de Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Libertadores da América, o Cruzeiro se recusou a jogar no Mineirão nos primeiros meses de 2023, e o Atlético enfrentou problemas com o gramado e multas.
A falta de jogos
O primeiro semestre de 2023 foi um período atípico para o estádio, que recebeu apenas 12 jogos até o mês de junho, muitos deles, em situação precária para a qualidade dos jogos de futebol.
Em 2023, o Atlético anunciou a inauguração de seu novo estádio: a Arena MRV. Então, o Mineirão passou a se preparar para a ausência do clube no estádio, marcando mais eventos não esportivos e shows para complementação de sua renda e utilização de seu espaço ao longo do ano. O Cruzeiro, por outro lado, em meio à transição organizacional para Sociedade Anônima do Futebol (SAF) de Ronaldo Fenômeno, revisou o contrato que o clube tinha com a Minas Arena. Nessa revisão constatou-se que esse contrato era nocivo. Além disso, o clube se sentiu prejudicado com a perda de espaço que sofreria com o aumento no número de shows. Então, publicamente, rompeu por completo sua relação com a concessionária, passando a mandar seus jogos no Independência.
Os clubes não foram os únicos incomodados com a parte contratual da Minas Arena. O Governo do Estado, proprietário do Mineirão, passou a também questionar a situação de seu contrato de concessão com a Minas Arena. Inclusive, a Assembleia Legislativa do Estado montou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a situação do acordo e investigar possíveis irregularidades.
Motivos
O crescimento do número de shows pode ter diversas explicações, mas o que foi o fator determinante? O primeiro questionamento que vem a mente seria a falta de público nos dias de jogos. Mas de acordo com números divulgados pelo próprio estádio à reportagem, o público e a renda nos dias de jogos teve um aumento nos últimos anos.
Confira os gráficos da média de público:
Observa-se um aumento expressivo da média de publico em 2022, após os anos de isolamento social da pandemia, especialmente 2020, em que o estádio permaneceu fechado.
Já o gráfico abaixo, mostra a disparidade entre a renda obtida pela Minas Arena com eventos, comparada com o grande volume de receitas anuais obtidas com os jogos, desde 2013. Os dados foram obtidos em coletiva de imprensa e pesquisas com dados até o final de 2022:
Em consonância com os dados, também em entrevistas recentes, representantes da Minas Arena já confirmaram que a maior parte da renda do estádio vem de jogos de futebol. Isso seria um incentivo para a marcação de mais jogos e uma queda no número de shows. Porém, vemos um crescimento exponencial do número de shows em detrimento dos jogos, conforme gráfico abaixo:
Portanto é difícil entender o motivo da prioridade olhando apenas números. Para saber mais, devemos olhar as dívidas dos clubes mineiros com a Minas Arena. De acordo com o jornalista Jorge Nicola, somente o Cruzeiro tem uma dívida de quase R$30 milhões com a concessionária. Além disso, o contrato entre a Minas Arena e o estado é nociva aos cofres públicos. Existe uma cláusula no contrato que prevê uma arrecadação mínima que a Minas Arena deve ter. Caso não atinjam esse número, o estado é obrigado a completar a receita, logo, a concessionária nunca perde.
Impactos socioeconômicos
Se o Mineirão virou casa de shows, como isso afeta a população local?
Os mais afetados por toda essa situação foram pessoas que dependem do funcionamento do estádio e da movimentação econômica da região. Comerciantes informais, bares e restaurantes, hotéis e locais de hospedagem, além dos moradores locais e também de parte da população da capital mineira, sofrem as consequências das decisões tomadas por executivos e entidades envolvidos.
Segundo o gerente do Hotel Stop Inn Plus, um dos locais de hospedagem mais procurados da região por turistas, não há muita diferença na locação de quartos em dias de jogos e dias shows. Porém, a mobilidade urbana afeta bastante a condução de funcionários ao local nos dias de jogos. Já nos dias de eventos não esportivos, não há complicações em questão de organização e mobilidade urbana.
Comerciantes informais também sentem diferenças entre os eventos. Vendas de alimentos e produtos também sofrem alterações. Além disso, moradores, que enxergam a situação com maior proximidade, também sentem alterações e os impactos da falta de jogos para a cultura do local. Alguns tendem a preferir a realização de jogos, que seria a função social primária do estádio.
Então o Mineirão virou casa de shows? Clique e confira o vídeo completo explicando toda a situação.
Reportagem produzida por Eduardo Naoum e João Miguel Prates para a disciplina Laboratório de Jornalismo Digital no semestre 2023/1, sob a supervisão da professora Verônica Soares.
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