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Mulher jovem branca, vestindo casaco da seleção brasileira segura medalha de ouro na mão
Carol Moura com medalha de ouro / crédito: reprodução

Rumo ao ouro: saiba mais sobre a preparação para as Paralimpíadas 2024

Paratleta mineira revela os desafios e conquistas para chegar a Paris

Ana Carolina Silva Moura é, atualmente, a segunda colocada no ranking mundial de parataekwondo e está confirmada nas Olimpíadas de 2024 em Paris. A modalidade é a versão adaptada do taekwondo para atletas com deficiência nos membros superiores. Em uma segunda-feira de manhã, com clima ameno de Belo Horizonte, a reportagem acompanhou a rotina de treino da paratleta, que já está com as malas prontas para a cidade luz.

Carol Moura, como é conhecida, começou a treinar parataekwondo em 2016. A decisão de iniciar o treinamento de uma arte marcial foi tomada após ser vítima de um assalto, momento em que ela se sentiu vulnerável e concluiu que buscaria uma forma de se defender. Inicialmente, Carol buscou apoio em academias de bairro, mas, após alguns meses praticando o esporte, ela sofreu uma lesão grave no ligamento do joelho e foi forçada a dar uma pausa nos treinos. 

Cerca de um ano após a lesão, Carolina voltou aos treinos e, dessa vez, o esporte veio diferente: não mais como um hobby, mas como  profissão. Em 2019, Carolina participou do primeiro Campeonato Brasileiro de Taekwondo na carreira e foi medalhista. Até aquele momento, ela dividia a rotina de atleta com a vida comum. Ainda cursava faculdade de Relações Públicas e tinha que dividir o tempo entre treino, estágio e estudos. Mas, no momento em que ganhou a primeira medalha, decidiu trancar o curso e abraçar por completo a carreira de atleta. 

As Olimpíadas de Tokyo 2020 foram marcadas pela estreia do parataekwondo como modalidade olímpica, juntamente com a modalidades parabadminton, que também passou a ser incluída nos Jogos. Por não estar bem classificada no ranking mundial até aquele momento, Carol fez da vida um objetivo: estar presente nas Olimpíadas de Paris em 2024.

Desde essa decisão, a atleta já conquistou ouro no Mundial do México em 2023; bronze na etapa da França do Grand Prix em 2023; ouro no Pan Americano Series II no Brasil em 2023; ouro na etapa da Arábia Saudita no Grand Prix de 2022; ouro na etapa da França do Grand Prix de 2022; bronze no Mundial da Turquia, em 2021.

Mulher jovem branca, vestindo casaco da seleção brasileira segura medalha de ouro na mão
Carol Moura com medalha de ouro / crédito: reprodução

Como todo atleta, Carol já passou por momentos intensos ao longo da carreira. Em depoimento ao Colab, ela relembra um dos momentos mais difíceis da profissão: “Em uma das temporadas de competição, eu tinha um Grand Prix para participar e um Mundial dois dias depois. No Grand Prix eu perdi na minha primeira luta e, no Mundial, minha primeira adversária seria a mesma menina para quem eu perdi no Grand Prix”. 

Além do psicológico abalado após a derrota, Carol também sofreu uma lesão antes do Mundial, mas decidiu seguir pelo objetivo principal: o ouro. “Eu estava extremamente nervosa e tinha dois dias para reposicionar minha cabeça para o Mundial. Fiz três lutas lesionada e minha mentalidade era unicamente ‘eu quero o ouro, eu quero o ouro, eu quero o ouro”, conta. 

A nossa vontade de alcançar o objetivo tem que ser maior do que nossa condição física no momento

Carol Moura

Naquela temporada, o objetivo foi conquistado. A atleta mineira foi ouro no Mundial do México. 

Além de toda sua dedicação, Carol destaca outro ponto que faz toda diferença para realizar os sonhos: o apoio e convívio com os amigos do Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Se fosse olhar apenas medalhas, talvez eu já teria desistido. Mas o que me motiva diariamente é olhar para os meus colegas no CTE. Cada um tem uma dificuldade e todos eles lutam para vencer e não desistem. Então, o que eu faço é por eles tambem”, declara a atleta. A paratleta completa: “É claro que gostamos de ganhar medalhas. Eu adoro estar no pódio, eu amo estar em primeiro lugar, porque é o resultado do meu trabalho e do meu esforço, mas o que me motiva todos os dias a estar envolvida, a me dedicar e a acordar cedo, às vezes às 4h são as pessoas com quem eu encontro”.

Construído em 2015  pelo Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da então Secretaria de Estado de Esporte e da Juventude (SEEJ), o Centro foi um dos lugares oficiais de treinamento de delegações estrangeiras na Olimpíada Rio 2016. Após o período esportivo, o local se desenvolveu até se estabelecer como referência em detecção, desenvolvimento e aprimoramento de talentos em vários esportes.

Atualmente, a estrutura é utilizada para o treino de inúmeros atletas. Além de Carol, outros que treinam no CTE estão cotados para as Olimpíadas de Paris. São eles: Izabela Silva Campos (atletismo), Arthur Xavier Ribeiro (natação) e Tiago Lemes da Silva (atletismo).

“O Centro de Treinamento Esportivo me apoia principalmente na questão esportiva, de estrutura, oferecendo todo o suporte necessário em fisiologia, fisioterapia, nutrição e preparação física, mas também na parte de conhecimento e envolvimento com outros atletas paralímpicos. Acho que o Centro de Referência Paralímpico é muito importante, pois os atletas se motivam. Então, além de você ter a preparação, você tem a convivência, porque o centro é feito para pessoas. Se não existirem aquelas pessoas, aquele diálogo, aquela conversa, o treinamento é ineficaz”, declara Ana Carolina Silva Moura, a  atleta de parataekwondo.

O diretor do CTE, Maicon Rodrigues Albuquerque, expressa a importância do local para o esporte mineiro e nacional: “É uma questão de fomentar o esporte em Minas e na Região Metropolitana, o que é muito importante. Automaticamente, quando fazemos algo por Minas, também estamos fazendo algo pelo Brasil, já que muitos dos nossos atletas participam das diferentes seleções brasileiras, desde a base até a principal”.

O atleta de taekwondo e amigo de treino de Carol Moura, Juliano Lima enfatiza o papel do CTE em seu percurso até alcançar a seleção brasileira. Assim como Carol, ele destaca o convívio com os demais atletas: “Eu comecei aqui desde o início do projeto CTE e graças a esse centro de treinamento, que é enorme em Minas Gerais e um dos maiores do Brasil, eu consegui chegar na seleção brasileira. Graças ao centro e toda a equipe multidisciplinar eu alcancei muitos objetivos dentro do taekwondo e na vida também. Isso aqui pra mim é praticamente tudo. As pessoas que eu conheci no meio me ajudaram bastante para crescer tanto a nível nacional quanto internacional”. 

Carol Moura ainda enfatiza o maior segredo da vida de um atleta. Segundo ela, “atleta não sonha sozinho”, é preciso todo trabalho e dedicação, mas sem pessoas para dar o apoio necessário, os sonhos são impossíveis. Quando questionada sobre o próximo grande desafio na carreira, as paralimpíadas, Carol expressa a mentalidade de uma atleta multicampeã e afirma que a maneira de continuar sem se abalar e chegar bem nas Olimpíadas é “tentando ser a número 1”.

Reportagem: Bruno Paz e Karen Cristina.

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Karen Cristina

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