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Contornando a maldição de Babel: a tradução e seus desafios

Tradutores revelam o árduo e delicado trabalho de converter não apenas palavras, como também suas diversas interpretações

“Uma tradução é uma saída contra Babel”, escreveu Guimarães Rosa. Segundo a história mitológica, o Deus hebraico ficou furioso com a arrogância humana de construir uma torre para alcançar os céus. Por isso, criou línguas diferentes para que os construtores não pudessem se comunicar. 

Converter palavras de um idioma para outro não é tarefa simples. Para superar as barreiras linguísticas, o tradutor precisa de habilidades que vão além do domínio de regras linguísticas: são necessárias também competências culturais, técnicas e, principalmente, um conhecimento profundo dos idiomas envolvidos. Isso porque traduzir significa compreender não apenas o sentido literal das palavras, mas também o contexto cultural que as envolve. 

O tradutor atua como um mediador contra a “Torre de Babel” moderna, ou seja, contra as barreiras impostas pela diversidade linguística que dificultam o entendimento entre os povos. O trabalho requer estudo rigoroso, mas também sensibilidade e atenção aos detalhes. José Saramago já dizia que “sem os tradutores, os escritores não seriam nada”, pois estariam “condenados a viver encerrados na nossa língua”.

Exatamente por ser um processo tão complexo, a tradução nem sempre é bem-sucedida. Há momentos em que nuances culturais, jogos de palavras ou referências específicas de contextos locais se perdem no caminho. Mesmo os tradutores mais experientes enfrentam desafios ao tentar equilibrar a fidelidade ao texto com a fluidez e naturalidade no idioma de chegada. Isso pode resultar em interpretações que, embora válidas, não capturam os sentidos presentes na língua original, evidenciando as limitações inevitáveis .

Além dos desafios linguísticos, a tradução enfrenta a invisibilidade no meio literário, falta de reconhecimento da profissão e má remuneração.

A profissão

Para que uma pessoa se torne tradutora, não há um roteiro a ser seguido. Transportar um texto de uma língua para a outra, mesmo que de maneira profissional, não requer nenhum diploma ou regulamentação, como afirma Regiane Winarski, tradutora do inglês para o português brasileiro atuante no mercado editorial há 16 anos. 

A profissional, que possui uma extensa lista de livros no portfólio – incluindo mais de 20 obras do mundialmente renomado Stephen King –, afirma que a tradução exige um preparo considerável, que vai além da fluência em mais de um idioma. Antes de se profissionalizar, Regiane se preparou por meio de cursos e livros, mesmo sendo professora de inglês na época e ter o português como língua materna. “Quando você fala em tradução, as pessoas têm a tendência em pensar que ‘tem que ser muito fera em outro idioma’, e esquecem que você também tem que ser muito fera em português, porque o que eu vou vender para o público é um texto escrito em português”, salienta.

Para entrar no mercado editorial literário como profissional da tradução, o processo é diferente da busca por vaga CLT, por exemplo, uma vez que o tradutor costuma trabalhar em regime de terceirização, em estilo freelancer. É preciso enviar currículo e pedir testes, que é “uma tradução que você vai fazer para a editora avaliar se você está apto a fazer determinado trabalho”, explica Winarski. Os testes costumam ser em cima do próprio livro que a editora quer publicar.

“Com o tempo, conforme você vai se estabelecendo e conquistando seu espaço no mercado editorial, você precisa fazer cada vez menos isso [testes]”, diz a tradutora, que realiza esse tipo de busca cada vez menos. Com a consolidação do profissional no cenário, transforma-se a relação com as editoras, que passam a conhecer o trabalho do tradutor e ofertar obras. 

