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Fotomontagem de 16 pessoas em preto e branco

Do vendedor de balas ao empresário: o que dizem as ruas nas eleições mais polarizadas do Brasil?

Durante dois meses antes das eleições, quatro estudantes foram às ruas para entender as expectativas do povo em um momento tão polarizado

9 de setembro de 2022: 21 dias para as eleições

Clima quente, praticamente nenhuma nuvem no céu. Nosso grupo foi visitar a Praça da Liberdade na Savassi. Dois dias antes, ocorreu o Bicentenário da Independência do Brasil. A data costuma ser um dia de celebração para a maioria dos brasileiros, mas esse ano foi diferente. Dessa vez, o dia não foi motivo para todos comemorarem. 

Foto da Praça da Liberdade em um dia quente e ensolarado
Praça da Liberdade, dia 9 de setembro de 2022

No último 7 de setembro, uma parcela específica da população se apropriou do feriado nacional para demonstrar apoio ao presidente Jair Messias Bolsonaro em vários pontos do país. Em Belo Horizonte, a praça foi tomada por milhares de pessoas de verde amarelo, manifestando-se a favor da família tradicional, de Deus, da pátria e pelo fechamento do STF.

Observando esse movimento às vésperas das eleições do 1º turno, resolvemos ir às ruas conversar com a população, tentando entender o que se passava na cabeça de quem estava lá.

Demos uma volta na Liberdade e tentamos conversar com algumas pessoas, porém, os assuntos “eleição” e “política” pareciam assustar. Até que vimos um grupo de artistas de rua e decidimos nos aproximar. Eles estavam sentados no chão, exibindo seus artesanatos sobre os tecidos estendidos.

Maicon Sousa, de 24 anos, era um deles, que foi o primeiro a aceitar falar conosco. 

Foto de um vendedor de arte sentado no chão da praça exibindo seus artesanatos, ele usa um colar de conchas enquanto é entrevistado
Maicon Sousa, 24, vendedor de arte na rua

O artista nos disse que não gosta de se envolver com assuntos de política, mas faz uma balança entre os dois governos: 

Eu sou Lula, querendo ou não, eu reconheço muito do reinado de Lula aqui no Brasil, minha família conseguiu tudo o que tem no reinado de Lula, e nesse reinado bolsonarista eu consegui só problema pro meu lado, então a gente coloca na balança”.

Maicon, artista de rua

Natural de Salvador, Maicon, de forma lúdica, se refere ao governo do ex-presidente como o “reinado de Lula”, época em que, na visão do entrevistado, a população mais pobre viu novas oportunidades baterem à porta.

Maicon também fala sobre a repressão e a omissão dos políticos na arte de rua. Confira o relato completo no áudio:

Depoimento em áudio de Maicon, vendedor de artesanato

Duas políticas, dois Brasis

Entre 2003 e 2011, o governo focou nos programas estatais. No âmbito da saúde foram feitos investimentos no SUS, como a Farmácia Popular, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a campanha de vacinação contra o H1N1 – em que mais de 80 milhões de brasileiros foram vacinados em três meses. Quanto à educação, foram criadas 18 novas universidades públicas e 178 novos campus, além da criação do ProUni e do Fies, programas que permitiram a inserção em massa de estudantes de baixa renda nas universidades privadas. 

Por outro lado, no “reinado bolsonarista”, o artista afirma que ele e a família, que moravam em um bairro periférico, encontraram mais dificuldades. Segundo Sofia Manzano, ex-candidata à presidência (PCB) e doutora em Economia, o governo de Bolsonaro representa a transferência de tudo que é público para o setor privado. Em três anos de mandato, de acordo com dados do Ministério da Economia e do Boletim das Empresas Estatais, Jair Bolsonaro privatizou 36% das estatais brasileiras e mirou em privatizações de empresas como os Correios, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais (CeasaMinas) e a refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim.

É evidente que vai ser de difícil acesso. Se o SUS se tornar apenas um programa emergencial, o que já é difícil para a população, vai tornar-se impossível. Então se você tiver um câncer ou um transplante, não vai ter como fazer. Ou você vai para um plano de saúde ou não vai ter como. Se você não tiver plano de saúde, vai morrer, ou se não for morrer, vai se endividar.”

Sofia Manzano, ex-candidata à presidência (PCB) e doutora em Economia

Ainda em relação à educação, a economista enxerga que, caso as universidades públicas sejam entregues ao setor privado, as mensalidades serão cobradas e a juventude que não tem dinheiro para pagar irá procurar o financiamento estudantil do setor privado.

