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Capa do novo álbum // Foto: Coniiin

Djonga e seu PONTO DE VISTA sobre a FOME

O retorno do artista à intensidade que lhe trouxe fama

Gustavo Pereira Marques, nascido em Belo Horizonte em junho de 1994, tornou-se referência na cena do hip-hop brasileiro na última década. Na segunda-feira, 10 de março, Djonga, como é popularmente conhecido, levou ao ar o teaser de seu novo álbum, Quanto mais eu como, mais fome eu sinto. O trailer retrata familiares do artista, com a câmera enquadrada na região bucal de suas faces, enquanto mastigam diferentes alimentos. Com lançamento marcado para às 18:13 do dia 13 de março, o álbum será o 6º de seus 8 álbuns de estúdio a ser lançado nessa mesma data, forma do artista expressar sua tradição e afeto pelo número 13, presente também em outros setores da vida do cantor.  

Djonga publicou todos os seus álbuns de estúdio em um dia 13. O cantor demonstra afinidade com o número 13 por alguns motivos, como a atribuição do número ao Atlético Mineiro, time de coração do artista. Na religião da Umbanda, o número 13 é um dos mais simbólicos do orixá Exu. A representação que Djonga faz de sua religião, de matrizes africanas, ajuda a valorizar a herança afro-brasileira no cenário da música nacional. Ao final de FOME, primeira música do novo álbum, Djonga cita uma passagem do conto de Exu:

Exu era o filho caçula de Iemanjá e Orunmilá

Irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi

Exu comia de tudo, sua fome era incontrolável

Comeu todos os animais da aldeia em que vivia

Comeu os de quatro pés, comeu os de pena

Comeu o cereal, a fruta, o inhame, a pimenta

Bebeu toda cerveja, toda cachaça, todo o vinho

Ingeriu todo o azeite-de-dendê e todos os obis

Quanto mais comia, mais fome Exu sentia”

Com obras marcantes, como Heresia e O Menino Que Queria Ser Deus, Djonga ocupa a prateleira de um dos maiores nomes do rap nacional, status que o permite produzir com outros grandes nomes da música brasileira, como Milton Nascimento, que participa da música Demoro A Dormir, do novo álbum.

No dia 20 de janeiro, o artista disse em seu perfil no Instagram: “Eu amo fazer arte, nos últimos tempos surfei em várias ondas e me diverti fazendo o que amo. Teve quem veio junto, teve quem não. Mas tá na hora de voltar as coisas pro seu devido lugar. Até breve.” Esse comentário alimentou esperanças no público de que ele voltaria a seu estilo de rap real, lírico e energético. Com 12 músicas, Quanto mais eu como, mais fome eu sinto atendeu às expectativas criadas pelo público, com dinamicidade, riqueza lírica habitual do cantor e abordagem da temática da fome e do desejo por sempre conquistar e comer mais.

Milton Nascimento, Samuel Rosa, RT Mallone e Dora Morelenbaum aparecem no novo álbum, produzido pelo renomado Coyote Beats e por Rapaz do Dread para, junto a Djonga, contar ao ouvinte que quem tem fome, come, e quem come fica com fome de novo. Sempre atrás de mais ouros, Djonga se mostra vivo e ativo na cena, mesmo após o lançamento de 8 álbuns de estúdio, mais que muitos artistas renomados da cena hip-hop. 

A primeira música do álbum, Fome, apresenta a proposta da obra de Djonga logo de cara. “É que eu ainda tenho fome, mano”, diz o refrão da música animada e melancólica. As músicas Livre e Ainda (part. Dora Morelenbaum) possuem a mesma estética.

PPRT, Real Demais, Qq Cê Quer Aqui e Ponto De Vista são as canções mais rápidas e energéticas do disco, retomando a temática adotada pelo artista em suas primeiras produções de estúdio: um rap agressivo e de intensidade instrumental e lírica. Ponto De Vista conta com a participação de RT Mallone, vencedor do reality show “Nova Cena”, da Netflix, em que Djonga foi um dos jurados. 

João e Maria é, para este álbum, o que a música Solto foi para o disco O Menino Que Queria Ser Deus, lançado por Djonga em 2018. As duas canções foram produzidas por Coyote Beats, com instrumentais de saxofone sampleado e uma levada mais lenta e suave.

Demoro A Dormir, com participação de Milton Nascimento, é a canção mais tranquila e romântica da obra, diferenciando-se da  dinâmica e intensa tendência do álbum no geral. O estilo do instrumental se assemelha a diversas obras da carreira de Milton, contendo elementos de bossa nova e samba.

A proposta da canção Selvagem lembra o que Djonga trouxe em seu último disco, Inocente “Demotape”. Uma forma experimental e mais cantada, que dividiu opiniões da crítica.

Já a música Te Espero Lá, com participação de Samuel Rosa (vocalista da banda Skank), destaca-se pela levada pop dançante similar a um reggaeton, sendo uma homenagem ao estilo habitual do Skank e a única do álbum com esse caráter. 

Foto da rede social do artista

Uma discussão sobre o retorno do “Ano Lírico”, com o rap de mensagem sendo o estilo em alta dentre os lançamentos do hip-hop nacional, tem tomado vez nas redes sociais. Se 2025 for dessa forma, Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto é exemplo do aprofundamento e exploração poética adotados pelos artistas que fazem parte da construção deste conceito.

Nota final da obra: 9/10 

1 comentário

  • Como avó do autor do texto , fico muito orgulhosa de ver meu neto escrevendo tão bem. Nao é uma surpresa; Ian sempre escreveu textos excelentes e muito ricos em conteúdo. E fico ainda mais feliz com a escrita cuidadosa e correta ! Parabéns!