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Atleta de skate de boné preto exercendo manobra sobre um corrimão amarelo
Marina Veiga realizando manobra / Foto: Júlio Detefon

Skate amplia espaço após sucesso olímpico

Veja como o sucesso das Olímpiadas fez com que o skate se tornasse cada vez mais popular entre o público feminino.

O skate, categorizado como uma modalidade olímpica desde as Olimpíadas de Tóquio, em 2021, deixou de ser um esporte focado somente na realização de práticas radicais e equilíbrios sobre objetos para ser visto como uma forma de arte em movimento, que demanda destreza, fluidez e criatividade.

Em 2024, com os Jogos Olímpicos de Paris, o skate se tornou ainda mais popular e conquistou fãs de todas as idades e gêneros em todas as partes do mundo. Os brasileiros Augusto Akio e a fadinha Rayssa Leal conquistaram a medalha de bronze nas modalidades park e street, respectivamente. Nos Jogos de 2021, a impressão era de que o esporte teria vindo para ficar, e com as Olimpíadas de 2024, essa ideia se confirmou.

Esse impacto não apenas atraiu uma geração de jovens skatistas, como a medalhista Rayssa Leal, de 16 anos e Zheng Haohao, chinesa de 11 anos, (atleta mais jovem dos Jogos Olímpicos de Paris), mas também deu nova motivação para praticantes mais velhos do esporte, como o britânico Andy Macdonald, de 51 anos, e o sul-africano Dallas Oberholzer, de 49 anos de idade, que fizeram história ao participar da modalidade park na Olimpíadas de Paris, em 2024. Em entrevista à BandNews FM, Andy Macdonald destacou a importância de estar presente nos Jogos Olímpicos: “É um sentimento de empolgação, de alívio e, acima de tudo, de felicidade por fazer parte dos Jogos Olímpicos. Estar aqui é a experiência de uma vida” afirmou.

Lorena Fernanda, atleta de skate, exercendo manobra sobre pedras redondas embaixo do Viaduto Santa Tereza.
Lorena Fernanda exercendo manobra no Viaduto Santa Tereza / Foto: Heverton Ribeiro

Além disso, o sucesso das Olimpíadas também reforçou o skate como um movimento cultural que, desde os anos 1950, quando foi criado na Califórnia, EUA, se mantém em alta. Naquela época, surfistas instalavam rodas e eixos nas pranchas para simular o surfe nas calçadas, assim, a prática do surf podia ser realizada em dias em que não havia ondas nos mares da Califórnia.

Histórias do skate, histórias de mulheres

Luiza Erundina, política brasileira, em cima de um skate.
Luiza Erundina sobre skate, 1989 / Reprodução Twitter

O skate chegou a ser proibido no Brasil, em São Paulo, no ano de 1988, pelo então presidente Jânio Quadros, pois, na época, a sede da prefeitura funcionava no Parque Ibirapuera, e Jânio Quadros não queria que skatistas frequentassem o local de forma recorrente, o que gerou revolta e manifestação por parte dos skatistas. Durante as eleições de 1988, a candidata Luiza Erundina aproximou-se dos skatistas e prometeu revogar a proibição e a promessa foi cumprida em 1989, quando ela assumiu o cargo. Ou seja, foi uma mulher que fez com que o skate se tornasse uma prática legal no país.

Marina Veiga tem 31 anos e é natural de São José dos Pinhais, Paraná. Ela é skatista profissional da modalidade street, que consiste em tentar simular elementos da rua, como escadas e corrimãos, e se equilibrar sobre eles. Ela é árbitra e comunicadora de skateboarding,que consiste em narrar campeonatos ou ações de skate em transmissões ao vivo. Marina, inclusive, foi a primeira mulher a narrar um Campeonato Brasileiro de Skate e, atualmente, está narrando o Circuito Paranaense. Para ela, o skate é uma ferramenta de liberdade, serve como autoconhecimento, expressão e transformação do indivíduo e da sociedade. Ela destaca a importância e relevância da participação feminina no esporte:

“O skate feminino transcende determinação e pura essência, o que impulsiona e faz brilhar os olhos de quem lutou e trabalhou por anos, e de quem começa agora. As skatistas olímpicas, por exemplo, vêm mostrando as possibilidades de uma menina/mulher dentro do skate competitivo, trazendo a responsabilidade e a diversão lado a lado, e mostrando o quanto podemos ser técnicas, agressivas e femininas dentro do skate. Que essa ideia de que skate é ‘coisa de homem’ é pra lá de ultrapassada”.