Depois da primeira entrevista com Maicon, a maré mudou para nós e encontramos pessoas mais abertas a falar sobre política. 

Arraste para o lado e confira a galeria de entrevistados:

Foto de um menino vendedor de balas segurando uma caixa de "mentos" sorrindo enquanto faz um "joinha"
Menina de óculos, cabelos verdes e sorridente, sentada em um banco de uma praça em um ambiente externo
Senhora de cabelos dourados, usando máscara sentada no banco de uma praça em um ambiente externo
Laura Peixoto – Fotojornalismo-21

Diego, vendedor de balas, 20 anos: “Todo mundo já sabe que o Lula já ganhou, porque o Bolsonaro falou que ia fazer um tanto de trem e liberou foi arma pra um matar o outro”.

Peixoto-22

Hernane, dentista, 60 anos: “Eu acho que o Bolsonaro é um estadista, é um cara que briga pelo povo”

Peixoto-23

Matheus, estudante de direito, 23 anos: “Eu não desanimo com a política porque a partir do momento que eu tenho a oportunidade de votar, eu tenho a oportunidade de mudar”.

Laura Peixoto – fotojornalismo-13

Maicon, vendedor de arte, 25 anos: “Eu não me envolvo com política. Tem três coisas que eu odeio: política, fiscal e polícia”.

Laura Peixoto – fotojornalismo-18

Cecília, estudante de design, 21 anos: “Tô sentindo muita insegurança quanto à política devido os últimos anos”.

Laura Peixoto – fotojornalismo-19

Epaminondas, pipoqueiro, 70 anos: “O candidato que a gente tem votado e que tá ajudando o povão aí mesmo é o Bolsonaro, né?!”

Peixoto-12

Sônia, advogada aposentada, 75 anos: “Não voto mais, mas votaria no Bolsonaro, minha expectativa é que ele faça um bom governo.”

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Dando mais uma volta na praça, Dona Helena, uma senhora de 72 anos que estava vendendo balas, foi se aproximando de nós. Quando já estava bem perto, perguntou bem baixinho se queríamos comprar algum doce e nós logo dissemos que sim. Devolvemos a pergunta, perguntando se ela gostaria de participar de uma entrevista, e ela também disse que sim. Já tendo passado dos 70 anos, ela demonstrou certa desilusão ao ser questionada sobre a política do Brasil. Dona Helena sente falta de um presidente que tenha coração, que tenha vivido a pobreza, para ajudar os que mais precisam.

Voltando um pouco no tempo, em maio de 2022, observamos que o Índice de Preços do Consumidor (IPCA) atingiu o maior percentual dos últimos 12 meses, de 12,2%. Essa alta reflete diretamente na alimentação do povo, que vê produtos essenciais como pão francês, café e carne subirem em até 95,6% em comparação a 2021. Em contrapartida, o salário mínimo não obteve reajuste acima da inflação, fazendo com que o poder de compra dos brasileiros caísse consideravelmente.

Os preços dos alimentos da cesta básica dispararam nos últimos cinco anos:

Fonte: Procon SP

Essa situação foi percebida na vida de Dona Helena, que relatou a dificuldade em comprar alimentos essenciais para passar o mês:

Depoimento de Dona Helena, nome fictício de nossa entrevistada, aposentada

Antes de encerrar o relato sobre nosso primeiro dia, precisamos contar algo sobre Dona Helena. Esse não é o seu nome verdadeiro.

Ela nos pediu para não revelá-lo pois tem medo de perder sua pequena remuneração do INSS, de aposentadoria por invalidez, já que permanece trabalhando para conseguir se sustentar. Mas ela só se deu conta desse risco quando estávamos indo embora e nos chamou pelo nome, depois que a entrevista já estava feita. Em respeito a ela, como nossa fonte, estamos usando um nome fictício.

30 de setembro de 2022: Dois dias para as eleições

O tempo já não estava tão aberto, mas o sol tentava se encaixar entre as nuvens. Assim estava o dia quando voltamos à Praça da Liberdade, na sexta-feira anterior ao domingo de primeiro turno das eleições. 

Enquanto ainda estávamos nos ambientando, vimos uma mulher idosa vindo de longe e se aproximando aos poucos. Era Dona Helena, inconfundível. Perguntamos se ela ainda se lembrava de nós, e ela nos disse, com um sorriso no rosto, “impossível esquecer”.

