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Conheça a família de SP que viaja de motorhome pela Europa

Paulistas decidem abrir mão da vida no Brasil por uma experiência diferente de viagem internacional

Passar um ano a bordo de um motorhome pela Europa, em família, pode parecer uma péssima ideia, afinal de contas, dividir um espaço tão pequeno por tanto tempo pode ser difícil. Mas Marina Martensen, Marcelo Scaranari, Caetano Scaranari (11) e Ana Liz Scaranari (8) decidiram encarar esse desafio e embarcaram na realização de um sonho. Hoje, já são cerca de 11 meses de jornada do Take Me Home – nome dado ao projeto  pela Europa. 

A família abriu mão de confortos que tinham no Brasil e está vivendo uma das melhores fases de suas vidas depois de terem saído de Campinas, cidade onde se conheceram e onde residiam antes de decidirem viajar pela Europa. 

Marcelo é tatuador e, assim como Marina, também trabalha com fotografia. Agora que estão em viagem, seguem trabalhando pelos países em que passam para manter alguma renda durante o ano. 

O sonho dessa viagem era de mais de 10 anos, mas o tempo médio de planejamento foi de um ano. Há mais de 18 anos a gente buscava pela cidadania italiana e, em abril de 2020, conseguimos”.

Marina Martensen

Confira na entrevista os detalhes da viagem: 

Qual o tempo estimado de viagem? Pretendem voltar ao Brasil, ficar na Europa ou continuar viajando?

Já viajamos por 11 meses desde janeiro de 2023, mas o tempo estimado da viagem é de 12 meses. Nós pensamos em ficar mais um ano na Itália, morando em um lugar fixo, para dar uma rotina para as crianças, assim, elas vão poder vivenciar outra dinâmica de vida. 

Como foi se planejar financeiramente para essa viagem?

Então, foi basicamente em 2022 que nós nos planejamos para a viagem, foi uma ano de muito trabalho, principalmente para o Marcelo. Ele é tatuador e atingiu altos picos de trabalho, umas 12h por dia, para que a gente pudesse aumentar ao máximo a poupança da viagem. E nós tivemos que abdicar de alguns confortos que tínhamos. Costumávamos viajar mais, por exemplo, e aí, durante esse ano, diminuímos para que a gente conseguisse juntar uma boa grana, mas essa economia já estava sendo feita há dois anos, por causa da pandemia. 

O motorhome é alugado ou foi comprado?

O motorhome foi comprado, não quisemos alugar pois ia sair muito mais caro pelo tempo estimado de viagem, então, não valia a pena, seria melhor comprar. 

Como lidam com questões de saúde? Contrataram algum seguro de vida?

Sim, o Marcelo contratou um seguro de viagem para ser utilizado em qualquer emergência. Mas esse seguro não tem atendimento de rotina, é só em caso de urgência que podemos utilizar. 

Vocês têm alguma dificuldade em relação à alimentação? Foi necessário alguma adaptação ou conseguem encontrar os alimentos de preferência?

Não, não precisamos nos adaptar, foi bem tranquilo. Gostamos muito da comida, especialmente a italiana. Mas a nossa alimentação na viagem talvez seja “menos saudável”, já que comemos mais fora de casa, mas ainda conseguimos manter uma boa alimentação, temos uma cozinha no motorhome, então no dia a dia temos o costume de fazer aqui. E uma comida que sentimos muita falta é a tapioca. 

Como ficou a educação das crianças?

Nós estamos fazendo homeschooling, a gente fez cadastrado em uma plataforma que se chama Clonlara. É uma escola que tem uma metodologia específica para esse tipo de processo educativo em homeschooling. A gente – eu e o Marcelo – tem contato com um tutor que nos auxilia e direciona como passar as atividades, mas a parte de ensinar é responsabilidade nossa. As crianças, em teoria, estariam aprendendo história do Brasil mas, como estamos viajando, aproveitamos para ensinar durante a viagem outras coisas, como quando fomos à Grécia.

Como tem sido a socialização das crianças?

Eles tiveram contato com outras crianças, mas não tiveram tanta socialização. Conheceram duas crianças austríacas, por exemplo, mas ninguém falava o mesmo idioma e, de alguma forma, todos se entenderam e passaram um tempo juntos, brincando. Quando chegamos, as crianças tinham muita dificuldade em se comunicar com outras pessoas, isso melhorou e, mesmo ainda com alguma barreira linguística, eles buscam interagir com outras pessoas. 

Como foi viver o verão europeu de 2023? 

Foi maravilhoso! Nos primeiros seis meses, nós passamos pela região dos Balcãs: Albânia, Sérvia, Eslovênia, Monte Negro, Bósnia, lugares com belezas naturais exuberantes. As pessoas, em geral, costumam ser mais recíprocas e solícitas, a gente se surpreendeu muito. 

Até agora, o que mais surpreendeu a família nessa viagem?

Acho que é o fortalecimento da nossa relação. O convívio familiar está nos unindo e fortalecendo cada vez mais. Antes da viagem, isso era uma das coisas que mais causava preocupação, porque nós vivíamos em uma casa muito grande e agora estamos em um espaço significativamente menor, mas isso só nos aproximou. Também vimos um grande progresso nas crianças com o home schooling, e a beleza dos países também não deixou de ser uma surpresa. 

Qual o lugar que mais gostaram até agora? 

Até agora foi a Puglia, no sul da Itália, que marcou muito a nossa família. A Albânia também nos surpreendeu muito. E para o Caetano foi à Suíça, porque lá ele pôde esquiar e teve o primeiro contato com a neve. 

O que os faria desistir no meio do caminho? 

Alguma questão de saúde com certeza. Dinheiro, talvez, já que o Marcelo está tatuando em alguns estúdios por onde a gente passa. 

Quais as dicas e conselhos para quem quer fazer uma viagem assim?

Olha, precisa se planejar financeiramente, pensar em como conseguir trabalhar a distância e, caso não tenha a possibilidade, criar um trabalho para fazer à distância, ou então juntar o dinheiro e tirar o ano sabático. Fazer uma pesquisa prévia dos lugares que pretende ir, verificar a questão do visto. E também precisa ter predisposição para ficar dentro de um motorhome, vivendo perrengues e abrindo mão de “mordomias” e facilidades que a gente tem dentro de uma casa convencional. O desapego é fundamental para conseguir ficar bem.


Gabriela Reis

Estudante de Relações Internacionais e Jornalismo na PUC Minas. Amo prosa, café, arte, cultura e passar tempo com quem eu amo.

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