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A superficialidade do mundo virtual

Aumento do uso das redes sociais causa impacto nas interações sociais e se tornam ferramenta para a monetização de conteúdo.

Há um aumento exponencial no uso das redes sociais. Diversas plataformas são utilizadas por milhares de pessoas todos os dias. Aplicativos como Facebook, Whatsapp, LinkedIn e Twitter são utilizados para se comunicar, fazer negócios, entreter e se informar diariamente. Outros apps como o TikTok, Telegram e o Instagram também foram incorporados nas lojas de aplicativos cada vez mais aperfeiçoados e com novos recursos. O apelo à tecnologia e, principalmente, à sociabilidade via aplicativos, pode ter ocasionado uma era superficial, com roteiros pré-definidos e que propagam realidades “perfeitas” na internet. A imersão da sociedade nesse cenário movimentou pessoas que estão buscando conexões menos robotizadas e petrificadas, sem deixar as novidades e inovações.

As mídias sociais crescem exponencialmente no século XXI, mas é inegável sua ascensão durante a pandemia do novo coronavírus. Um período em que o mundo entrou em quarentena, se isolando socialmente, e a internet foi o único instrumento viável de comunicação. Algo que parecia temporário, se tornou rotina e, desde então, as redes se consolidaram como ferramenta de socialização.

A pandemia modificou hábitos

Na última década a internet se expandiu e evoluiu, consolidando seu espaço por todo o mundo, ainda mais com a disponibilidade da tecnologia a seu favor. Segundo o relatório Digital 2021, promovido pela Hootsuit em parceria com We Are Digital, um usuário de internet comum passaria cerca de 7h online por dia, resultando em mais 48h semanais. Foi estimado que cerca de 12 trilhões de horas online seriam utilizadas por usuários comuns ao longo de 2021, ou seja, mais de 1,3 bilhões de horas por humano, um novo marco na adoção da internet.

O relatório mostrou as seguintes mudanças em hábitos de mídia durante a pandemia ao longo de 2021: enquanto o consumo de informações jornalísticas crescia em 35%, o consumo de serviços de streaming aumentou 29% e o das redes sociais subiu 23%, se comparado com 2020.

As restrições devido a pandemia do covid -19 modificou tanto a vida profissional quanto a pessoal da população. O Ericsson Mobility Report, relatório trimestral sobre o estado da telefonia móvel no mundo, em uma pesquisa sobre os dados de redes móveis durante a pandemia, mostrou que 76% disseram que a tecnologia ajudava com a educação dos filhos, enquanto 74% afirmaram que ela ajudava a manter contato ativo com membros da família e amigos pessoais, duas atividades limitadas pelos impactos da covid-19. Durante a quarentena, sendo o recurso mais viável, a internet se tornou ainda mais útil na sociedade, por diversas razões, seja nos estudos, trabalho, negócios ou entretenimento. Muitas pessoas ficaram desempregadas e essa foi uma das soluções encontradas para ganhar dinheiro e empreender. Além disso, muitas empresas aderiram ao regime remoto, dando início ao que chamamos agora de trabalho plataformizado.

Viver “24 horas” conectados durante quase dois anos de quarentena, impactou a conexão entre as pessoas, criou novos nichos, renovou o entretenimento e colocou em ascensão as redes sociais. O consumo desses recursos padronizaram o que deve ser publicado e compartilhado. O que vemos nas redes é real ou faz parte de uma realidade construída socialmente e virtualmente? Essa dúvida surge na crítica que as redes dão visibilidade à uma projeção de mundo que, muitas vezes, é irreal. As plataformas, assim, podem permitir que a sociedade viva uma vida irreal, postando e interagindo com imagens perfeitas que só podem existir em uma vida digital.

A narrativa das interações sociais

O funcionamento das redes sociais: dos algoritmos à monetização

As redes sociais estão entre os meios de comunicação mais usados pela população brasileira, esses espaços virtuais são utilizados com diferentes finalidades, seja para compartilhar informações, imagens, vídeos, fotos, buscar conhecimentos profissionais, divulgar produtos, trocar mensagens e estabelecer contatos pessoais. Cada rede social tem público alvo e objetivos definidos, proporcionando formas de interações entre os usuários, seja de forma verbal ou não verbal, como: comentários, curtidas, emojis, compartilhamento, duetos, gifs, etc. Quanto maior o número de interações, maior o engajamento e, consequentemente, maior a quantidade de visualizações. Tudo isso eleva as chances dos usuários viralizarem e, em alguns casos, monetizarem seu conteúdo.