Foto de uma mulher idosa de costas com cabelos brancos, sentada no banco da praça.
Dona Helena, 72

Começamos a conversar tão naturalmente que o gravador foi deixado de lado por alguns instantes. Foi aí que nosso laço com aquela senhora de cabelos brancos se fortificou. Quando vimos que o assunto seria interessante para nossa reportagem, pedimos a autorização e Dona Helena disse que estava tudo bem gravar o nosso bate-papo.

Com a voz de quem engole o choro há tempos, ela desabafou sobre a quantidade de contas que tinha para pagar – como condomínio, gás, água, luz, alimentação e remédios -, mas o dinheiro que recebe pela aposentadoria (R$700,00) não consegue suprir as necessidades básicas.

Dona Helena recebe menos que um salário mínimo porque há dois anos, no início da pandemia do covid-19, fez um empréstimo de R$80 mil em um banco para cuidar do esposo que estava acamado. Em um curto período de tempo, ele sofreu cinco AVC e acabou falecendo, mas enquanto ainda estava vivo, precisava de todo tipo de cuidado. Agora, o INSS desconta automaticamente mais de R$450 ao mês de Dona Helena, que luta para sobreviver.

Por isso, de segunda a sábado, a viúva enfrenta cerca de três horas de ônibus entre as idas e vindas de onde mora para a Praça da Liberdade. 

Quando era na época do Lula, ele ajudou muitas pessoas. (…) entrava no supermercado, podia comprar tudo que queria, que tinha vontade, e ainda saia com dinheiro. Hoje entra com R$300 no supermercado e sai com umas cinco sacolas, porque os trem subiu demais, e o salário continua desse tamanhozinho”

Dona Helena

Quase como uma paráfrase de Carolina Maria de Jesus, no livro “Quarto de Despejo – Diário de uma favelada”, Dona Helena volta a falar sobre a importância de se ter um presidente que tenha “sentido na pele o que é pobreza, o que é passar dificuldade”.

Dessa vez, diferente da primeira, quando se mostrou mais resistente – e até menos esperançosa – à política, nossa entrevistada diz que encontra em Lula essa característica, mas não em Bolsonaro. Segundo Helena, para o atual presidente, a vida das pessoas pobres “não faz diferença alguma”, porque ele não passou pelas dificuldades da miséria.

Ainda tocados pelos relatos de Dona Helena, decidimos procurar por Maicon, o artista de rua que falou sobre o “reinado de Lula”; mas não o encontramos. No lugar dele, era Luan Almeida quem vendia artesanatos. Com uma simpatia que lembrava a do baiano, Luan disse que não costumava votar e que nessa eleição não seria diferente, mas relembrou alguns programas de governo que foram relevantes para seu ponto de vista político:

Nunca votei, mas achei o governo Lula uma parada interessante. O programa Fome Zero beneficiou bastante gente, e o Minha Casa Minha Vida também. Minha mãe inclusive foi uma beneficiada”.

Luan Almeida

Os programas sociais a que Luan se refere foram implementados durante o governo Lula e ajudaram as pessoas mais pobres a terem uma vida mais digna. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, de 2009 a 2018, o Orçamento Geral da União investiu R$110 bilhões de reais no Minha Casa Minha Vida, entregando mais de 4 milhões de unidades habitacionais. O Fome Zero, por sua vez, teve seu pico de investimento em 2012, com R$586 milhões do orçamento federal. Entretanto, o programa vem sofrendo, desde 2016, um desmonte; até maio deste ano foram investidos apenas R$89 mil. 

Pelas ruas da praça, faltando pouco para o primeiro turno das eleições, ecoava ainda o antipetismo, marcante nos últimos anos.

O engenheiro Edison, cujo sobrenome não foi coletado, confidenciou que não gostava de nenhuma das opções para presidência e que a chegada de Jair Bolsonaro ao poder está relacionada às falhas que ocorreram durante os governos do PT. 

Houve a roubalheira toda. Se o PT soubesse administrar bem sem muita falcatrua, era um partido que não saia mais daqui mas, infelizmente, trocou os pés pelas mãos. E a esperança veio em quem? Bolsonaro. E a família dele tá afundando ele”.

