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Homem deitado, de barriga pra cima, nu, de cabelo preto.
Homofobia mata. Caso número 17. Acrílica sobre tela, 40x50cm - Ano 2020

É possível expressar na arte o desejo de revolução?

Na temporalidade alargada do ambiente digital, a Segunda Mostra de Arte Punk traz à tona a diversidade e o talento na cultura punk brasileira.

O punk surgiu na década de 1970, na Inglaterra e nos Estados Unidos, e foi marcado por uma forte ideologia de contestação ao capitalismo. Por ser tão diverso, o conceito do movimento punk não é consenso nem para seus integrantes: cada um tem uma visão do que ele representa, sendo um movimento artístico disseminado através da arte e da música, também conhecido como contracultura.

Na temporalidade alargada do ambiente digital, a Segunda Mostra de Arte Punk, disponível online no endereço mostradeartepunk.art.br, traz à tona a diversidade e o talento das mais variadas expressões artísticas da cultura punk brasileira. A mostra reúne diversos tipos de arte, do desenho à pintura que mostram detalhes de percepções à margem, revolucionárias e de cunho justiceiro que esse grupo tem em relação à vida em sociedade.

A Mostra de Arte Punk foi idealizada para apresentar o movimento, que vai muito além daquilo que a maioria conhece: a música, a forma de se vestir. O próprio punk também é um movimento artístico que promove o lema “Do it yourself” – “Faça você mesmo”, em português. Conheça os artistas que expõem nesta segunda edição.

Artistas

Fernando Carpaneda é um dos artistas que têm suas obras apresentadas na exposição. Carpaneda trabalha há mais de vinte anos com o punk, homoerótico, o cenário underground, do submundo e diz ter como foco no trabalho a cultura marginal. Em 2020, Fernando teve duas obras selecionadas e as apresentou no museu de Arte Heckscher, em Nova York, na Bienal de Long Island.

Homem segurando uma maça preta com o símbolo anarquista (A) de branco.
O Fruto do Conhecimento. Acrílica sobre tela, 40x50cm – Ano 2021

Confira a entrevista, que foi editada para fins de clareza e concisão:

Como você se envolveu com a cena punk? Qual a sua história com a arte?

Eu comecei a desenhar e a pintar por volta dos 11 anos e fiz minha primeira exposição de pinturas aos 13, no início dos anos 1980, em Taguatinga, Brasília. Eu era adolescente no início do movimento Rock Brasília e me tornei punk naquela época. Conheci o Renato Russo, ainda no momento da banda Aborto Elétrico, e participei da II Faculta – Feira de arte e cultura de Taguatinga, em 1983, que reunia bandas de rock e artes plásticas. As bandas punk que tocaram naquele evento foram o Capital Inicial, a Plebe Rude e outros. Desde então, punks, prostitutas, homossexuais e banheirões se tornaram minha vida e passaram a ser o foco da criação de meus trabalhos.

O que é “ser punk” pra você?

Por mais clichê que pareça, acho que o punk sempre foi uma celebração da individualidade e da ética DIY (faça você mesmo). Além disso, tendo a pensar nisso mais como uma atitude do que um gênero específico de música. Punk é sobre ser fiel a quem você é, sem vergonha, constrangimento ou preocupação com o que a sociedade pensa sobre você.

O que você gostaria de expressar e transmitir com as suas artes?

Meu trabalho sempre retratou a cena underground, punks, mendigos e gays. O foco do meu trabalho sempre foi a cultura marginal. Como eu sempre retratei punks, entrei em contato com a galeria do CBGB, em 1995, e fui selecionado para participar de uma exposição. Minha grande busca como artista era expor na galeria CBGB, em Nova Iorque. Tive esse sonho realizado com três exposições que fiz lá. O que consegui depois disso foi consequência do meu trabalho, que sempre me abriu portas e continua abrindo. Não tenho ideia de quão longe estou indo. Eu me considero realizado e feliz por ter alcançado o que queria.

Bar CBGB em tela.
CBGB. Acrílica sobre tela, 50x76cm – Ano 2017

Como é seu processo de criação?

Meu processo de criação vem da convivência com as pessoas. Conviver com a pessoa retratada é parte fundamental do meu trabalho. Meus desenhos geralmente são estudos para minhas pinturas e minhas esculturas. Eu costumo trabalhar em várias peças ao mesmo tempo. Utilizo três processos para a criação das obras: modelo vivo, fotografia e desenho.

Qual a melhor parte da produção da sua arte pra você?

Gosto de todo o processo de produção, desde a escolha dos modelos, criação da obra, execução e exposição da obra.

Você acredita que a comunidade punk é vista com os valores base que vocês expressam ou a visão da sociedade é deturpada? Há preconceito?

A arte e o movimento punk visam promover a liberdade de expressão e o conhecimento, porém, nem todos têm conhecimento e sensibilidade para compreender ou discutir o assunto. O conservadorismo e a falta de informação são recorrentes. Nossa sociedade é formada por pessoas com diferentes realidades e estilos de vida e não temos o direito de obrigar as pessoas a seguir nossa realidade, assim como ninguém tem o direito de nos impor a sua. Assim como a sexualidade humana, a ideologia punk é complexa e não cabe a ninguém julgá-la.

O que é o movimento punk pra você?

Para mim, o Movimento Punk sempre foi sobre destruir crenças e tradições antigas e ultrapassadas para que você possa viver como você realmente é. Trata-se de questionar a autoridade e enfrentá-la quando ela se torna corrupta ou não tem mais seus melhores interesses no coração. Punk é sobre solidariedade em um mundo de caos. É sobre individualismo e não conformidade. É sobre comunidade, tanto a comunidade punk, quanto as comunidades maiores ao seu redor. É tão importante ser antiautoritário, anarquista, classe trabalhadora e anticonsumista quanto ser empático, faça-você-mesmo, humanitário e autêntico. Punk significa nunca ceder às normas e pressões sociais.

Confira as obras de Fernando Carpaneda para a II Mostra de Arte Punk clicando aqui.

Produção de Giovanna de Souza e Pedro Paulo Rocha

Colab PUC Minas

Colab é o Laboratório de Comunicação Digital da FCA / PUC Minas. Os textos publicados neste perfil são de autoria coletiva ou de convidados externos.

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