Fatine Oliveira, mestranda no programa de pós-graduação em Comunicação da UFMG, conta que mulheres no feminismo frequentemente não percebem as mulheres com deficiência.
Essa falta do reconhecimento dos sujeitos com deficiência parte de uma construção social: “É importante refletir sobre o que falta nesses debates do feminismo para poder tratar o Outro”.
Fatine tem distrofia muscular, é cadeirante desde os oito anos de idade. Ela é escritora no Disbuga, que começou como um canal no YouTube, com o propósito de expor as dificuldades e desafios sociais, políticos, econômicos e culturais enfrentados pelas pessoas com deficiência.
Na UFMG, ela participa do grupo Afetos: Grupo de Pesquisa em Comunicação, Acessibilidade e Vulnerabilidades e realiza pesquisa sobre mulheres com deficiências visíveis no Instagram.
Feminismo para quem?
Interseccionalidade é um termo cunhado por Kimberlé Crenshaw, e segundo ela, é uma ferramenta que nos permite enxergar a colisão das estruturas.
Significa que as pessoas se encontram em situações de desvantagem perante a sociedade por sofrerem as mais diversas formas de opressão em razão de suas marcas de identidade, como raça, classe, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, religião, nacionalidade, dentre outras.
Fatine Oliveira defende a interseccionalidade como uma luta política “porque eu sou uma mulher com deficiência e muitas vezes os feminismos não contemplam a realidade da mulher com deficiência.”
Feminismos plurais devem incluir mulheres com deficiência
O feminismo interseccional tem como objetivo acolher as divergências de corpos com deficiência e, de forma analítica, desconstruir discursos centrados em uma certa normatividade:
“Não faz sentido um feminismo que não seja interseccional. O universal deveria ser o interseccional”.
Fatine Oliveira
A problemática da falta de inserção de pautas sobre deficiência dentro do feminismo impede que o capacitismo seja desconstruído: “A gente não se sente acolhida com esse feminismo porque ele não trata a deficiência como marcador social”, aponta Fatine Oliveira.
Assim, muitas mulheres não se veem dentro do movimento por falta de reconhecimento: “O não acolhimento vem desse lugar de não se sentir identificada dentro dos debates do movimento feminista”.
A variedade de corpos faz com que o olhar para outras mulheres dentro do movimento feminista seja necessariamente mais cuidadoso. Segundo Fatine Oliveira, o machismo faz parte dessa estrutura excludente e as pessoas, mesmo quando se dizem feministas, são capazes de produzir discursos preconceituosos dentro do movimento. “Eu já fui uma mulher machista. Isso é próprio de uma falta de diálogo”.
A inclusão das mulheres com deficiência nas pautas feministas demanda ações de conscientização política e social. “As mulheres que têm um corpo completo não têm a noção de como muitas coisas são limitantes para mim. Fazer uma consulta ginecológica cuja sala não é adaptada para uma mulher que usa cadeira de rodas, por exemplo”, comenta.
Dica de leitura
“Ser mulher é ser muitas coisas.”
Fatine Oliveira
O guia “Mulheres com Deficiência: Garantia de Direitos para Exercício da Cidadania” foi lançado pelo Coletivo Feminista Hellen Keller, um coletivo em busca de uma pauta política para Mulheres com Deficiência.
O guia faz um resgate histórico sobre o movimento de pessoas com deficiência, modelos da deficiência e as contribuições do movimento feminista.
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