Edison, engenheiro

28 de outubro de 2022: dois dias para o 2º turno

Quase um mês após nossa primeira incursão na Praça da Liberdade e dois dias antes do segundo, retornamos ao mesmo local de sempre. O sol estava forte e o céu, limpo. Em meio ao calor, um outro tipo de energia quente também pairava no ar. A pesquisa Datafolha mais recente demonstrava uma vantagem apertada para o ex-presidente Lula. Os votos válidos apontavam 52% para o petista, contra 48% para Bolsonaro, com empate técnico na margem de erro. Nesse cenário, todos temiam pelo futuro do Brasil, independente do candidato que apoiassem.

Logo de cara, encontramos Dona Helena que, como de costume e sem se dar ao luxo de pular nenhum dia, carregava sua bandeja de balas. Sentamos em um dos banquinhos da praça e voltamos a conversar com ela. Diferente dos encontros antes do 1º turno, dessa vez, Dona Helena nos contou que pretendia votar. Para a aposentada, que ganha R$700 mensais do INSS, os boatos sobre o salário mínimo foram determinantes para a sua decisão:

Eles tão falando que o Bolsonaro vai diminuir o salário mínimo em 20%. O que sobra para eu comer, o que vai sobrar para mim? Nada né.

Dona Helena

Os boatos mencionados por Dona Helena surgiram após a exposição do plano orçamentário de Paulo Guedes, ministro da economia de Bolsonaro. O jornal Folha de S.Paulo divulgou a proposta que pretendia calcular o salário mínimo a partir da “expectativa de inflação e é corrigido, no mínimo, pela meta de inflação”. Em outras palavras, a correção do piso seria desvinculada da inflação, sendo reajustado a partir de sua projeção.

Na prática, o salário mínimo não seria de fato diminuído, mas, ao separar o seu aumento da inflação, o piso poderia perder valor de compra no mercado brasileiro. Durante o mandato do governo Bolsonaro o salário mínimo teve aumento real apenas em 2019.

Na visão do economista Cândido Fernandes, mestre em Economia e doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia, a primeira medida a ser tomada para que pessoas como Dona Helena recuperem o poder de compra é o aumento real do salário mínimo. Ele  também destaca que uma política de controle de preços seria uma armadilha: 

O controle de preços não é eficaz. Nós tivemos no Brasil experiências de controle de preços durante muito tempo, e mesmo com o advento do plano real, não foi suficiente para conter a inflação.

Cândido Fernandes, economista

Alteração valor real do salário mínimo de acordo com as datas de início e término de mandato de cada presidente:

Valor atualizado a preços de Setembro/2022 (INPC). A data de fechamento do governo Bolsonaro não marca o fim do seu governo, mas a data em que os dados haviam sido coletados pela última vez.

Diferença (%) da alteração do valor real do salário mínimo de acordo com os reajustes.

Fonte: IPEA (www.ipeadata.gov.br). Série "salário mínimo real".

Enquanto conversávamos com Dona Helena, um senhor sentado no mesmo banco também prestava atenção no assunto. Com uma pauta polêmica, tememos que ele, que estava de cara fechada, pudesse surgir com alguma contestação ou crítica ao que a idosa falava. Mas, para a nossa surpresa, quando a vendedora de balas comentou sobre a diminuição do salário mínimo, ele reforçou: “e vai diminuir mesmo!“.

Assim que finalizamos a entrevista com Dona Helena, decidimos ouvir o que esse senhor tinha para falar. Ricardo Lage tem 67 anos e é professor aposentado de história. Ele, que já deu aula no curso de pré-vestibular Método e na FAFI BH (atual UniBH)  nos concedeu a entrevista mais divertida que fizemos. 

Foto de um senhor idoso sentado em um banco da praça, ele usa um óculos escuro colorido e um boné enquanto sorri olhando para o horizonte
Ricardo Lage, 67, professor de história aposentado

O professor era descolado, estiloso e bem-humorado. Durante nossa conversa, ele demonstrou seu conhecimento e nos deu uma verdadeira aula. Além disso, Ricardo também falou sobre já ter votado em FHC no passado, demonstrou-se esperançoso com a eleição de Lula e falou sobre seu desinteresse em relação à seleção brasileira, devido à ligação simbólica com Bolsonaro.

Depoimento de Ricardo Lage, 67, aposentado

Para encerrar o dia, ainda faltava conversar com eleitores do candidato Bolsonaro, mas encontrá-los foi a missão mais fácil. Observando as pessoas na praça, vimos um casal com uma criança de colo, tirando fotos com a bandeira do Brasil, e com adesivos do presidente espalhados pelo corpo.