Na procura por um profissional que possa transportar um texto de uma língua para a outra, as editoras podem levar em consideração as experiências anteriores do tradutor, como conta Regiane: “O fato de eu ter uma vasta experiência em algumas áreas também é um chamariz”. No entanto, ela afirma que isso não significa que há uma garantia que a mesma pessoa vá, por exemplo, traduzir todos os livros de uma saga ou que ela só vá trabalhar um gênero literário específico. “É legal que o tradutor esteja apto a fazer de tudo um pouco porque a gente precisa é de trabalho mesmo, precisamos ganhar dinheiro, e o que aparece nem sempre é o que gostaríamos”, diz.

Trabalhando com os mais variados gêneros, Regiane afirma gostar de sair do tédio da ‘mesmice’. No entanto, a tradutora destaca que gosta muito de traduzir Stephen King: “Eu entrei no King e fiquei – para a minha felicidade, eu adoro. Eu gosto muito dos livros dele, gosto do gênero, do estilo dele, já estou acostumada, o que torna o trabalho mais fácil. Eu conheço a voz dele, os recursos que ele escolhe usar, isso facilita minha vida”. Além do clássico do horror, Regiane também é conhecida por traduzir obras recentes de Rick Riordan, autor da saga Percy Jackson e os Olimpianos.

Regiane Winarski traduziu o icônico It: a Coisa, de Stephen King

Morto bem vivo

Nem só de idiomas vivos vive a tradução. Carlos Eduardo Barbosa é fundador do site Sanskrit Fórum, que oferta cursos de sânscrito, além de ser tradutor da versão bilíngue do clássico hindu Bhagavad Gita, pela editora Mantra. A língua sânscrita utiliza o alfabeto Devanāgarī, bem diferente do latino, usado no Ocidente. Esse alfabeto é utilizado por muitas línguas, como o hindi, prakrit e santali, embora apenas o idioma sânscrito seja considerado uma língua morta.

Há uma diferença entre línguas mortas e línguas extintas. A língua extinta não é mais utilizada e não possui registros escritos que possibilitem seu aprendizado. Já o “atestado de óbito” de uma língua é dado quando ela não possui mais falantes nativos, mas apresenta gramática e registros em textos antigos que possibilitam seu estudo, ainda que a pronúncia seja desconhecida, como é o caso, por exemplo, do grego antigo, acadiano e sumério. 

Carlos Barbosa questiona veementemente o status de sânscrito como língua morta, já que o idioma carrega uma cultura viva: “Tratar o Sânscrito como ‘língua morta’ foi uma parte da estratégia britânica para ferir o orgulho dos povos indianos, quando a Índia havia se tornado apenas uma colônia do Reino Unido. Em contradição a esse ‘status’, os próprios censos promovidos pela Inglaterra testemunharam a presença de uma pequena parcela da população que usava o Sânscrito como primeira língua”.

O tradutor afirma que existem programas de rádio e TV transmitidos em escala nacional na língua sânscrita. Além disso, a Universidade Hindu de Varanasi oferece mais de 600 cursos ministrados integralmente nesse idioma. 

Contudo, a barreira cultural pode estar presente e “matar” a tradução. “Há uma grande diferença entre o contexto cultural dentro do qual foram compostos os textos sânscritos e o contexto cultural da língua portuguesa. Quando lemos um texto sânscrito, é forte a tentação de reinterpretá-lo em conformidade com o momento histórico presente, levando em conta acontecimentos e valores que pertencem ao presente, e não ao passado”, explica Carlos Barbosa.

Um exemplo disso estaria na tradução do épico Mahābhāratam, produzido parcialmente na Índia após a Segunda Guerra mundial, que Carlos considera quase perfeita. “Entre as alterações introduzidas na nova versão, estava a substituição de ‘brahmāstra’ [uma poderosa arma mítica] por ‘bomba atômica’”. Para traduzir, é necessário analisar o texto original e fazer escolhas dentre as numerosas possibilidades de tradução que a língua permite. 

