Colab
Evento internacional PBL 2025 reúne educadores e pesquisadores na PUC Minas.

Educar é resolver problemas: metodologias ativas em foco no PBL 2025

Em entrevista ao Colab, o professor Ulisses Araújo, da USP e presidente da Pan PBL, explica como as metodologias ativas transformam o ensino e fortalecem o protagonismo estudantil

O uso de metodologias ativas na educação foi tema do terceiro dia da Conferência Internacional PBL 2025. O evento é uma realização da Associação de Aprendizagem Baseada em Problemas e Metodologias Ativas de Aprendizagem (Pan PBL) em parceria da Puc Minas, entre os dias 29 de Outubro e 01 de Novembro. O encontro propõe reflexões sobre inovação pedagógica, protagonismo estudantil e equidade na educação. 

A equipe do Colab entrevistou o professor titular Sênior da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP Leste) e presidente do PAN/PBL, Ulisses Araújo. Ele, que também é um dos palestrantes do evento, coloca em pauta “O PBL e as metodologias ativas para a construção de um mundo mais inclusivo e equitativo”. 

Nos mais de 30 anos como professor do ensino médio e superior, Ulisses Araújo publicou mais de 10 livros e dezenas de capítulos e artigos científicos no Brasil e no exterior. Desde 2012 é membro do Editorial Board do Journal of Moral Education, e desde 2013 é membro do Executive Board da Association for Moral Education. 

Professor Ulisses Araújo, da USP e presidente da Pan PBL, fala sobre metodologias ativas e aprendizagem baseada em problemas durante o PBL 2025 na PUC Minas.
Ulisses Araújo, professor da USP e presidente da Pan PBL, destaca no PBL 2025 a importância das metodologias ativas para uma educação mais inclusiva.

Confira a entrevista na íntegra: 


Professor Ulisses, poderia falar um pouco sobre sua trajetória profissional como professor titular da USP e também como presidente do PAN/PBL?

Sou professor e pesquisador na vida acadêmica desde 1990, são 35 anos de carreira. Desde então, o PBL (Aprendizagem Baseada em Problemas) faz parte da minha trajetória, inicialmente de forma teórica. Mas, por volta de 2004 e 2005, quando a Universidade de São Paulo criou um novo campus, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades, conhecida como USP Leste, surgiu a oportunidade de aplicar o método na prática.

Propus que adotássemos a aprendizagem baseada em problemas como metodologia inovadora, conectada à forma como o conhecimento se constitui no mundo atual. A proposta foi bem recebida, e em 2004 viajamos a várias universidades do mundo para conhecer experiências semelhantes. Foi nesse momento que descobri a ideia de associar o trabalho com problemas e projetos, não apenas individuais, mas coletivos e de longa duração, podendo ocupar um semestre inteiro.

Essa metodologia foi adotada no novo campus da USP, que abriu as portas em 2005. A partir daí, comecei a me envolver com a rede internacional de pesquisadores do PBL, a PAMP PBL. Levamos o congresso da entidade à USP em 2010, primeira vez que aconteceu no Brasil, reunindo mais de 300 participantes de quase 20 países. Desde 2016, sou presidente do PAN/PBL, com o objetivo de internacionalizar a rede, que hoje tem representantes de todos os continentes. Realizamos encontros bienais, já ocorreram nos Estados Unidos, Dinamarca, Uruguai, e o próximo pode ser em Singapura.

O propósito da PAMP PBL é produzir conhecimento e incentivar instituições e países a adotarem metodologias ativas de aprendizagem, levando essa experiência para todo o mundo.

Na sua visão, como as metodologias ativas, como o PBL, contribuem para o desenvolvimento integral dos estudantes?

As metodologias ativas ajudam a superar desafios que ficaram ainda mais evidentes com o avanço da inteligência artificial. A escola tradicional é baseada na transmissão de conteúdo e na reprodução de respostas prontas. Hoje, com as tecnologias, qualquer aluno pode gerar um texto reflexivo em segundos com uma IA, o que desafia o modelo tradicional de ensino.

