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Parte 1: O sonho

Como a geração Z enfrenta o desafio de ter a casa “própria”, alugada ou não?

Para muitos brasileiros, o sonho de ter a casa própria é quase universal, mas, entre a geração Z, ele ganha contornos e desafios únicos. Com a ascensão de novas tecnologias e modelos de trabalho, o que significa realmente ter um lar para essa geração? 

De acordo com o Censo de Moradia realizado pelo QuintoAndar em parceria com o Instituto Datafolha, 87% dos brasileiros ainda sonham em ter um imóvel próprio. Entre jovens de 21 a 24 anos, o desejo é ainda mais forte, atingindo 91%.  

É como se a ideia de “pertencer a um lugar” estivesse no imaginário coletivo, algo que vai além de estabilidade financeira ou até de constituição familiar. Ter um espaço próprio, uma “base” em meio a um cenário de mudanças rápidas, parece ser um ponto de ancoragem para esses jovens. Por outro lado, realizar esse desejo não é tarefa fácil.  

A geração Z, ou Gen Z, é composta por jovens nascidos entre 1997 e 2012. Eles são os primeiros a crescer completamente imersos na internet e na tecnologia digital, tendo vivido desde cedo com smartphones, redes sociais online e acesso fácil à informação. Esses jovens adultos são adaptáveis, informados e estão moldando o futuro das relações, do consumo e do trabalho com suas preferências e valores e com o mercado imobiliário não seria diferente. 

Dentro deste contexto, os indivíduos dessa geração possuem o foco em várias áreas de consumo, realizando atividades diversas ao mesmo tempo, sendo uma geração influenciadora e influenciada por tendências atuais, o que pode contrastar com a geração de seus pais e avós, levando a geração Z em uma busca constante pela independência. Em um mundo de mudanças rápidas, o lar pode ser um ponto de segurança e conforto, mas também representa um compromisso o que leva a um conflito entre a decisão de sair de casa, de buscar um espaço próprio, envolve mais do que um desejo de independência, é uma decisão que combina desejo, realidade econômica e expectativa para o futuro. 

Segundo dados de 2024, 37% dos jovens entre 21 e 26 anos querem adquirir seu próprio imóvel. Mas este desejo vem acompanhado de exigências diferentes, como sustentabilidade, tecnologia e conforto. 

Esses jovens não querem simplesmente uma casa; eles buscam um espaço que reflita seu estilo de vida — seja um pequeno apartamento bem localizado, com áreas comuns que permitam uma socialização rápida e um espaço de home office bem estruturado, seja uma unidade compacta e bem equipada. As construtoras e incorporadoras já estão adaptando seus projetos para atender a essas preferências, oferecendo desde soluções sustentáveis, como energia solar e espaços coletivos. 

“Os jovens têm buscado imóveis de tamanho menor, dois quartos, com ou sem suíte, uma vaga de garagem, prédio sem elevador e sem lazer”, afirma Tânia Viegas, consultora imobiliária há 20 anos. Já Hugo Dias vê outro perfil, disposto a comprar um imóvel desde que esteja conectado digitalmente ou fisicamente do que é importante: “A geração Z não é homogênea, valoriza condomínios que oferecem um lazer completo, como espaço para home office e áreas comuns conectadas, com acesso à internet. Buscam a comodidade de ter tudo próximo, em um clique ou pequenas distâncias, além de ser essencial o acesso ao transporte público, comércio e serviços”. 

Mesmo com as diferenças socioeconômicas como falta de preparo para o mercado de trabalho, salários incompatíveis com a realidade atual, empregos informais, instabilidade financeira uma coisa é comum para todo o grupo: a falta de conhecimento sobre o mercado imobiliário, a falta de planejamento financeiro, o consumismo em excesso e o midiatismo em  Hugo Dias confirma que, para além do papel de consultor, os vendedores precisam passar informações simples de compra e venda, “uma consultoria imobiliária e financeira, resolvendo as partes burocráticas e documentais, com soluções nas aprovações de crédito”.  

Influenciadores do Mercado Imobiliário: Construindo Conexões e Gerando Negócios

No Tiktok, existem vários criadores de conteúdo que já conversam com esse público sobre a busca pelo primeiro imóvel. Um deles é o influenciador Breno Nogueira, que fala sobre organização financeira de um jeito simples, na cozinha da sua casa.  influenciadores digitais impactam diretamente a geração Z na decisão de consumo em diferentes mercados, sendo um deles o mercado imobiliário, isto acontece porque é uma geração que  prioriza o meio digital. 

