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Fidget toys: o que são e por que dominaram as mídias sociais?

A mão de uma pessoa branca segura um fidget toy em formato de cubo

Foto meramente ilustrativa via Pixabay. Créditos: Myriams Fotos

Os stim ou fidget toys têm chamado cada vez mais atenção nas mídias sociais. Originalmente criados para pessoas neurodivergentes, tais brinquedos também são conhecidos como sensoriais ou antiestresse, e têm como principal objetivo trabalhar o toque e os sons, proporcionando bem-estar.

Neurodiversidade é um termo que se refere a variações na sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e outras funções cognitivas de indivíduos, criado pela socióloga Judy Singer em 1988. Pessoas neurodivergentes são aquelas que apresentam condições associadas associadas ao neurodesenvolvimento, como o transtorno de déficit de atenção ou bipolaridade. 

Brinquedos como o pop-it, a splash ball e o polvo do humor reversível se tornaram febre entre crianças e adultos ao redor do mundo. No Brasil, a pesquisa pelo termo “fidget toy” no Google cresceu exponencialmente desde dezembro de 2020 e, em julho de 2021, atingiu seu pico. 

Com a popularidade, os brinquedos sensoriais trazem à tona importantes questões sobre inclusão e neurodiversidade. Segundo a neuropediatra e especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA), Deborah Kerches, o aumento da discussão acerca de  questões sensoriais e de autorregulação, que estão presentes em algumas condições como o TEA, é uma consequência positiva da nova febre das redes. 

Atualmente, o maior destaque dentre os fidgets é o pop-it. Formado por cartelas de bolhas de silicone, ele simula, de forma infinita e reutilizável, o ato de estourar plástico-bolha. A hashtag que reúne vídeos do brinquedo no TikTok já soma 10,6 bilhões de visualizações. Mas o que justifica todo esse sucesso?

“Em comparação com as telas como as de tablet ou celular, esse tipo de brinquedo tem menos estímulos, o que fornece efeito mais calmante, sendo benéfico para reduzir a ansiedade”, explica Deborah Kerches. 

Pop-it, um dos brinquedos mais populares nas mídias sociais. Créditos: Doctorine Dark

Como funcionam os fidget toys?

Segundo a neuropediatra, esses brinquedos fornecem informações sensoriais e favorecem a modulação sensorial. Dessa forma, podem ser utilizados como ferramenta para estimular várias habilidades de uma criança:

Tudo isso é ainda mais importante para crianças que têm alterações sensoriais, como aquelas que estão no espectro autista.

Sophia Mendonça, jornalista, escritora e idealizadora do portal “Mundo Autista” defende que os fidgets são uma forma importante de autorregulação frente a um ambiente social criado e voltado para pessoas neurotípicas. Seus estímulos sensoriais diversos são uma maneira de redirecionar a necessidade de estimulação sem que a pessoa chame atenção ou acabe se machucando. Mendonça é autista e teve seu diagnóstico com 11 anos de idade.

Além das redes digitais : isolamento social contribuiu para a popularização

O isolamento social teve um papel importante para a popularização dos brinquedos. Com a mudança drástica de rotina, adultos ficaram no home office e crianças no ensino a distância, ou até sem aulas, o que gerou uma redução de programações sociais.

“As crianças ficaram mais ansiosas e mais ociosas. Agora está tudo mais flexível, mas, especialmente no início da pandemia, houve uma quebra de rotina muito grande para elas”, aponta Deborah Kerches.

Nesse estado diferente do cotidiano, os fidgets surgiram como uma nova maneira de ocupar o tempo e a cabeça de crianças, sejam elas neurodivergentes ou neurotípicas. Os brinquedos foram uma forma fácil de gerar estímulo constante, que, além de divertir e ajudar a passar o tempo, também aliviam o estresse e até mesmo ajudam na concentração.

Informação é a solução para as críticas

Quando algo se torna popular, está fadado também às críticas e problematizações e, com os fidget toys, não tem sido diferente. Uma rápida busca nas mídias sociais permite encontrar comentários negativos e equivocados acerca do material de composição dos brinquedos (que são feitos de silicone, e não de plástico) e de sua suposta “inutilidade”.

A jornalista, escritora, ativista em prol da neurodiversidade e fundadora do Instituto Lagarta Vira Pupa, Andréa Werner acredita que a informação é a solução para as críticas infundadas. ”Muita gente falou sobre, sem conhecimento de causa”, aponta. 

A jornalista também é mãe de Theo, que está no espectro autista, e conta que conheceu os fidget toys há alguns anos quando começou a acompanhar pessoas autistas nas redes sociais. 

“Um jeito de trazer mais conscientização acerca da neurodiversidade e do uso desses brinquedos é falar com as pessoas para que elas entendam que falaram besteira, reverberando a posição correta a respeito disso, fazendo um mea culpa”, afirma Andréa.

Combate ao capacitismo e a importância de vozes neurodivergentes

Outra questão importante levantada pela popularização dos stim toys é o capacitismo, termo usado para se referir ao preconceito que tem como base a “capacidade” de outros seres humanos. Uma sociedade capacitista é aquela que não inclui e não enxerga pessoas com deficiência (PCDs) de forma igualitária.

Apesar de originalmente criados para crianças com TEA, não há nenhum problema em crianças neurotípicas brincarem com os fidgets. Sentir incômodo diante do uso dos brinquedos é um ato capacitista.“Se esse brinquedo pode ajudar, por que não? Qual é o problema? Só porque é visto como brinquedo de autista?”, questiona Andréa.

Para Sophia Mendonça, a popularização desses brinquedos pode gerar a mudança em certas crenças sociais prejudiciais a pessoas neurodivergentes: “Não é porque meu colega de trabalho usa um mordedor socialmente lido como infantil ou esquisito que ele não pode ser um profissional autônomo e competente, por exemplo”.

Ela reitera que uma questão não tem ligação direta com a outra. “Toda a forma de a pessoa se sentir mais confortável, que não traga prejuízos à saúde, à qualidade de vida ou à funcionalidade dela, é válida”, completa. 

Em 2014, um dos stim toys, a fidget spinner, se tornou popular entre pessoas neurotípicas, mas pouco se falou sobre neurodiversidade e inclusão. “Virou modinha, vendeu em um monte de lugar, tinha lugar vendendo caro e depois que passou a modinha os autistas continuaram usando e as crianças típicas perderam a graça”, relembra Andréa.

Para que o mesmo não aconteça após essa nova febre, a jornalista pontua a necessidade e a importância de se ouvir pessoas neurodivergentes que fazem o uso dos stims, dando espaço para elas e evidenciando suas falas.

Imagem meramente ilustrativa via Pixabay
Reportagem escrita por Dara Russo e Arthur Bacelar.
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