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Fotografia do presidente da Empresa Mineira de Comunicação, Sérgio Rodrigo Reis. Sérgio é um homem pardo com cabelos curtos e grisalhos, está com um blazer cinza e uma camisa azul clara por baixo.
Presidente da EMC Sérgio Rodrigo Reis.

Presidente da Empresa Mineira de Comunicação fala sobre fusão da Rede Minas com Rádio Inconfidência

A Rede Minas e a Rádio Inconfidência se fundiram, transformando-se na Empresa Mineira de Comunicação. Diante das incertezas sobre a situação e com o objetivo de esclarecer sobre os novos rumos da comunicação pública no Estado, o atual presidente, Sérgio Rodrigo Reis, disponibilizou-se a conversar com a equipe do Colab e do jornal Marco. Nesta entrevista, ele conta  sobre os desafios, as novas tecnologias e programações que envolvem essa fusão.

Graduado em jornalismo e em artes plásticas, com mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural, Sérgio atuou durante 20 anos como jornalista no Estado de Minas. Atuou também como diretor do Museu de Arte da Pampulha e do Museu de Congonhas e como diretor artístico da Fundação Clóvis Salgado.

Colab – Como você avalia a comunicação pública em Minas Gerais?

Sérgio Rodrigo Reis – Nós temos em Minas Gerais uma rede muito potente de comunicação pública, formada pela Empresa Mineira de Comunicação, que foi criada há um tempo mas instituída efetivamente há um ano, quando esta gestão assumiu. Eu vim com essa missão de consolidar vários dos processos de gestão que estavam há muito tempo no discurso, mas não efetivamente implantados na prática. 

A EMC, tem algumas obrigações, por exemplo, ela cuida da Rede Minas, que é a TV Minas cultural e educativa, mais 42 afiliadas no interior de Minas, como também, da Rádio Inconfidência e Rádio Brasileiríssima. Possivelmente, esta seja a rede de comunicação com maior abrangência, pois as outras emissoras comerciais são segmentadas por regiões e nós temos uma capilaridade para o estado todo.

Temos um desafio enorme de ampliar o sinal dada as dificuldades que o estado apresenta, por causa da topografia, mas temos sim uma rede muito potente de comunicação.

Em relação ao conteúdo, temos uma temática muito interessante, pois a prestação de serviço, informação, conhecimento, educação, cultura e o patrimônio material de Minas Gerais estão na gênese desses veículos de comunicação e o nosso desafio é que a partir desse material possamos levar a comunicação de forma mais assertiva para o nosso público como um todo.

As empresas já foram fundidas?

Na realidade, foi criada uma empresa pública para gerir a Fundação TV Minas e para gerir as rádios, Inconfidência FM e Inconfidência AM.

É uma questão de gestão de entrega, então foi criada uma empresa pública com um sistema de gestão mais moderno para que essas empresas possam ser geridas ultrapassando os desafios da administração pública, como por exemplo a perspectiva de captação de recursos, de parceria, de organizar e unificar os processos de compra. Quando era separado, ainda hoje alguns processos são assim, tínhamos que fazer duas solicitações para uma internet, por exemplo, aí são dois custos para gerir esses contratos diferentes, imagina a cadeia produtiva inteira atuando dessa forma.

Além dessas empresas, nós também herdamos a empresa que cuida das linhas de transmissão do antigo detel que fazia as transmissões do sinal de TV para o interior de Minas, então nós também cuidamos disso e da política pública do audiovisual.

Sendo assim, várias frentes que essa empresa está cuidando é em uma missão de modernizar a comunicação pública.

Nosso desafio é levar esse conteúdo, que é a informação apurada e de qualidade, o conhecimento, a educação e a cultura, para onde quer que seja, independente se é televisão, celular, rádio, computador, rede social, streaming, o nosso desafio é levar o produto que nós fazemos para a população, onde quer que ele possa ser entregue, mas que ele chegue e de forma cada vez mais assertiva.

A privatização da Empresa Brasil de Comunicação é uma ameaça para a comunicação pública ou para a EMC?

