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Humor e política: memes são tema de aula inaugural

Viktor Chagas (UFF) abordará a relevância desse fenômeno em períodos eleitorais

Entender de que modo o humor e os memes são incorporados no processo comunicacional e político é o desafio enfrentado por Viktor Chagas, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF), que vai conduzir a aula inaugural dos cursos de jornalismo e publicidade do campus São Gabriel da PUC Minas, no próximo dia 2 de setembro, às 19h, pela plataforma Zoom.

Em um ano eleitoral atípico, marcado por mudanças no calendário eleitoral e pela pandemia do novo coronavírus, compreender os modos de interação entre eleitores e seus futuros representantes políticos é algo que se torna ainda mais relevante.

A aula conduzida por Chagas promete discutir um fenômeno especial desse processo: os memes. Objeto de estudo do professor – que é um dos idealizadores e coordenadores do #MUSEUdeMEMES, uma espécie de acervo virtual memético -, os memes estão cada vez mais inseridos ao território político. 

Arte de divulgação da Aula Inaugural dos cursos de comunicação da FCA – PUC Minas. / Arte: Agência Beta

Memes no foco

A primeira vez em que os memes ganharam forte protagonismo foram nas eleições de 2014, que chegou a ser denominada por jornalistas e estudiosos do tema como as “eleições dos memes”. “Na minha avaliação, os memes chegaram para ficar. A tendência é que tenhamos, a cada novo ciclo eleitoral, mais e mais memes em circulação nas mídias sociais, sejam criações de usuários comuns, eleitores interessados, de uma militância especializada ou dos próprios comandos de campanha de alguns candidatos, que têm, cada vez mais, investido nessa linguagem”, analisa o pesquisador.

Todavia, Chagas alerta para o fato de o humor não ser uma característica nova ou própria do ambiente digital, mas que apresenta uma farta capacidade de mobilizar as audiências e de engajar os sujeitos na política. Por isso, explica, a sátira é tão fartamente empregada como componente essencial de charges políticas ou no stand-up comedy. “Por meio do humor, é possível profanar e desconstruir o lugar que normalmente é reservado à política e ao político, tornando-os objeto de crítica e de contestação”, afirma Chagas. 

Humor politicamente correto

Sabendo do potencial do humor para proporcionar a sátira política, questionar imposições institucionais e criticar de modo criativo posicionamentos incoerentes dos agentes públicos, há outro lado apontado por Chagas, que é o humor usado para reforçar posicionamentos dominantes e discriminatórios.

Ele alerta para a necessidade de compreender que o humor serve a múltiplos propósitos e a múltiplos sujeitos. “O efeito disso, na prática, é que agentes do Estado e sujeitos da elite também fazem uso do humor. E, nesse caso, o humor não contesta, se não reforça estereótipos, e consequentemente oprime e domina. Essa condição ambivalente é algo importante de ser observado, porque aponta para o fato de que o humor é, em última instância, um recurso apropriado por diferentes grupos a partir de diferentes interesses.”

Conforme Chagas, apesar de haver um conjunto de críticas importantes à exacerbação do que se convencionou denominar de “politicamente correto”,  “é importante termos em mente que o ‘politicamente correto’ é nada mais do que uma tentativa de construir um humor mais democrático. Como procurei argumentar, o humor pode muito bem servir para oprimir, para dominar ou para reforçar estereótipos negativos sobre determinadas identidades culturais. Nesse sentido, é preciso sempre questionarmos quem ri e sobre o que se ri. Sem esse entendimento, estamos fadados a reprisar velhos preconceitos sob o argumento de que eles casam bem à nossa liberdade de expressão”. 

Chagas questiona a ideia de liberdade de expressão usada para disfarçar, por exemplo, o discurso de ódio e atacar o outro, especialmente minorias, e acredita ser possível construir um humor mais democrático. “Evidentemente, nem sempre os memes estão preocupados com isso. Muitos deles, por vezes, apenas reforçam sátiras agressivas e incitam ataques pessoais a sujeitos”, pondera o pesquisador.

#MUSEUdeMEMES

Página inicial do site #MUSEUdeMEMES coordenado por Chagas. / Reprodução #MuseudeMemes

Coordenado por Viktor Chagas, o #MUSEUdeMEMES é um projeto vinculado à UFF que está em atividade desde o ano de 2011, fruto de encontros presenciais e de constante pesquisa, desenvolvidas por alunos e professores da universidade, sobre o tema.  “O museu foi ao ar, no seu ‘formato’ atual, em junho de 2015. Mas ele remonta a um conjunto de atividades que nós já desenvolvíamos na universidade desde 2011. Entre elas, um ciclo de debates que carinhosamente apelidamos de #memeclube, uma espécie de misto entre cineclube e um seminário acadêmico, em que discutimos algumas temáticas a partir dos memes de internet, como os memes LGBTQ, memes e eleições, memes e humor ético, etc.”, explica Chagas.

Em 2015, após um bom acúmulo de materiais e experiências a equipe decidiu criar o webmuseu. No entanto, o #MUSEUdeMEMES não se configura como um webmuseu tradicional, aquele que no ambiente digital reproduz o espaço físico do museu “real”, ele é um site que funciona como uma espécie de compilação de memes e informações sobre eles, como artigos de pesquisa, resenhas, entrevistas com autores e personagens meméticos, além de guardar links e fontes de conteúdos relevantes sobre o tema.

Observando a característica de que os memes têm “data de validade”, uma das propostas do museu é a de manter e organizar os memes,  preservando a memória e também o contexto social no qual eles estão vinculados e fazem sentido. Os próprios integrantes do museu explicam esse propósito quando esclarecem na página de apresentação do projeto que “memes são geralmente efêmeros mas no #MUSEUdeMEMES eles se tornam memória”.

Bárbara Bento

Estudante de Jornalismo da PUC Minas com imenso amor pelo mundo da cultura e todas as artes que ele envolve. Tá sempre com os fones no ouvido, tendo mil ideias mirabolantes que adora transformar em projetos pessoais. Adora conversas longas sobre todas as perguntas que o ser humano tenta responder sobre si mesmo.

Monitora do Jornal Marco e do site Colab, ela teve a oportunidade de estagiar no laboratório de fotografia da PUC São Gabriel, em assessorias de imprensa e em redação televisiva.

Além de produzir e escrever reportagens para o Jornal Marco e Colab, a Bárbara escreve sobre música no blog Último Volume.

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Além de produzir e escrever reportagens para o Jornal Marco e Colab, a Bárbara escreve sobre música no blog Último Volume.