De acordo com a monografia de Matheus Oliveira, as mídias digitais surgem em um contexto cuja transformação e transição social são consideradas as palavras-chave”. O marketing de conteúdo vem crescendo e se tornando um grande aliado das marcas e influenciadores nesse novo sistema. Ele vem sendo responsável em instruir o consumidor quanto às informações mais relevantes e alavancar o desejo de compras. Este conteúdo faz toda diferença para que o consumidor veja na prática a utilidade do produto e fortaleça os laços com a marca e o formador de opinião. É fundamental que as marcas e influenciadores façam bom uso das plataformas digitais, e criem conteúdo em algo concreto e duradouro, que passe confiança para o indivíduo realizar sua primeira compra, fidelizar como cliente e também compartilhar  experiências  positivas com o ciclo social em que transita. No universo da internet os conteúdos de certa forma se tornam atemporais e acessíveis a todo momento. Isto faz com que seja possível  no futuro, o mesmo consumidor e os novos também utilizarem os conteúdos criados anteriormente.

Criando raízes

Apesar da vontade de sair de casa, muitos jovens ainda vivem com os pais ou optam por alugueis, sem entender os pormenores do mercado imobiliário ou dos financiamentos. Mesmo com o grande desejo, questões financeiras acabam sendo barreiras que freiam esses planos. O sonho de ter um lar passa a envolver um jogo complexo entre “posse” e “praticidade”, onde o valor de ter uma casa própria é confrontado com a possibilidade de flexibilidade de morar perto do trabalho, de estar em cidades diferentes, ou até mesmo de viver como um nômade digital.  Pensando no público da geração Z, que viveu o início da vida adulta durante a pandemia, firmar esse compromisso pode ser assustador. Em entrevista para a Agência Brasil,  a psicóloga Mariana Azevedo, especialista em saúde mental e dependência química, observou um aumento significativo na demanda por atendimentos de jovens. “A pandemia de COVID-19 resultou em um aumento considerável nos casos de jovens com transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Além disso, a falta de interação social, o isolamento e a insegurança em relação ao futuro estão entre os principais fatores que agravam esse cenário”, afirma a psicóloga.

Além disso, é bem recente essa paralisação global que o mundo teve que passar e faz um ano que o país pode ser considerado recuperado economicamente pós-pandemia, tendo tido a 21ª recuperação mais rápida em uma lista de 40 países, segundo levantamento feito pela agência Austin Rating a pedido da CNN. “Tem uma intenção muito grande por parte dos jovens para comprar um imóvel, mas a questão financeira surge como um impedimento”, afirma Tania Viegas. Então, seria mesmo o momento de fincar a bandeira e começar a vida do zero?  

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Fonte: @memestwitter

Os jovens adultos poderiam ser resumidos no clássico meme “como eu vim parar aqui, eu só tenho 6 anos”. Em entrevista ao podcast “Revista responde: como criar seus filhos”, da rádio CBN, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé afirmou que as novas gerações, de nativos digitais, têm uma falta de “musculatura emocional” desses jovens para enfrentar relacionamentos e responsabilidades financeiras, problemas comuns na vida adulta. De acordo com dados do Ibope, até 2012, um em cada cinco jovens entre 24 e 34 anos permanecia morando com os pais. Em 2022, esse número subiu. 

Enquanto a saída de casa fica apenas no plano das ideias, você pode descobrir se está mesmo preparado nesse game:

Não somos capazes de afirmar que toda uma geração está passando por esse processo de infantilização e sabemos que é difícil emocionalmente tomar uma decisão tão importante como sair da casa dos pais, ainda mais se considerarmos outros fatores na tomada de decisão, como a base financeira e o nível de escolaridade desse jovem. Entretanto, nos casos em que a família é suficientemente estruturada financeiramente e o jovem tem um trabalho, por que não realizou este sonho ainda?  

Reportagem produzida por Helena Antunes e Rosana Ramos na disciplina Laboratório de Jornalismo Digital no semestre 2024/2 no curso de Jornalismo do Campus São Gabriel da PUC Minas, sob a supervisão da prof. Verônica Soares da Costa. 

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