Na realidade, é um dos caminhos que existem na discussão da comunicação pública. A EBC é nossa parceira aqui na Rede Minas e eles não entendem isso como um processo viável, é a informação que eu tive deles. Acham que será feito um estudo, como está sendo feito em vários organismos, tanto federal, quanto estadual, e a informação que eles me deram é que tudo indica que é um estudo para melhorar os processos de gestão, mas eles não acreditam que seja privatizado, como está se falando.

As pessoas temem em relação a toda uma situação de mudança, pois realmente impacta a vida do trabalhador, impacta o dia a dia do trabalhador. Então, todo o processo de mudança é cercado por esses temores todos. Enfim, eu não acredito que isso venha a se efetivar, mas se efetivar, temos que enfrentar, né.

Na sua perspectiva, os funcionários gostaram da fusão das empresas? Eles estão satisfeitos com a ideia da junção?

Esse é um tema cercado de polêmicas, pois foi mal conduzido historicamente. A nossa perspectiva e o nosso diálogo em relação aos funcionários é de total transparência em referência aos processos. Mas também, nós temos que entender que na administração pública, nós só podemos explicitar uma determinada decisão depois que ela passa por todas as instâncias, então eu não posso pegar uma discussão que ainda está em curso e levar para os funcionários sendo que ela ainda não foi consolidada tanto do ponto de vista positivo quanto não.

Existem profissões concursadas, não só aqui como no estado todo, que já entraram em vacância. São ofícios que vão perdendo a aderência ao presente, então não terão mais concursos para eles. Sendo assim, estamos tentando consolidar o ambiente de trabalho que atualize essas profissões.

Hoje, o jornalista que só atua no jornal impresso terá muita dificuldade no campo de trabalho, ele deve ser um profissional que atua onde for possível, mas o essencial nunca irá perder a relevância, que é um profissional que consiga apurar uma informação de qualidade e levá-la para o telespectador. Essa discussão em relação ao veículo gera muita polêmica, pois os funcionários temem em relação ao futuro, todo processo de mudança gera insegurança, as pessoas temem em perder o emprego, temem na perspectiva de terceirização, temem em ter que atuar em mais atividades além do que elas fizeram concurso. 

O fato é que nós estamos conseguindo conduzir com a maioria dos colaboradores, um processo maduro em relação a isso de atualização da atuação profissional deles, pois se nós ficarmos presos nos meios tradicionais que existem hoje, rapidamente essas profissões não vão ter lugar ou terão um lugar muito reduzido no mundo. O tempo todo aqui tem sido feita essa discussão com os funcionários e a maioria tem entendido que esse é um processo de modernização da nossa atuação no mercado, mas o fundamental permanece que é a informação de qualidade levada ao nosso público.

Como vamos levar isso, hoje temos um mecanismo, daqui a seis meses teremos outro, o importante é que esse profissional possa atuar nas múltiplas possibilidades que vem a aparecer, mas o fundamental permanece que é a apuração de qualidade, a notícia imparcial, que é o nosso ofício.

Então o profissional da EMC poderá trabalhar na TV e rádio, sendo um profissional multitarefa?

Na realidade é um profissional multiplataforma, tanto nas que existem hoje, quanto nas que porventura vierem a existir. Mas o fundamental permanece, se a pessoa é apuradora ela continua sendo apuradora, mas não necessariamente de uma rádio AM ou TV preta e branca, mas atua naquela área específica para o veículo que existir. A discussão em relação à tecnologia empobrece nossa atuação frente aos desafios do tempo presente.

A junção das empresas muda a programação da TV e da rádio?

Nós tínhamos uma grade com muitas reprises e há uns dois anos iniciamos uma revitalização da nossa capacidade de produção, sobretudo, voltado para um diálogo com as diversas regiões de Minas Gerais.

