Na primeira parte desta reportagem, falamos sobre o sonho de sair da casa dos pais e agora, precisamos colocar os pés no chão: o mercado imobiliário de Belo Horizonte, em 2024, está em um momento desafiador. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sindicato da Habitação de Minas Gerais (Secovi-MG), a capital mineira possui um número expressivo de apartamentos disponíveis, especialmente em áreas centrais e regiões de médio padrão. No entanto, a discrepância entre a oferta e a demanda por imóveis reflete um problema crescente: os valores praticados no mercado. Com o aumento médio dos alugueis em cerca de 8% ao ano, viver sozinho na cidade tornou-se um luxo difícil de alcançar.
Quem pode pagar?
Os desafios financeiros enfrentados pela geração Z não se limitam apenas ao valor dos alugueis ou à prestação do financiamento. Dados do IBGE indicam que o salário médio dos jovens trabalhadores em BH gira em torno de R$2.500,00, um valor que pode ser insuficiente para cobrir aluguel, contas de casa, alimentação e transporte. Além disso, a falta de estabilidade no mercado de trabalho é um fator que pesa nas decisões. Contratos temporários ou informais e precarizados, que são cada vez mais comuns, dificultam o acesso a financiamentos e tornam o aluguel um fardo difícil de carregar todo mês.
Um levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) aponta que a renda média necessária para financiar um imóvel de 60 metros quadrados em Belo Horizonte é de aproximadamente R$6 mil mensais — mais que o dobro da média de renda da população jovem. Para a geração Z, essa diferença impacta diretamente a possibilidade de buscar independência, empurrando muitos a optarem por dividir apartamentos, ou postergar a saída de casa.
As escolhas da geração Z
Além do aluguel ou financiamento, outros fatores econômicos se destacam no planejamento da geração Z. Os custos de alimentação, transporte e serviços essenciais como energia elétrica e internet estão em constante alta, o que limita o orçamento disponível. O transporte público, por exemplo, embora seja amplamente utilizado, ainda consome uma parcela relevante da renda dos jovens, especialmente os que residem em áreas periféricas e precisam se deslocar para o centro. Vale lembrar que a passagem de ônibus na capital mineira está entre as dez passagens mais caras do país. “Buscam a comodidade de ter tudo próximo, há um click ou pequenas distâncias, assim é muito importante , o transporte público, acesso, comércio e serviços.” relata Hugo Dias.
Ter um planejamento financeiro em uma economia instável exige cautela, principalmente quando não há garantias de emprego estável. Para muitos, a saída de casa representa um sacrifício de qualidade de vida e, em alguns casos, até mesmo o abandono de outros planos de consumo e investimento. Durante a coleta de depoimentos para esta reportagem, nos deparamos com vários relatos que corroboram com o alto custo de vida em BH e a questão da instabilidade no mercado de trabalho. A médica recém-formada Alice Lemos, 27, atende plantões em hospitais de Belo Horizonte e acabou de se mudar de Virginópolis, no Vale do Rio Doce, para a capital mineira, o que impactou diretamente suas finanças. “Eu saí do interior, em que eu pagava R$550 de aluguel, em um apartamento com três quartos, dois banheiros, bem grande, e era considerado um aluguel caro para a cidade. Hoje, eu pago dez vezes esse valor, dividindo com mais uma pessoa para ter a mesma qualidade de vida que eu tinha por lá”.
Os jovens compradores
Ao mesmo tempo em que vemos um mercado imobiliário inflacionado, acredita-se que a compra de um imóvel ainda seja um dos melhores investimentos. “Uma geração que é muito associada à sua afinidade com a tecnologia e inovações e até mesmo vistos pela falta de maturidade em determinados assuntos, o desejo de ter um lar para chamar de seu é uma tendência em ascensão entre os jovens compradores, afirma Hugo Dias, ao analisar o público que tem buscado os trabalhos da sua imobiliária. Nos últimos anos, a Geração Z vem representando uma fatia considerável dos novos compradores de imóveis, especialmente aqueles que veem o lar como um investimento no futuro.
“Coliving” é um conceito de moradia compartilhada entre pessoas que buscam senso de comunidade, economia e um estilo de vida sustentável. A princípio, o conceito de coliving lembra as vilas compartilhadas (cortiços), condomínios e repúblicas, mas apesar de serem “coletivos”, são como grandes condomínios projetados e administrados por empresas especializadas em compartilhamento de moradias, ou seja, uma proposta para os jovens elitizados que buscam praticidade em um lugar só.
No próximo capítulo, vamos nos aprofundar no maior calo dos jovens que querem sair da casa dos pais: a questão financeira. Se esta é a sua primeira leitura sobre o tema, recomendamos que você acesse a página “Entre o Sonho e a Realidade: O desafio das novas gerações em sair de casa” e confira a reportagem completa, a partir da parte 1.
Reportagem produzida por Helena Antunes e Rosana Ramos na disciplina Laboratório de Jornalismo Digital no semestre 2024/2 no curso de Jornalismo do Campus São Gabriel da PUC Minas, sob a supervisão da prof. Verônica Soares da Costa.
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