Ao surgir em 2004 a partir da escritora de moda Angela Murrells, inspirado no slow food, o slow fashion é uma contrapartida ao fast fashion. Tratando-se de produção em escala industrial no ramo têxtil, o modelo fast fashion é o que prevalece no polo da moda até os dias de hoje. Ele se baseia na oferta constante de produtos de baixa qualidade, tendências de rápida mutação incentivadas pelo capitalismo e preços menores que fomentam um consumismo impulsivo.
Por outro lado, o slow fashion procura valorizar todo o processo produtivo, desde a matéria prima até a comercialização, ou seja, qualidade acima de quantidade.
De acordo com a World Wildlife Fund (WFF), BBC, BMC Journal e Ellen MacArthur Foundation, no mundo todo para a produção de peças de poliéster e fibra sintética, utiliza-se cerca de 70 milhões de barris de petróleo por ano. Um produto de poliéster quando descartado vira lixo que leva no mínimo 400 anos para se decompor. Esse dado, associado com o rápido descarte da sociedade capitalista fez com que a moda se tornasse um dos negócios mais poluentes do planeta. A Agência Francesa para o Meio Ambiente e Gestão de Energia (Ademe) afirma que a indústria da moda emite 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano. Todos esses dados fazem do slow fashion um movimento necessário.
O slow fashion e sua relação com a moda sustentável
O Slow fashion tem algumas características com o objetivo de diferenciá-lo de outros movimentos no mundo da moda, são eles:
- A valorização dos recursos locais: Tudo que está disponível localmente é utilizado da melhor forma possível;
- Sistema de produção transparente e com menos intermediações com o consumidor: O produtor se aproxima de quem consome os seus produtos;
- Produtos sustentáveis: Essenciais para não agredir o meio ambiente durante a fabricação das peças
Por ser um item fundamental para a sobrevivência e por fazer parte da construção da nossa sociedade, a moda, além de ser sustentável, deve ser inclusiva, sendo de fácil alcance e fazendo parte de uma rede de consumo consciente e colaborativo.
O termo eco friendly, que significa “amigável ao meio ambiente”, tem se tornado mais frequente e presente entre as marcas brasileiras. Como por exemplo, a PódeSim (@podesim_modasustentavel), especializada em moda sustentável, a marca carrega essa responsabilidade e acredita na mudança a partir da conscientização, que gera um efeito em cadeia de melhoramento contínuo. Ainda, afirmam que questionar o próprio consumo é uma forma de tornar a moda sustentável mais acessível.
De acordo com Grazy Mendes, diretora criativa da marca, para uma vida menos agressiva ao meio ambiente, o ponto inicial é fazer uma autoanálise e aprender sobre os problemas decorrentes do consumo, e tornar esse questionamento o ponto inicial para incluir o movimento eco friendly no dia a dia.
Para nós da PódeSim, tudo começa a partir da consciência, que é despertada através da educação. Se você não sabe os problemas que os seus hábitos causam, é bem difícil se movimentar para começar a fazer algo. Depois de feita essa auto análise, é necessário começar a fazer substituições possíveis dentro da sua realidade, e com o que você tem na mão ir evoluindo com o tempo.
Grazy Mendes
Ainda, a marca acredita que um ponto importante para um mundo mais sustentável é fazer com que alguns aspectos sejam desmistificados. “Para se tornar algo interessante é preciso que alguns mitos caiam por terra, por exemplo: ‘sustentabilidade é difícil, sustentabilidade é caro, sustentabilidade é ilusão’”, conclui Grazy Mendes.
Como ocorrido com a PódeSim, as redes sociais têm exercido um papel muito importante para expansão e divulgação de brechós, que são hoje em dia, considerados uma alternativa acessível para todos os estilos, em diversos tamanhos e com preços que cabem no bolso. No Brasil, segundo o Sebrae, o número de brechós cresceu 210% entre 2010 e 2015 e dados da pesquisa ThredUp 2018 Resale Report apontam que, em 2018, o mercado de produtos de segunda mão cresceu 47% em relação ao ano anterior, enquanto as vendas no varejo cresceram somente 2% no mesmo período.
Os impactos da moda no meio ambiente
Funcionando como uma rede fomentadora e muitas vezes ditadora de estilos e tendências, os impactos exercidos pelos negócios dessa indústria são extremamente relevantes e podem despertar um alto senso crítico sobre o quanto esse setor polui. No cenário contemporâneo, com maior acesso à informações proporcionadas pelo avanço da tecnologia, as pessoas ao redor do mundo estão tendo a oportunidade de refletir e conscientizarem-se a respeito da importância da adoção de medidas sustentáveis pelas grandes marcas.