Santiago e Bárbara são empresários de 30 e 31 anos, respectivamente, que não escondem sua ideologia política em público. Durante a conversa, o casal bolsonarista demonstrou que não estava tão confiante na vitória do candidato. Eles disseram ter convicção de que a maioria do eleitorado gostaria de ver o atual presidente reeleito, já que não confiam em pesquisas como Datafolha, que mostrava a vitória de Lula – ou, no máximo, o empate técnico. Além disso, Bárbara também afirmou que o sistema seria parcial e insinuou que o TSE teria manipulado as eleições para eleger Lula. 

Foto de um casal composto por um homem pardo e uma mulher branca estendendo uma bandeira do Brasil na praça
Casal de bolsonaristas na Praça da Liberdade

Santiago e Bárbara pareciam viver em uma realidade distante de Dona Helena. Ao serem questionados por onde se informam, afirmaram que sua principais fontes eram tiradas da internet e insistiram que as notícias da televisão não são confiáveis: “A Globo é uma emissora totalmente parcial. Fica claro, fica vergonhoso para a Globo nos debates. Ela dá flores ao Lula e, para os outros candidatos, não, dá pedrada”. 

O pensamento do casal é exemplo da maneira como bolsonaristas buscam informação. Segundo pesquisa realizada pelo Ipespe em outubro de 2022, 13% dos direitistas entrevistados dizem se informar por meio de mensagens, com aplicativos como WhatsApp e Telegram. O número representa mais que o dobro, se comparado ao segundo colocado da pesquisa. Entre os que preferem a direita, a Jovem Pan é um dos canais de informação mais citados.

Confira o depoimento do casal durante a conversa: 

Santiago e Bárbara, empresários

Antes da adoção das urnas eletrônicas nos anos 1990, as fraudes eleitorais eram frequentes e ocorriam das mais diversas formas. O sistema eleitoral brasileiro é admirado por diversos países do mundo por sua rapidez e confiabilidade e inclusive já é replicado no Canadá, na Índia e na França. Através dos boletins de urnas e das auditorias da Justiça Eleitoral, a confiabilidade das urnas se faz garantida.

31 de outubro de 2022: um dia após o 2º turno

Foto da praça da liberdade após um período de chuva, o chão está molhado e com flores amarelas espalhadas pela superfície
Praça da Liberdade, dia 31 de outubro de 2022

Um dia após o resultado das eleições, em uma segunda-feira com céu nublado e tempo chuvoso, fizemos nossa última visita à Praça da Liberdade.

Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 60.345.999 votos e foi eleito presidente do Brasil na disputa mais apertada da história, com 50,90% dos votos válidos, contra 49,10% de Jair Messias Bolsonaro.

Para muitos, a chuva representou um dia de tristeza, de luto, um “choro de Deus”. Porém, depois de quatro anos de governo Bolsonaro, alguns receberam a chuva como um banho para “lavar a alma”.

Quando a chuva deu uma trégua, iniciamos a nossa procura por depoimentos. Como era de se esperar, a praça estava bem mais vazia que o normal. Avistamos um homem sentado em um dos banquinhos e fomos até ele.

Arthur Arock, de 32 anos, é um professor de inglês barbudo que usava uma camisa vermelha do clássico anime Dragon Ball. O professor gostava de falar e tinha um tom reflexivo e pessimista, afirmando que estava mais aliviado do que satisfeito com o resultado das eleições.

Foto de um homem barbudo, usando óculos. Ele está cruzando as pernas enquanto senta no banco da praça e sorri timidamente
Arthur Arock, 32, professor de inglês

Eu fiquei aliviado porque o 1º turno foi um indicativo muito negativo da situação do país. A gente teve um governador terrível eleito em 1º turno, a gente teve um senador famoso pelo discurso de ódio eleito.

Arthur Arock

Arthur se referia ao atual governador de Mina Gerais, Romeu Zema (NOVO), que, com 56,18% dos votos, venceu as eleições no 1º turno, e ao bolsonarista Cleitinho (PSC), que com 41,52% dos votos válidos, conquistou uma cadeira no Senado Federal. 

O professor entende que, apesar da vitória de Lula, a extrema-direita venceu as eleições no legislativo. O PL, partido do atual presidente, se tornou a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 76 cadeiras. No Senado Federal, o partido de Bolsonaro também é o mais dominante, com 13 senadores. Arthur reconhece que o governo petista foi e deve ser melhor que o atual, porém, devido ao novo desenho do legislativo, ele afirma que “dias sombrios ainda estão por vir”.