O PBL inverte essa lógica. O foco não está mais no conteúdo a ser reproduzido, mas na necessidade de resolver problemas reais, o que exige criatividade, pesquisa, análise e pensamento crítico.

Um exemplo: durante o Congresso na PUC Minas, trabalhamos com alunos de Engenharia e Arquitetura que visitaram as obras da Catedral Metropolitana, enfrentando problemas concretos e complexos. Essa vivência não pode ser substituída por nenhuma IA. Ela desenvolve competências essenciais, como colaboração, escuta, planejamento e tomada de decisão, e forma um sujeito integral, capaz de pensar, criar e agir.

Enquanto a tecnologia pode gerar respostas prontas, só o ser humano pode interagir, adaptar-se e resolver problemas no mundo real. As metodologias ativas, portanto, formam pessoas com mentalidade voltada para soluções, algo que se aplica à vida pessoal, profissional e social.

Quais desafios o PBL e as metodologias ativas ainda precisam superar no Brasil? E quais caminhos você recomenda para apoiar a formação docente?

O principal desafio é a formação dos professores. Muitos ainda sentem insegurança e medo de mudar. Isso porque, historicamente, o professor foi visto como o detentor do conhecimento, e mudar essa lógica é difícil.

Hoje, o conhecimento não está mais apenas no professor ou nos livros, ele está na internet, na natureza, na tecnologia, em toda parte. O papel do professor, portanto, não é mais transmitir, mas mediar o processo de construção do conhecimento.

Esse novo papel exige que o professor aceite aprender com o aluno, o que gera desconforto, já que muitos pensam: “como posso aprender com quem deveria ensinar?”. Mas é justamente esse movimento que transforma o ensino.

Há experiências inspiradoras, como a de um professor de cálculo que pediu aos alunos que encontrassem boas aulas no YouTube. Ele descobriu que existiam vídeos melhores do que suas próprias aulas e decidiu incorporá-los. Isso mostra que o professor pode ser um curador do conhecimento, aprendendo junto com os alunos e aproveitando o que a tecnologia oferece.

Vencer a resistência exige primeiro compreender o valor desse novo modelo e aceitar que ninguém dá conta sozinho de todo o conteúdo. É um processo de humildade e de transformação pedagógica.

A sua palestra no evento do PBL tem como tema “Metodologias ativas para construir um mundo inclusivo e equitativo”. Como o PBL pode contribuir para uma educação mais inclusiva e menos desigual?

 A inclusão acontece em vários níveis, e as metodologias ativas são poderosas nesse sentido. A principal razão é que elas rompem com a ideia de homogeneização do ensino.

Na educação tradicional, o professor prepara uma aula igual para todos, partindo do pressuposto de que todos aprendem da mesma forma. Mas isso é um erro: as pessoas são diferentes, e nivelar a turma é uma forma de exclusão. Quando o professor ensina apenas para os mais avançados, os demais ficam para trás, são excluídos do processo de aprendizagem.

Com o PBL, a diferença se torna parte do processo educativo. Cada aluno trabalha de acordo com seus interesses e habilidades, contribuindo de forma única para resolver um problema coletivo. Isso gera pertencimento, engajamento e reduz a exclusão, porque todos têm algo a contribuir.

Outro aspecto importante é que o PBL permite que alunos com diferentes níveis de conhecimento, por exemplo, em uma escola pública, onde alguns sabem ler e outros não, possam participar ativamente da resolução de problemas de formas diversas, não apenas através de provas ou testes.

Assim, a inclusão acontece porque as pessoas são respeitadas pelo que sabem e pelo que podem fazer, e não por uma média imposta externamente. O PBL valoriza a diversidade e constrói um ambiente realmente equitativo.

Texto produzido por Bruna Sarnaglia e João Pedro Guido

João Pedro Guido

Adicionar comentário