“A depender do contexto cultural de uma determinada época, o recorte semântico do tradutor talvez dê às palavras novas significações, que podem alterar o próprio sentido do que está sendo dito”, afirma. Carlos Barbosa conta que escolheu traduzir o texto como se estivesse ao lado de Arjuna, um dos personagens principais do épico: “O esforço de tradução, de tentar compreender cada verso em sua inteireza, dá ao tradutor a sensação de ter um benefício especial, uma verdadeira graça divina”. 

Desafios

Entre os desafios da profissão, Regiane Winarski destaca a incerteza financeira, uma vez que a disponibilidade de trabalho é variável, e a invisibilidade do trabalho do tradutor. “É uma luta constante de nós tradutores o reconhecimento não só de créditos na capa ou nome citado quando tem a divulgação, mas de reconhecimento financeiro”, afirma a tradutora. Ela considera a remuneração para esse ofício ruim, o que explica o fato de muitos tradutores literários possuírem outras atividades remuneradas.

Além da importância do reconhecimento e valorização do nome do tradutor na divulgação das obras, Regiane cita a legislação brasileira de direitos autorais, que considera esse profissional como autor do livro no idioma para o qual ele foi traduzido. Diante da condição de invisibilidade, a tradutora conta sobre a criação do coletivo Quem Traduziu, criado por tradutoras com o objetivo de “lutar pelos nossos direitos, pela melhoria da situação”. “São coisas importantes na questão do reconhecimento pelos leitores, mas também de quem contrata a gente”.

Leonardo Camargo, dublador e tradutor baseado em São Paulo, aponta outro desafio para os profissionais do ramo: o mercado paralelo de traduções não oficiais. “Kitsune”, apelido pelo qual ele é conhecido na internet, argumenta que, como as traduções não oficiais não precisam passar por etapas legais e nem demandam pagamentos por direitos, acabam saindo muito mais rápido que as oficiais. “O público tem acesso ao original, em outra língua, antes mesmo de haver o licenciamento, então o tradutor oficial está sempre correndo atrás do público”, diz Kitsune. Na visão dele, isso implica, para o profissional, menos liberdade para tomar decisões criativas próprias, já que a tradução “já está decidida pelo público, sendo aquela decisão a mais apropriada ou não, explica.”

Esses e outros desafios perpassam a vida de Kitsune desde 2015, ano em que ele começou a trabalhar na editora brasileira Mythos e quando teve o primeiro contato com a tradução de gibis da Marvel e DC. A tradução de quadrinhos possui ainda outras particularidades muito próprias em relação a outros gêneros literários. Para o tradutor paulista, uma delas é que os balões de fala devem ser pensados como diálogos orais, e não como texto escrito. “Muito texto traduzido de HQs não se atenta a isso”, comenta.

Kitsune defende que, como existem muitos estilos autorais distintos, o mais importante é que a obra traduzida acompanhe o tom do do original, seja ele mais conversacional ou lírico. Ao mesmo tempo, como os balões de fala são uma simulação de pessoas conversando em voz alta, “não há a necessidade de deixar o texto dos balões parecido com texto de romance literário”.

Esse é um aspecto particular dos quadrinhos, mas que diz respeito – em maior ou menor medida – ao rol das difíceis escolhas que um tradutor profissional precisa fazer cotidianamente. Um antigo ditado italiano, por exemplo, sugere que toda tradução sempre trai o texto original – o que Kitsune acredita fazer sentido. Segundo ele, o movimento natural de alguém que se debruça sobre um texto é perceber que “sua tradução nunca vai ter o mesmo impacto como o original”. 

Atualmente na editora Axios, que presta serviços para gigantes como a Panini, Kitsune segue firme e forte em meio a discussões nebulosas e escolhas difíceis.