Durante a entrevista, um dos muitos vendedores de bala nos abordaram. Quando finalizamos, procuramos o vendedor, compramos umas balas e conversamos um pouco. Vitor, de 21 anos, não nos informou seu sobrenome, mas nos confidenciou já ter sido traficante. O jovem disse que saiu do mundo das drogas e que tenta ganhar a vida na honestidade, vendendo balas. 

Foto em preto e branco de um jovem negro que segura uma caixa de balas
Vitor, 21, vendedor de balas

Para nossa surpresa, Vitor afirmou que se identificava mais com Bolsonaro. O jovem disse ter assistido aos debates e ressaltou que gostou mais das ideias de Bolsonaro, principalmente em relação aos discursos de combate a violência e às drogas. 

Vitor, vendedor de bala, dá depoimento em áudio à reportagem

No Brasil de Bolsonaro, a facilitação ao acesso às armas de fogo, propiciada pelas políticas do governo refletiu em um aumento da violência. Segundo dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, o país teve um aumento de 24% no número de homicídios por arma de fogo em 2021.

Nas áreas dominadas pelo agronegócio e reservas indígenas, os casos de violência são assustadoramente maiores, mas uma das marcas do atual governo, foi a imprecisão de dados e a negação à ciência, fazendo com que os números não pudessem ser quantificados.

O Brasil concentra 2,7% dos habitantes do mundo e mais de 20% dos assassinatos. A violência política e contra a imprensa foram marcas registradas nos últimos cinco anos. Na noite de ontem, 30 de outubro, foram registrados 36 casos de violência política, sendo ao menos dez, com uso de armas de fogo. 

Após conversar com um eleitor pessimista de Lula e um apoiador de Bolsonaro, sentíamos que ainda precisávamos encontrar alguém que estava realmente feliz e esperançoso com a vitória do petista. 

Andando pela praça, vimos um senhor que estava caminhando com a camisa da seleção brasileira, mas não era um bolsonarista. Nas costas, a numeração do uniforme indicava “13”, com o nome de Lula logo acima. Na parte da frente, havia um grande desenho do rosto do ex-presidente. Então decidimos abordá-lo para uma entrevista.

Foto de um homem sorridente de cabelos brancos vestido com uma camisa verde e amarela com o rosto de Lula estampado.
Mario Eduardo, 67

No início de nossa conversa, nos surpreendemos quando ouvimos um sotaque diferente. Mario Eduardo, 67 anos, é um argentino aposentado, casado com uma nordestina, e mora no Brasil há 15 anos. Ele destacou que ficou satisfeito com a vitória de seu candidato, mas teve um sentimento especial por ser uma conquista em um ato democrático. Ainda, Mário ressaltou que, quando chegou ao Brasil, viu de perto as mudanças feitas por Lula, principalmente no combate à miséria.

Depoimento em áudio do aposentado argentino Mario Eduardo

2 de novembro de 2022

Depois de não termos visto Dona Helena na segunda-feira, após a vitória de Lula, ficamos com a sensação de que tinha algo faltando na reportagem. Por isso, dois dias depois, decidimos ligar para ela, que prontamente nos atendeu.

– E o que você tá fazendo agora?

– Agora? Tô aqui deitada, debaixo da coberta, assistindo televisão.

Pela primeira vez, desde que estabelecemos contato, encontramos Dona Helena em um estado de menos tensão, de acordo com ela, “vendo a chuva cair”. Ela nos disse que havia ido votar no domingo e, então, perguntamos se ela havia acompanhado o resultado das eleições. 

Nossa, fiquei feliz demais. Eu sempre torci pro Lula. Todas as vezes que ele se candidatou, eu voteinele. No Bolsonaro eu não votei não. O Lula gosta do pobre, vai tirar o pessoal da rua.

Dona Helena, aposentada

Leia também: “A Copa para poucos: ingressos que valem quase um ano de trabalho

Reportagem produzida por Gabriel Perdigão, Laura Peixoto, Mateus Leite e Pedro Viglioni para o Laboratório de Jornalismo Digital no semestre 2022/2, do curso de Jornalismo da PUC Minas - campus Coração Eucarístico, sob a supervisão das professoras Verônica Soares e Maiara Orlandini.

Colab PUC Minas

Colab é o Laboratório de Comunicação Digital da FCA / PUC Minas. Os textos publicados neste perfil são de autoria coletiva ou de convidados externos.

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