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Destruindo muros da educação autoritária: o ensino com diálogo

A discussão da educação autoritária frente às novas formas de ensino com diálogo no Brasil.

“Another Brick in the Wall” é uma canção lançada em novembro de 1979 pela banda Pink Floyd. A música é considerada um hino do rock progressista, antagônica à educação autoritária e carente de senso crítico. Até hoje, a mensagem do grupo ainda se faz necessária em muitos lugares em que o ensino não dialoga com os alunos. Entretanto, inúmeras metodologias de ensino possibilitam maior integração dos estudantes com o ensino e a aprendizagem, além da valorização das diferentes habilidades. Mas será que a fórmula pedagógica perfeita realmente existe?

Metodologias de Ensino

De acordo com o dicionário Oxford, “pedagogia é a ciência que trata da educação dos jovens, que estuda os problemas relacionados com o seu desenvolvimento como um todo”. A partir dessa definição, a pedagogia se fragmenta em inúmeros modelos; contemplados, ou não, pelo pensamento crítico.

O método tradicional, em que o professor é o sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem, é o mais usado no Brasil. Criado no século XIX, com o intuito de universalizar a educação para alfabetizar os indivíduos, o modelo é ainda criticado por alguns profissionais da área.

Sérgio Martins Duarte, mestre em Docência e Gestão da Educação pela Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal, refere-se à “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, e afirma que: “a prática do Modelo Tradicional de Ensino é uma opressão. Quase tudo no processo ensino e aprendizagem se reduz ao professor, que introduz as lições nos alunos, preocupando-se somente com o resultado final”.

Mas existem escolas que inovam no âmbito educacional, como as montessorianas, as construtivistas e as que adotam o modelo Waldorf. Todas essas visualizam os discentes como parte ativa do processo de aprendizado, prezando pela manutenção de autonomia e singularidade.

Maria Alice Cambraia Godoy Barreto conta um pouco da sua experiência ao estudar na escola waldorfiana “Polen”, em Nova Lima, Minas Gerais. De acordo com a mineira, hoje estudante de psicologia, sua experiência foi de suma importância para sua formação como indivíduo. “Eu acho que ter estudado lá me fez totalmente diferente do que eu seria. A base que eu tenho hoje, tanto de desenvolvimento psíquico, quanto motor… Isso tudo teve muita influência!”. Ela acredita ser uma pessoa bastante compreensiva, sociável, e bastante ligada às artes e ao manual – ideais pregados na escola.

Em contrapartida, a universitária também relata um ponto desfavorável dessa metodologia. De acordo com sua percepção, “Quando você não segue exatamente o que o restante das pessoas segue – como se fosse uma manada -, você acaba se tornando um ‘peixe fora d’água’. Então, apesar de eles terem todo esse lado de trabalhar o pessoal e individual do aluno, você acaba sendo enquadrado em um modelo, que é o modelo interno da Instituição.”

Múltiplas inteligências ou diferentes habilidades?

Em 1980, Howard Gardner, professor de psicologia em Cambridge (Estados Unidos) desenvolveu a “Teoria das Múltiplas Inteligências”. Ele afirmava que as capacidades dos indivíduos podem ser fragmentadas em gamas diferentes, que incluíam: inteligência lógico-matemática, inteligência espacial, inteligência corporal-cinestésica, inteligência intrapessoal, inteligência interpessoal, inteligência musical e inteligência linguística.

Mas esse modelo de entendimento das inteligências é visto com desconfiança há anos. Jonas Jardim de Paula, psicólogo, mestre em neurociências, doutor e pós-doutor em medicina pela UFMG, rebate:

As controvérsias quanto ao modelo de Howard Gardner datam do mesmo ano da publicação e divulgação desta ideia, e permaneceram em debate até o início da década passada. O modelo de inteligências múltiplas faz sentido em termos intuitivos, afinal, vemos pessoas que se destacam em áreas diferentes, logo, é possível que tenham habilidades diferentes, mas foi um modelo invalidado em termos científicos.

Jonas Jardim de Paula

Após uma série de estudos e pesquisas nas áreas de psicologia, ciências da educação e neurociência, o modelo de Gardner passou a ser desconsiderado porque, na verdade, o que se tem é “um misto de habilidades básicas, como o conhecimento intuitivo das relações matemáticas, a linguagem, a percepção, a memória, a atenção, associado a nossa capacidade de integrá-los para resolver os problemas no dia a dia. A inteligência representaria, em grande medida, essa nossa capacidade de integração”, explica Jonas.

Então, como é possível motivar alunos no processo de ensino-aprendizagem?

Mesmo com o déficit de evidências favoráveis à teoria de Gardner, ainda se faz necessário o estímulo dos estudantes na aprendizagem, principalmente quando entram na transição do fim do ensino fundamental e início do médio, como afirma De Paula. “Independente da capacidade intelectual, essa é uma fase em que os jovens já têm uma série de preferências e interesses práticos que poderiam ser explorados pelas escolas.” Um exemplo disso são as ofertas de atividades como marcenaria, programação, artes cênicas e outros cursos técnicos que podem ser usados em função de engajar os estudantes nos campos em que possuem maior interesse.

É o caso de Amelia Paz Hernández Silva (18), uma estudante chilena que estudou no Instituto Libertas – atual escola “Casa Viva” – em Belo Horizonte. O colégio adotava uma linha pedagógica própria, buscando a maior autonomia do aluno no próprio processo de aprendizagem. Ela conta que pode experienciar uma “educação liberal”, em que teve contato direto com aulas de artes, robótica, música, teatro e dança. “Acho que posso dizer que foi a melhor fase da minha vida estudar dessa forma”, afirma.

Em contraponto, questionado a respeito de uma suposta superestimação da “inteligência lógico-matemática”, Jonas Jardim rebate: “Discordo ainda que nós tenhamos uma valorização maior da inteligência ‘lógico-matemática’. Se esse fosse o caso, e se essas habilidades realmente fossem enfatizadas na educação, provavelmente nossos jovens teriam muito mais sucesso nas avaliações educacionais de ciências, matemática, computação… Quando, na realidade, comparados a outros países, amargamos posições muito ruins”.

Por fim, nomear uma metodologia de ensino ou uma “fórmula pedagógica” como perfeita seria ingenuidade. Em termos educacionais, a busca por um método de valorização de habilidades e engajamento dos alunos no processo de ensino-aprendizagem ainda é um grande desafio. Sendo assim, exige uma personalização do ensino por professores e coordenadores com base nos alunos e no conteúdo a ser aprendido.

Leia também: O desafio da educação pública na pandemia e Qual a importância da educação sexual no ensino infantil?

Laura Peixoto

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