De acordo com a Fundação Ellen McArthur, a produção de roupas aproximadamente dobrou nos últimos 15 anos e para que o processo de produção das mesmas seja tão acelerado, as empresas usam exageradamente os recursos naturais, principalmente degradando o solo e consumindo um altíssimo volume de água.
A Route Brasil é uma entidade destinada a traçar rotas de engajamento para resolver problemas sistêmicos de consumo, atuando à frente de ações para conscientização e transformação de pessoas, empresas e governos.
É importante lembrar que essas emissões não correspondem apenas ao processo direto de produção das mercadorias, mas também no transporte das mesmas, na criação de animais para extração de certos tecidos como lã e couro e também gastos energéticos. Outra grande preocupação é o descarte anual de microfibras sintéticas que, apesar de ser um tecido com extensa durabilidade, ao serem lavadas, liberam micropartículas na água e acabam chegando aos oceanos. Na água, essa substância vai se acumulando ao longo dos anos e em 2020 já atingiu 500 mil toneladas.
Apesar de todos esses problemas causados pelo uso excessivo de recursos ambientais, existem formas de investir em um modo produtivo sustentável e reduzir os impactos. É importante que o papel do consumidor atual seja sustentável e que ele tenha a consciência de procurar saber qual a procedência da peça que ele está usando. Essas informações são facilmente encontradas na internet ou nas etiquetas das roupas, onde contém informações importantes sobre a produção do material.
Slow fashion e minimalismo são sinônimos de acessibilidade?
Apesar de tentar mudar os gastos e impactos ao meio ambiente, a produção justa se torna cara e inacessível para algumas pessoas. O custo final para o cliente se torna dispendioso. Isso faz com que o consumidor ordinário não se interesse a comprar de marcas categorizadas como slow fashion e deixem de lado iniciativas que prezam pelo consumo consciente.
Em um mundo de excessos, a procura por práticas para tornar a rotina mais leve e o estilo de vida mais sustentável cresceram de forma avassaladora. Com isso, além do slow fashion, o minimalismo também cresce. Caracterizado por eliminar excessos e dar mais atenção ao que é importante, este estilo de vida preza por investir financeiramente em poucos produtos caros e duradouros, ao invés de muitos produtos baratos e descartáveis.
Em muitos casos, os movimentos minimalistas e slow fashion são reduzidos a alternativas para solucionar problemas ambientais, mas é importante considerar que, além disso, são reações contra crises de modelos capitalistas. Ter o privilégio em escolher viver com menos, coloca as pessoas adeptas aos movimentos em uma posição de privilégio. Assim, não seria o minimalismo e o slow fashion um conflito entre classes?
Em entrevista, a professora de inglês Jéssica Fioravante (@jessfioravante), que possui um perfil no Instagram e canal no Youtube onde compartilha conteúdos sobre minimalismo diz: “O minimalismo não é necessariamente sinônimo de economia. Acredito que seja mais o fato de você saber melhor onde e como gastar o dinheiro.“ Assim, a lógica é economizar em excessos e priorizar outras possibilidades de investimento como viagens, cursos etc, ou seja, uma alternativa para poucas pessoas. A produtora de conteúdo complementa: “O minimalismo representa o estilo de vida que levo. Tento sempre simplificar ao máximo tudo o que preciso fazer, no sentido de eliminar excessos e dar mais atenção ao que é importante.”
Na internet, constantemente o slow fashion e o minimalismo são apresentados como imposição de um padrão e/ou status financeiro inalcançável para muitas pessoas. É sobre pesquisar os conceitos em redes como Pinterest e perceber que nem todas as propostas apresentadas são todas sustentáveis, mas sim, um reflexo do que está na moda.
Em entrevista, a Personal Organizer Minimalista, Narja Lourenço de 41 anos, que compartilha nas redes sociais estudos sobre minimalismo e organização, relata:
“Na minha visão, como nós minimalistas optamos por comprar algo com uma qualidade melhor e, geralmente, o preço é maior, acaba sendo um dos motivos das pessoas acharem que é um movimento só para quem tem dinheiro, justamente porque temos condições financeiras de comprar coisas boas e caras. Mas isso é um equívoco, o estilo de vida minimalista não tem haver com quantidade ou dinheiro.”
Narja Lourenço
De acordo com a personal, sua motivação para criar um perfil foi com o intuito de compartilhar com outras pessoas a transformação ocorrida na sua vida.
Entenda mais sobre moda consciente:
Rerportagem desenvolvida pelas alunas Agnes Nobre, Clarice Pinheiro, Fernanda Dias e Maria Cecília Basílio, do 8° período de Jornalismo do campus Coração Eucarístico, para a disciplina Produção em Jornalismo Digital.