Essas mídias sociais podem englobar nichos específicos, com públicos específicos. Tudo isso também depende dos algoritmos das redes sociais que identificam quais conteúdos devem ser entregues para cada usuário. Os links que acessamos, os likes que deixamos e as fotos que compartilhamos, dão pistas para que o algoritmo decida o que queremos ver. E é assim que a redes social vai impulsionar – ou atrapalhar – o alcance de conteúdos.

Em entrevista ao Digitalks, Juliano Kimur, especialista em marketing e inovação digital, afirma que “as mudanças do algoritmo são frequentes e, nós, não temos controle sobre essas mudanças. A cada nova mudança nós tentamos nos adaptar e melhorar nossos processos, porém, sempre que mudamos tentamos nos adaptar. Isso nos coloca em uma posição de hamster correndo nas rodinha, tentamos sempre correr atrás do atraso.”

Os influencers produzem materiais visando todo esse processo: de alcance, engajamento e monetização. Concentrados em atrair mais seguidores, eles utilizam de diferentes estratégias. Entre essas, um método muito utilizado é a produção de conteúdo de nicho, ou seja, escolhem um tema para gerar alcance. As inúmeras opções podem variar como: assuntos acadêmicos, dublagens, memes, danças, cuidados com o corpo, com os cabelos, dicas, auto-ajuda, entre outros… São muitas as possibilidades disponíveis para quem quer produzir e consumir.

Um mundo virtual que desaparece na superficialidade.

Fernanda Bertollini

A busca pela “perfeição” contagiou os usuários de redes sociais, principalmente aqueles que precisam produzir conteúdos que agradem o algoritmo e, consequentemente, o público. Conseguir viralizar um vídeo, foto ou outra tipo de conteúdo, pode abrir um leque de oportunidades. Muitos influencers são convidados para eventos, publicidades, colabs, entre outros. O marketing está em todas ações digitais, inclusive nas pequenas coisas, que podem passar despercebidas para parte dos usuários. Há um intenção publicitária, por exemplo, quando um famoso utiliza algum “presente” e este – minutos depois – esgota nas “prateleiras”. Este mundo virtual milimetricamente esquematizado, fez com que muitos usuários sentisse falta de conteúdos e interações menos superficiais e mais autênticas.

Conexões mais profundas no virtual

Os seres humanos possuem necessidades sociais. Desde criança somos ensinados a interagir: primeiro com pessoas da família, depois com pessoas fora dela, até chegarmos à primeira professora, primeiro namorado e assim por diante. Segundo o Comitê pela Cidadania, as necessidades de relacionamentos emocionais impulsionam o comportamento humano. Como seres sociais, buscamos a todo momento o afeto do outro, e a carência desses relacionamentos causam tristeza e despertencimento. Uma excelente forma de suprir essa necessidade é sentir que a sua presença no mundo gera valor para a vida de outras pessoas. Isso pode ser sentido no ambiente familiar, profissional, com amigos e através da execução de ações sociais.

As pessoas nas redes sociais buscam, intencionalmente ou não, estarem inseridas em algo e a pertencerem a algum lugar ou grupo. Diante de tanta superficialidade, muitas pessoas não se identificam com conteúdos gerados pelo algoritmo, apesar de ainda consumirem, elas procuram por algo mais real e menos artificial. A internauta cita dois personagens de séries distintas que se tornaram queridos pelo público e faz uma crítica entre o ficcional e o real.

@madrugadacafeinada só uma opinião sobre o caso 🫰🏻 #wandinhaaddams #eddiemunson #wednesday #fyp #eddie #wandinha ♬ original sound – oh

No Twitter, uma das redes sociais com atualizações mais rápidas sobre eventos que acontecem no mundo, muitos usuários expressam suas insatisfações com padronização de conteúdos e busca de uma perfeição inalcançável.