Acesso à cultura

Na falta de tradução oficial, leitores recorrem a outros meios para não ficarem só na vontade de lerem as obras que desejam. Por quaisquer que sejam os motivos que levam à não concretização da tradução autorizada – editora não faz a tradução, não quer negociar os direitos autorais, etc. –, fãs não se contentam com o “não”. Em resposta, criam-se comunidades e, na grande maioria das vezes no anonimato, a tradução é feita e compartilhada. Por eles mesmos, com pouca ou nenhuma experiência. 

Quando o assunto é esse, a Biblioteca de Dédalo serve como exemplo de sucesso entre leitores brasileiros na época de 2019 a 2023. Durante 4 anos, o dono do site, que desejou manter o anonimato, revisava e disponibilizava de forma gratuita as obras de Rick Riordan, autor de Percy Jackson e os Olimpianos. Todo o universo que engloba as obras é chamado carinhosamente pelos fãs de “Riordanverso”. 

No Brasil, a popularidade de séries como Percy Jackson e os Olimpianos e outras criações do “Riordanverso” foi reconhecida pelo próprio autor, chamado de Tio Rick pelos fãs, em entrevistas e em plataformas de mídias sociais. Muitas dessas obras demoraram a ter traduções oficiais em português ou, quando lançadas, enfrentaram problemas de distribuição, o que motivou projetos como a Biblioteca de Dédalo a atuarem em resposta à falta de acessibilidade imediata para leitores de língua portuguesa. Uma única pessoa anônima assumiu voluntariamente a tarefa de traduzir as histórias, oferecendo acesso rápido e gratuito para os fãs. Esse trabalho era realizado sem fins lucrativos e ajudou a manter o interesse e a paixão pela literatura fantástica de Riordan.

Além de disponibilizar gratuitamente obras do autor, que contam com tradução oficial pela editora Intrínseca, a Biblioteca Dédalo traduzia obras de escritores do Selo Rick Riordan Apresenta, criado pelo autor para divulgar obras de literatos que também escrevem livros de fantasia com temática de mitologias diversas para o público infantojuvenil, como Roshani Chokshi. Um exemplo é a saga Pândava, de Chokshi, sobre mitologia hinduísta. A série, que tem cinco livros, contou com a tradução oficial somente dos dois primeiros, pela editora Plataforma21, deixando os fãs sem continuação. A revista Times listou Aru Shah e o fim dos tempos, o primeiro livro da saga, entre os cem melhores livros de fantasia de 2019.

Gabriel Santos, de 21 anos, adquiriu hábito de leitura com as histórias disponibilizadas pela Biblioteca Dédalo. “São universos vastos e ricos, mas, às vezes não estão acessíveis em português numa perspectiva longe da pirataria. Como acontece com Aru Shah. Acredito que exista preconceito das editoras envolvido em não traduzir obras do [selo] Rick Riordan Apresenta, por serem sobre mitologias de povos marginalizados e minorizados no Ocidente, escritos por autores dessas culturas, como a própria Chokshi, que é indiana e filipina, e escreve sobre mitologia hindu”. Santos também destaca que “com mitologia grega e nórdica, que são europeias, a gente não vê esse desinteresse das editoras”

No entanto, a recepção do público nem sempre é positiva, como conta a leitora assídua de livros e mangás Rafaela Sampaio Amorim, de  24 anos: “Tradução não oficial não é muito legal. Às vezes, algumas palavras não são traduzidas muito bem, com um significado certinho. Até porque, muitas vezes a pessoa não é formada para traduzir”.

