O Kpop é um dos gêneros musicais que mais movimenta o mercado musical, com grupos como BTS e Black Pink tendo vídeos com mais de um bilhão de visualizações no YouTtube e quase 45 milhões de ouvintes mensais somados no Spotify. BTS é um grupo de tamanho sucesso que foi o primeiro a bater 23 recordes diferentes relacionados a streaming e venda de música, além de ter alcançado prestígio político ao se apresentar e discursar na ONU, em setembro de 2021, a favor da vacinação.
O estilo, focado em danças coordenadas e alto nível de performance em músicas que juntam canto com rap, começou na música pop sul-coreana nos anos 1990 com o grupo Seo Taiji and Boys. Diferente de tudo o que havia na época, o grupo fez imenso sucesso e revolucionou a música coreana. Após o fim do Seo Taiji and boys, a consolidação do kpop se deu pelo empresário Lee Soo Man, que buscou uma maneira de criar o que a banda tinha, porém, em larga escala. Nisso, inspirado pelo sistema de treinamento dos Jackson 5 na década de 1960, criou um modelo industrial de formação de artistas multifacetados em sua empresa, a SM Entertainment, que hoje é uma das bases do kpop, e está entrando no mercado ocidental.
A entrada no mercado ocidental
“O kpop surgiu com grandes influências da cultura ocidental e da música norte-americana. Agora, com a crescente popularidade do kpop, artistas ocidentais têm buscado trazer alguns aspectos que o kpop consolidou ou resgatou” explica Laiza Kertscher, jornalista formada pela PUC Minas e sócia e produtora de eventos de artistas asiáticos na Highway Star. A internacionalização do entretenimento coreano vem acontecendo desde o início do século XXI, incentivado pelo próprio governo do país, e ganhando mais força nestes últimos anos. Kertscher acredita que seja em razão do bom uso das mídias sociais, em um momento em que a indústria buscava uma renovação dos nomes ocidentais.
O modelo americano que inspirou o kpop inicial foi o dos anos 90, muito focado em coreografia, imagem e vídeos com orçamentos altíssimos. Com o tempo e o crescimento do streaming, os EUA foram deixando de lado essa característica, com coreografias sendo mais um fator ilustrativo da música, e o vídeo, um mero acompanhante visual. De acordo com artigo da VOX de 2014, a indústria passou a valorizar, principalmente, a voz dos artistas, fazendo com que outros fatores perdessem relevância. No kpop, a performance de alta qualidade de dança, na mesma relevância que o canto, e o alto orçamento de vídeos se amplificaram com os anos. Com o crescimento do kpop, esses fatores passaram a, gradualmente, voltar para a indústria americana, mas não no nível que existe na Coreia.
Um marco da entrada do modelo kpop no meio americano é o projeto NCT Hollywood. Já citada no início da reportagem, a SM Entertainment, em parceria com a MGM Worldwide, planeja lançar um grupo de kpop totalmente norte americano. As empresas anunciaram buscar jovens talentosos de 13 a 25 anos e planejam um reality show que vai mostrar o processo de escolha e treinamento dos membros da banda.
Este projeto faz parte de outro bem maior da SM, o NCT, que consiste em um grupo com um número ilimitado de membros dividido em diferentes sub-unidades, que servem a diferentes propósitos. Atualmente, existem o NCT 127 (focado no mercado coreano), o WayV (focado no mercado chinês), o NCT U (unidade flexível, sem foco específico) e NCT Dream (unidade dos membros mais jovens do projeto)
Como funciona a formação de artistas?
Na Coreia, artistas pop são lançados na mídia após intenso treinamento, liderados por uma empresa de entretenimento. Estas empresas buscam jovens, por meio de olheiros ou de audições, que tenham talento em dança, canto, rap, atuação ou até em função de padrões estéticos. Ao entrarem na empresa, os jovens artistas viram “trainees”, e são, literalmente, treinados para aprimorar e desenvolver suas habilidades artísticas, com avaliações periódicas para medir sua evolução.
Quando a empresa julgar que o artista é bom o suficiente, ele é lançado no mercado, seja como membro de um grupo musical ou como artista solo, ainda que este último seja menos comum. De acordo com pesquisa do especialista sulcoreano Jang Seob Yoon, em 2018, existiam 319 diferentes empresas de entretenimento na Coreia do Sul, que somavam cerca de 1600 trainees
A experiência brasileira no kpop
Em 2014, houve uma tentativa de entrar com o modelo sul coreano no mercado brasileiro de música, o Champs. “Nós treinamos durante um ano e pouco, e, no ano seguinte, estreamos como grupo, tínhamos aulas de canto, teatro, artes cênicas, dança em diversos estilos, aulas de comportamento, como andar, respirar, fazer movimentos melhores”, conta Diego Medeiros, que participou do grupo. Sua rotina começava às 7h:30 da manhã e ia até meia-noite, com pausas para refeições.
De acordo com Medeiros, a evolução de todos os membros em razão do treino foi muito nítida: “Os professores conseguiram nos reger de maneira que atingimos nossos objetivos”. Atualmente, por mais puxado que tenha sido, ele afirma que lembra com carinho do processo e se sente grato pela experiência.
O projeto chegou ao fim em março de 2015. O motivo alegado pela empresa JS Entertainment foi a situação econômica: “A banda trouxe para o Brasil um estilo inovador, mas, devido à crise financeira do país, o mercado de show business está em baixa. Por esses motivos, o mercado e o público (mainstream) não abriram um espaço, mesmo com a alta qualidade da banda”. Outro membro do projeto, Richardson Hotz, líder do grupo, revelou em seu canal do YouTube que essa justificativa foi, em partes, verdadeira, mas que houve dificuldade dos empresários coreanos em administrar uma banda brasileira, principalmente porque era o primeiro grupo da empresa. Com o tempo, os próprios membros começaram a sentir que o projeto não estava indo pra frente pela má administração e decidiram sair, até que a empresa decidiu dar fim ao grupo.
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