Após um mês desde a data de seu lançamento, o Ministério da Saúde decide prorrogar até o dia 30 de setembro a Campanha Nacional de Vacinação, voltada à poliomielite e multivacinação, que terminaria nesta sexta-feira (9). Segundo o órgão, a ampliação do prazo visa aumentar a adesão à vacinação, que até o momento imunizou somente 35% das crianças de 1 a 5 anos incompletos contra a poliomielite. As taxas de vacinação infantil caem no Brasil desde 2016, reduzindo ainda mais após o início da pandemia, o que preocupa especialistas.
Ainda de acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2019 para 2020, ano em que a pandemia de covid-19 foi decretada pela Organização Mundial da Saúde, a porcentagem de crianças vacinadas contra a poliomielite diminuiu de 84% para 76% do público-alvo.
Além disso, a vacinação da BCG, que protege contra a tuberculose, também caiu, alcançando 86% do público em 2019, e apenas 74% em 2020.
Durante o lançamento da campanha, no último dia 8 de agosto, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga lembrou que o último caso de poliomielite no país foi registrado há 33 anos, em 1989. Queiroga ressaltou que a queda da cobertura vacinal veio, principalmente, durante a pandemia.
Covid-19 e vacinação infantil
O primeiro caso de covid-19 no público infantil foi registrado ainda em 2020, segundo o Instituto Butantan. Ainda de acordo com o instituto, foram registradas quase 1.500 mortes pelo vírus entre crianças, de 0 a 12 anos incompletos.
A vacinação contra o vírus no Brasil começou em janeiro de 2021, porém, para as crianças de 5 a 11 anos, a primeira dose foi liberada somente um ano depois. A primeira criança vacinada no Brasil foi o indígena Davi Seremramiwe, de 8 anos, em 14 de janeiro deste ano no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Crédito: HC On Line Usp
Somados oito meses do início da vacinação, mais de 14 milhões de crianças entre 5 e 11 anos receberam a primeira dose da vacina e cerca de 9 milhões receberam a segunda dose.
O pediatra e epidemiologista José Geraldo Leite Ribeiro explica que desde 2016 é registrada queda na cobertura vacinal, principalmente entre crianças e adolescentes. Com a pandemia, isso se intensificou.
O epidemiologista ressalta que doenças como o sarampo estão retornando em decorrência da queda da cobertura. “O Brasil chegou a ter um certificado de eliminação do sarampo, mas foi perdido. Além disso, a Organização Panamericana de Saúde incluiu o Brasil entre os países com grande risco de retorno da poliomielite.’’
Para Myriam Bahia Lopes, doutora em história e professora da UFMG, a sociedade nega a vacina mesmo tendo em vista séculos de experimentos e comprovação de que ela pode evitar até a morte. “A [campanha] antivacina atual é uma autonegação, uma forma de negar a realidade, não há semelhança entre o público de hoje e o do final do século XVIII. O movimento antivacina atual é individualista, os pais que não querem vacinar os filhos acham que estão fora da sociedade e tomam decisões individuais.”
A historiadora ainda ressalta que a propaganda de vacinação do Brasil é eficiente e conhecida mundialmente, tornando-se essencial para a adesão do público. Em contrapartida, Myriam lembra que o país fez escolhas de investimentos e informações errôneas, como a compra de cloroquina para combater o Covid-19. “ As fronteiras do Brasil poderiam ter sido fechadas, por exemplo, ao saber que o vírus estava vindo de outros países.”
A atendente de telemarketing Thamiris Marcate, 29 anos, conta que vacinou seu filho, Gabriel, 7 anos, com as duas doses da CoronaVac. “As crianças não têm consciência dos meios necessários para prevenção do vírus, dificilmente são disciplinados para usar a máscara e lavar as mãos a todo momento, a vacinação é importante para eles.”
Thamiris ainda diz que o filho contraiu o vírus duas vezes, mas passou por ele de maneira tranquila, sem sequelas. “ Foi notável a neutralização dos sintomas mais graves, ele estando vacinado eu fico um pouco mais tranquila.”
Já a autônoma Sarah Miranda, 31 anos, optou por não vacinar a filha Sofia, de 9 anos. O motivo principal seria a desconfiança da eficácia da vacina. “Optei por não vacinar minha filha por conta do curto prazo de desenvolvimento e teste, que, na minha opinião, precisaria de anos. Vi na vacina da covid uma corrida da indústria farmacêutica contra o tempo.”
Além disso, Sarah diz que pensa em vacinar a filha contra o vírus futuramente, quando houver mais testes de comprovação da eficácia, e afirma que as demais vacinas da menina estão em dia.
O pediatra José Geraldo ressalta que a OMS considera a vacinação a medida preventiva mais eficaz e importante no controle de doenças infecciosas para o indivíduo e a sociedade. Segundo ele, as fakes news e as declarações de algumas autoridades federais também foram responsáveis por criar nas mães uma desconfiança em relação à proteção e segurança das vacinas, começando o movimento contrário à vacinação da Covid-19 e se estendendo para os demais imunizantes.
“Hoje, muitas mães, em vez de seguirem o pediatra ou outro profissional da saúde, se informam por redes sociais com colocações negativas de pessoas despreparadas para entender a imunização”, complementa José Geraldo.
Fake News
Em fevereiro deste ano houve circulação de fake news sobre uma menina que teria falecido após tomar a vacina contra a covid-19. No caso, circulava um vídeo nas redes sociais com imagem de uma criança sendo vacinada seguida de legenda informando que ela havia falecido, em decorrência de encefalite, que seria efeito da vacinação, em Maceió, no estado de Alagoas, três dias após a aplicação da dose. A agência de checagem Lupa desmentiu esse caso, atestando que a garota contraiu a doença antes de tomar a vacina e apresentou complicações.
Vacinação em Minas Gerais
Em Minas Gerais, mais de um milhão de crianças foram vacinadas com a primeira dose contra covid-19 no primeiro semestre de 2022. Já com as duas doses, são cerca de 840 mil, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). O órgão informa que a cobertura vacinal está em 70,26% e 44,91%, respectivamente.
A queda no número de vacinação contra a poliomielite também é alarmante no estado. Segundo dados da SES-MG, em 2017, 80% das crianças com um 1 ano de idade estavam vacinadas contra a doença, já em 2021 a porcentagem caiu para 67%.
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a cobertura vacinal está em 38,4% do público-alvo, estimado em 104 mil crianças.
Reportagem produzida por Bianka Reinhardt e Isabella Alvim.
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