Já Josefina Coelho, de 27 anos, estudante de letras pela Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e leitora de livros e mangás, diz preferir a tradução feita por fãs às oficiais. “são fruto de uma comunidade. várias obras tem mais de uma tradução feita por fãs. cada uma com seus próprio métodos, individualidades, com conhecimento maior ou menor da cultura e língua originais” Segundo ela, essas traduções recebem retornos da comunidade de fãs, são comparadas entre si e entre o texto original, o que não é algo que acontece com obras com traduções oficiais. “Elas também costumam ter muito mais notas de tradução do que a tradução mainstream, que costuma adaptar o texto de modo que ele fique mais próximo da cultura do público alvo em vez de encher [sic] de nota de rodapé explicando aspectos culturais que estão sendo referenciados ou  abordados no original”

Ilegalidade

Ações judiciais por direitos autorais tiraram a Biblioteca Dédalo do ar várias vezes. Em 2023, porém, o site encerrou definitivamente suas atividades. Desde então, quem tenta acessar o endereço depara-se com a mensagem: “Infelizmente o site foi removido do ar pelo provedor de hospedagem por conta de ação judicial por direitos autorais, por conta disso as atividades da Biblioteca de Dédalo estão permanentemente encerradas”. 

Apesar de o trabalho de tradução não oficial se basear no interesse genuíno de compartilhar literatura, ele existe à margem da legalidade. De acordo com a  legislação brasileira, a tradução não oficial de livros se enquadra na  Lei nº 9.610/1998. Segundo o artigo 29 da lei, obras protegidas não podem ser utilizadas de forma alguma sem a autorização do autor ou do titular dos direitos. Isso inclui a tradução. Na maioria dos casos, a tradução não autorizada é considerada pirataria por ser compartilhada para terceiros. 

Em relação às infrações e penalidades, o artigo 102 da mesma lei estabelece que a violação dos direitos autorais sujeita o infrator a indenizações por danos morais e patrimoniais. Já o Código Penal Brasileiro também aborda a violação de direitos autorais no artigo 184, considerando crime reproduzir ou traduzir obras sem permissão, com pena de reclusão e/ou multa.

Por esses motivos, assim como o dono do antigo site Biblioteca Dédalo, tradutores não oficiais preferem manter-se no anonimato. Mas seguem fazendo a alegria dos leitores, mesmo que “em perigo”.

Direito de publicação

Já parou para pensar por quantos processos um livro passa até chegar às prateleiras das livrarias? Na verdade, antes de ser impressa, encadernada e embalada, uma obra passa pelas mãos de muita gente. 

Para o Colab, a editora-executiva da Record, Renata Pettengill, explica que há  processos diferentes para os livros que já foram publicados no exterior e aqueles que estão para ser lançados.  

Para os que ainda não foram lançados, o processo começa com um agente literário. Esse profissional é responsável por representar o autor perante as editoras. Ou seja: é ele que distribui o material desse escritor para as editoras do país de origem da obra e oferece os direitos de publicação. 

“Supondo que o país seja a Inglaterra, por exemplo, todos os editores ingleses receberam esse manuscrito desse autor e essas editoras vão avaliar e vão decidir se vão querer publicar ou não. Nesse momento, quando há uma contratação da editora original, os agentes literários oferecem essa obra para o resto do mundo”, explica Pettengill. 

O livro também chega às editoras brasileiras através dos agentes literários, que enviam e-mails para essas empresas com um breve resumo do livro, informando sobre a contratação da obra pelas editoras “gringas” e oferecendo-a para leitura e avaliação.

Ainda sobre os livros inéditos, há mais uma figura importante no processo de curadoria: o scout literário. Esse profissional é contratado por editoras para realizar pré-triagens de conteúdos potencialmente interessantes disponíveis em seus países de origem.

Para que esses “olheiros de livro” saibam por onde começar, as editoras apresentam suas expectativas. “A gente diz para eles o que estamos procurando. Então, eu digo ‘olha, pra 2025, eu gostaria de contratar um livro para atender uma demanda do público leitor brasileiro de livros mais literários. Que têm potencial para ganhar um prêmio Nobel, para ganhar o Pulitzer, ou qualquer outro Prêmio Literário’. Com isso na cabeça, os scouts literários vão ver tudo que está no radar deles”, explica Renata. Com a apuração feita, a editora seleciona quais obras realmente “valem a pena”. 