Marina ainda diz que a luta de anos que as mulheres fizeram e ainda fazem, principalmente pela inclusão das categorias femininas nos campeonatos, as divisões por categorias e a igualdade nas premiações, é muito importante, pois somente com mais mulheres em posições de decisão, conseguiram chegar onde estão hoje.

Atleta de skate de boné preto, blusa preta e short azul, meia branca e skate vermelho realizando manobra sobre corrimão em uma competição de skate.
Marina Veiga executando manobra sobre corrimão / Foto: Júlio Detefon

O skate feminino passou a ser mais reconhecido a partir dos anos 2000, com a criação de competições e categorias exclusivamente femininas. Uma das maiores skatistas do Brasil é Karen Jonz. Pioneira no ramo, Karen ganhou diversos prêmios, nacionais e internacionais, e se tornou uma grande inspiração para skatistas não só no Brasil, mas em todo o mundo. Karen Jonz também é fundadora da Associação Brasileira do Skate Feminino, que tem como principal objetivo a integração feminina no esporte.

A skatista Marina Veiga também afirma que, após a entrada do skate como modalidade dos Jogos Olímpicos, muita coisa mudou, pois o skatista passou a ser reconhecido como um atleta: “O que era diversão e superação, passa a ser então o ‘alto rendimento’: momentos de treino, academia, fisioterapia adentraram nosso meio. Treino de skate não existia, era sessão com os amigos. Essas mudanças são as mais chocantes para mim até então, que vivi o skate dos anos 2000 e, agora, 24 anos depois.”

Cenário em BH

Lorena Fernanda tem 29 anos e anda de skate desde os 15, apresentando-se como skatista amadora. Mineira de Belo Horizonte, ela conta que ganhou o primeiro skate aos 9 anos de idade, porém, a paixão pelo esporte veio quando assistiu a um episódio de Malhação, novela teen da TV Globo, e viu uma personagem que andava de skate:

“A partir desse episódio, comecei a praticar e a paixão foi só aumentando. Com o passar do tempo, fui sentindo falta de meninas andando de skate, e, junto com algumas amigas, criamos um coletivo de skate feminino, chamado Minas No Skate”, conta. Durante alguns anos, e até hoje, mas sem tanta frequência, o grupo foi referência para que outras meninas começassem a andar de skate em BH.

Atleta Feminina de Skate realizando manobra em uma competição oficial do esporte. Ela está usando uma camiseta e calça jeans preta e meias rosas.
Lorena Fernanda realizando manobra em evento de skate / Foto: Heverton Ribeiro

Lorena destaca que o uso das mídias sociais ajuda muito a promover a prática do skate na cena local. Para ela, é um espaço que serve tanto para divulgar o rolê e o trabalho do skatista, quanto para a divulgação de campeonatos, de vídeos de skate, de imagens de patrocinadores”

Sobre os desafios enfrentados na prática do skate, não só em Belo Horizonte, mas em todo o Brasil, Lorena destaca o descaso do governo para com a prática observa que há problemas infraestruturais, como a falta de pistas públicas para a prática do skate, e também de manutenção em pistas já existentes. Ela lamenta também o pouco apoio da população que, mesmo nos dias de hoje, ainda apresenta atitudes preconceituosas e marginaliza quem anda de skate.

É válido mencionar que, mesmo com toda a desatenção do governo, ainda existem algumas práticas de incentivo deles ao skate, como o bolsa atleta, que patrocina individualmente atletas e paraatletas de alto rendimento em competições de sua modalidade e a Lei de Incentivo ao Esporte de Minas Gerais, que tem como objetivo fortalecer o esporte no Estado, através de um esforço conjunto entre o Governo de Minas, apoiadores e executores de projetos esportivos do estado. Além de apoio do governo com a realização de eventos e campeonatos que ocorreram/ocorrem em MG, como o Bh Skate Invasion, que contou com o patrocínio e amparo logístico do mesmo.

Lorena também relatou ao Colab certos eventos e competições de skate em Belo Horizonte e como eles contribuem para a cena local, além de indicar alguns lugares para a prática do esporte aqui em Belo Horizonte:

“Eventos que os próprios skatistas realizam para fomentar a cena local, como os Games e Best Tricks com premiações que ajudam o skatista.”
“Alguns lugares interessantes para andar de Skate em BH: Pista de Skate dentro do Parque Nossa Senhora da Piedade, o Mineirão, a Praça da Assembléia e a Pista de Skate Novazoo, no bairro Nova Floresta.”

Bernardo Alves

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