Especialista afirma: “O preconceito mata mais que o HIV”
PrEP é a sigla para o termo “Profilaxia Pré-Exposição”. No contexto da saúde sexual, se refere a uma forma de prevenção do HIV. Esse método de prevenção consiste no uso diário de uma pílula por pessoas que não têm HIV, mas vivem exposição aumentada ao vírus.
Angélica Fernandes Teixeira é médica infectologista e trabalha com atendimentos supervisionados com PrEP’s desde 2023. Ela diz que qualquer pessoa que tenha vida sexual ativa pode fazer o uso de PrEP’s. Para conseguir esse atendimento, deve-se entrar em contato com o posto de saúde da sua região, conforme explica a médica: “Em BH, a PrEP já é feita no próprio posto, mas na maioria das cidades ainda é necessário agendamento de consulta no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). Lembrando que a prescrição da PrEP não é exclusiva do médico; enfermeiros e farmacêuticos também podem fazê-la”.
Além disso ela ainda diz que é de extrema importância divulgar que o SUS oferta essa medicação: “Divulgar que o SUS oferta a PrEP gratuitamente e que o atendimento também é gratuito aumenta o acesso a prevenção do HIV, da testagem de outras IST’s e permite a redução da transmissão do vírus. Outra informação importante é que a medicação é liberada pelo SUS mesmo quando o atendimento é particular”.
A PrEP e o preconceito
No início da década de 1980, quando os primeiros casos de AIDS foram documentados, o vírus HIV passou a ser diretamente associado à comunidade LGBT, especialmente a homens gays. Essa associação reverbera em preconceito até hoje. O HIV ainda está enraizado no imaginário social como uma mazela exclusiva da comunidade gay.
Angélica Teixeira ressalta que a discriminação e a desinformação são as maiores barreiras na prevenção do HIV. Segundo ela, o preconceito é a principal barreira de todo assunto que tenha “relação sexual” como tema. “Nos dias de hoje, o preconceito mata muito mais que o próprio HIV. Temos medicações excelentes e bom controle da doença. O preconceito atrasa diagnóstico, gera pânico entre as pessoas e pode levar ao abandono do tratamento”.
Sóstenes Reis tem 37 anos e é usuário das PrEP’s há três anos. Ele diz que ainda existe muito preconceito e desinformação acerca do assunto: “Existe muito moralismo. Tem alguns médicos, inclusive, que são contra as PrEP’s. Uma vez um médico falou: “Você sabe que isso não funciona, né?”. Parece que as pessoas estão estigmatizadas em relação a isso. Alguns médicos acreditam que quem procura as PrEP’s só quer transar sem preservativo e viver de maneira irresponsável”.

A divulgação
Uma questão que importante acerca das PrEP’s é a falta de divulgação por parte do Estado. Muitas pessoas nem sabem da existência desse medicamento. Sóstenes conta que só começou essa profilaxia porque uma médica do Centro de Testagem que ele frequenta indicou.
Sobra a divulgação acerca das PrEP’s ele diz: “Eu acho que as PrEP’s não estão chegando no público que deveria chegar. Eu converso com os médicos que me atendem lá no hospital. Parece que todo mundo que usa (as PrEP’s) tem curso superior, por exemplo. A maioria das pessoas em situação de vulnerabilidade ou profissionais do sexo não tomam, sabe? Eu acho que as PrEP’s tinham que ser prioridade para essas pessoas. Eu conversei com uma médica e ela me disse que a maioria das pessoas que tomam são como eu: homens acima de 25 anos e com ensino superior completo. Acho que existe uma campanha muito tímida. Tem uma campanha muito pesada em relação ao diagnóstico, mas não à prevenção”.

Quem pode acessar a PrEP?
As PrEP’s estão disponíveis para todas as pessoas que solicitarem pelo SUS, mas são indicadas especialmente para pessoas que têm relações sexuais com um parceiro soropositivo sem uso de preservativo, pessoas que tenham múltiplos parceiros sexuais, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis, pessoas que têm infecções sexualmente transmissíveis recorrentes e homossexuais.
É importante ressaltar que as PrEP’s não protegem contra todas as IST’s e não substituem o uso de preservativo. A PrEP é um método de profilaxia e combate ao vírus do HIV apenas. Outras doenças como sífilis, gonorreia e clamídia ainda podem ser transmitidas em pacientes que tomam PrEP, e, por isso, é recomendável sempre o uso de preservativo.
Para saber onde solicitar as PrEP’s, basta entrar no Site de Secretaria da Saúde do seu estado ou município e pesquisar a unidade de saúde mais próxima de você.




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