Recentemente, a série Wandinha, personagem da família Addams e que tem uma nova série exibida pela Netflix, fez uma crítica ao mundo das redes sociais e tecnologia inserida nas falas da personagem principal que afirma não ter celular uma vez que se “recusa a ser ecrava da tecnologia”. Justificando sua escolha, a personagem ainda considera que “redes sociais são um vazio de afirmações insignificantes”. As expressões fizeram com que muitos internautas se identificassem com a personagem.

Redes sociais são um vazio de afirmações insignificantes

Série Wandinha da Netflix

O que acham os internautas?

Essa percepção abre caminho para os usuários aderirem às novas redes sociais, como Be Real por exemplo, que buscam se relacionar a partir de conexões mais próximas, mas também com inovações. O app BeReal é a primeira plataforma espontânea e imprevisível onde você pode compartilhar, uma vez por dia, seus momentos mais autênticos com seus amigos através de fotos. Todos os dias, em horários variados, os usuários do BeReal recebem uma notificação em seus smartphones para tirar uma foto e compartilhar exatamente o que estão fazendo naquele momento.

Usuários deste aplicativo tão inovador, Mateus Lopes, desenvolvedor web, afirma que o BeReal faz parte de uma divisão futura das redes sociais entre dois grupos. De um lado, aplicativos com teorcomercial, assim como o Instagram, que servirá para um público aberto e promocional. E de outro lado, um grupo de redes sociais que estará voltado para iterações privadas, e, consequentemente, com uma proposta mais voltada para o “real”, assim como o BeReal. Mateus ainda ressalta que, atualmente, redes sociais com cunho mais opinativo, como o Twitter, influenciam bastante na maneira de pensar, levando a imaginar que os “filtros” das redes não se resumem em apenas os de imagem, mas também aos de discursos e disseminação de informações. Com isso em mente, questiona-se se a influência desse meio de comunicação será perpetuada, crescente ou apenas um reflexo da comunicação social existente desde sempre, cuja qual apenas muda o instrumento: antigamente, por exemplo, jornais e confraternizações.

“Redes sociais com cunho mais opinativo, como o Twitter, influenciam bastante na maneira de pensar.”

Internauta Matheus Lopes

Outra plataforma que chama atebção é o Reddit. Essa rede social é o lugar onde as pessoas se reúnem para ter as conversas mais autênticas e interessantes da internet – onde comunidades de jogos, fóruns nostálgicos da internet, blogueiros, criadores de memes e fandoms se misturam com streams de vídeo, grupos de apoio, viciados em notícias, especialistas em poltronas, profissionais experientes e artistas e criadores de todos os tipos.

Tiago Foss, de 25 anos, é usuário do Reddit há cerca de dois anos e acredita que redes como essa mudam o foco do “lifestyle” (muitas vezes maquiados, como no Instagram) para pólos de interesses. “O Reddit basicamente gira em torno dos grupos. Então ele vai muito mais na ideia de seguir e acompanhar um grupo do interesse que você tem do que seguir ou acompanhar uma pessoa em específico”, ele afirma. Todavia, Tiago acredita que o que consome nas redes sociais é uma forma de diversificar opiniões que ele já tinha pré-estabelecido. Assim, diferente do constatado por Mateus, Tiago reitera a possibilidade de estarmos nos aproximando cada vez mais de uma rede social que englobe “tudo”, ao invés de serem divididas em vida privada e comercial. Isso porque acredita que será, de fato, cada vez mais difícil “esconder” a vida real, com o avanço das tecnologias, softwares e aplicativos. Filtros de imagens, por exemplo, poderão ser facilmente identificáveis e até mesmo indicados em cada publicação.

Tiago acredita que o que consome nas redes sociais é uma forma de diversificar opiniões que ele já tinha pré-estabelecido.

Internauta Tiago Foss

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Como aplicativos de namoro podem iniciar novos relacionamentos

Como fugir do cancelamento das redes sociais?

Conteúdo produzido por Fernanda Bertollini e Marianna Ferry na disciplina de Narrativas Digitais, sob a supervisão da professora e jornalista Maiara Orlandini.

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Colab é o Laboratório de Comunicação Digital da FCA / PUC Minas. Os textos publicados neste perfil são de autoria coletiva ou de convidados externos.

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