“Agora, o que já foi lançado é a sensação de quem é infinito, né? Porque a quantidade de livros que já foram lançados na vida no exterior e que não foram publicados no Brasil é imensa”, diz Renata, sobre a definição de quais obras já publicadas serão traduzidas para o português. 

De acordo com a editora, escolher o que vai ser traduzido não é uma tarefa simples, mas há alguns critérios que funcionam como guias, como demanda de mercado, pedidos enviados diretamente pelos leitores e até gosto pessoal.

“É um compartilhamento de uma paixão pessoal que é uma coisa bem subjetiva que vai depender de cada editora. Por exemplo, sou muito apaixonada por um autor, por um livro e eu de repente me dou conta de que não foi publicado no Brasil ainda e eu penso ‘meu Deus, eu gosto tanto desse livro, eu vou querer que mais pessoas leiam esse livro’. Eu acho que o editor de aquisição se sente como um curador do que as pessoas precisariam ler por qualquer que seja a natureza”, relata. 

Outro critério é a demanda de mercado, até porque, se é o público que compra os livros, a opinião dele é muito  importante. Renata conta que, na Record, é realizada uma pesquisa de demanda e leitura de pedidos de leitores nas redes sociais, através de e-mails e até conversas em grupos.  “O que as pessoas estão me dizendo, me mostrando que querem ler e não têm como porque não tem português e elas não leem no inglês ou qualquer que seja a língua original… A gente vai ouvir o público leitor”

Renata conta que o trabalho de seleção é muito gratificante. Para ela, na mesma medida em que é bom ver um livro “caindo nas graças do público”, ter  que deixar algum título de fora pode gerar frustração: “É um trabalho muito legal de fazer . É frustrante ter que fazer essa escolha entre tudo de maravilhoso que existe por aí e de tudo isso quais posso escolher para ocupar o espaço da minha programação”.

Escolhendo o tradutor

No caso da editora Record, grupo entrevistado pela reportagem, não há um setor próprio de tradutores. Por isso, os profissionais que atuam nessa frente são contratados como freelancers. Para entender como essas pessoas são selecionadas, entre outros aspectos do processo de tradução, dê o play e confira a explicação da editora Renata Pettengill.

‘Vilão da história’

Além dos critérios de curadoria das obras, a saga da escolha dos títulos para lançamento também tem um antagonista. O “vilão” dessa história é o limite de publicação que toda editora possui. Com isso, nem todas as traduções que os profissionais gostariam de produzir podem ser publicadas.

“São limitações de tempo, de espaço, até na programação de publicação. Porque você tem que limitar o seu ano a uma quantidade X de lançamentos que a sua editora consegue administrar. Precisa saber quantos livros você é capaz de colocar no mercado para que ele tenha capacidade de absorver aquela quantidade de títulos”, explica Renata.

O número de publicações é definido pela estrutura da editora. Por exemplo, todas as obras têm um planejamento de lançamento que envolve quantidade de funcionários, investimentos em divulgação para imprensa,  marketing e estratégia de distribuição. Com esse planejamento feito, a empresa consegue calcular com antecedência quantos livros podem ser publicados no ano. 

Original x Google Tradutor x IA

Em alguns casos, a tradução é necessária até mesmo para a compreensão plena do que o texto diz. Nesse trecho o autor faz uma referência à plataforma “Venmo”, que é utilizada nos Estados Unidos para realizar pagamento. Como no Brasil não se usa Venmo, a tradutora substituiu pelo “Pix”, que expressa o mesmo sentido do original, mas de forma familiar ao leitor.

Reportagem desenvolvida por Ana Brisa Reis, Ana Maria Pardinho, Arthur Camarano, Gabriela Paiva, Laura Scardua e Tainá Lopes para a disciplina de Laboratório de Jornalismo Digital no semestre 2024/2 sob a supervisão da profª Nara Lya Cabral Scabin.

Colab PUC Minas

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