Nós fizemos um processo de modernização na nossa grande, temos hoje 35% da grade de produção própria e inédita, e há dois anos era tudo reprise. Outra coisa que nós definimos é que deveríamos focar em uma programação que abrange as peculiaridades que temos em todas as áreas do nosso estado, e, com isso, conseguimos ter uma repercussão fora de Minas Gerais. Ou seja, quando nós voltamos nosso olhar para aquilo de mais particular que nossa região tem e que outros lugares não tem, nós começamos a gerar o interesse das emissoras parceiras. Com isso, conseguimos ampliar nossas métricas de audiência e nossa atuação no mercado, saltando nesse um ano de um programa exibido em rede nacional para 17 programas já exibidos nas emissoras parceiras.

Nós lançamos há um ano e meio um projeto bastante ambicioso para os padrões da Rede Minas, começamos a conversar com alguns municípios de Minas Gerais na expectativa de visitar  40 destinos para fazer novos programas, a adesão foi tanta que já ultrapassamos 250 municípios cadastrados para serem parceiros nessas  produções. Com isso, a expectativa é de gerarmos novos episódios que irão nascer multiplataforma (tv, rádio e internet) e que a partir de outubro possamos estreia-los.

Tais programas serão voltados para a cozinha mineira, aventura, turismo, cultura, nosso povo, patrimônio material e imaterial, ou seja, tudo que temos em abundância em Minas Gerais. Para além desses projetos de programa, nós vamos atualizar nossos cenários e vinhetas, toda a cara das emissoras será mudada.

Em relação às rádios, tanto a AM quanto a FM vão ganhar novas vinhetas e estratégias de comunicação, tudo isso sendo desenvolvido para que nossas entregas fiquem mais competitivas, a ideia é que, em breve, o público tenha uma programação mais atual e interessante.

Os projetos nascem multiplataforma de acordo com a “cara nova” das empresas que é a junção e transformação em EMC?

Temos que entender que o discurso da empresa, funcionário, celetista é uma coisa que interessa a nós que estamos aqui internamente, já o público quer ter uma entrega potente, uma programação atualizada com cenários agradáveis e bonitos, um diálogo com todas essas mídias, um espaço, uma programação arrojada. Nós não podemos parar no tempo e ficarmos presos na discussão do AM ou FM, enfim, temos muitos desafios.

Mas do ponto de vista da gestão da fusão esse processo tem sido conduzido de uma forma madura pela maioria dos funcionários, nós temos tido um diálogo próspero e maduro, o que nós propomos é o seguinte: vamos organizar a discussão e iniciar uma trajetória de ganho, meu compromisso com os profissionais é buscar todos os meios possíveis para que eles possam iniciar uma trajetória coerente de condução de carreira profissional, eles devem ter uma visão e perspectiva de futuro, independente da tecnologia o trabalho deles é importante e sempre será relevante.

Toda a nossa movimentação tem sido para fortalecer a rádio popular, elas vão ganhar novas vinhetas, estamos discutindo novos formatos de programação, possibilidades de sinergias com o mundo virtual, fazendo com que os programas possam ganhar uma perspectiva de ser transmitido virtualmente de uma forma atual, pois muitos deles fazem isso de forma improvisada, com o celular, queremos montar um estúdio dentro do estúdio da rádio para que eles tenham tecnologia para transmitir pela internet. Sendo assim, em breve o nosso ouvinte irá perceber uma rádio mais presente e atual, com um diálogo mais próspero, sem perder de vista as conquistas que já tivemos, não estamos fazendo nenhuma mudança radical, temos um espaço consolidado e importante, tudo o que vamos fazer é buscar meios para ter uma entrega mais assertiva para nosso público.

Por via das comemorações de aniversários das rádios, vamos lançar a segunda edição do Prêmio da Música Mineira e editais de ocupação das nossas emissoras (rádio e TV), a ideia é que os nossos artistas, a produção cultural de Minas possa se cadastrar e disputar oportunidades que vamos promover. 

Então, temos muitas novidades que a modernização da gestão, simbolizada pela institucionalização da empresa, permite com que nós avancemos, fora questões relativas a parcerias, a captação de recursos, avançamos demais esse ano, eu não lembro de algum ano que a Rede Minas fosse superavitária, nós vamos terminar o ano com um superávit muito expressivo, com novas programações, com atualização de cenários, com vários avanços para o nosso público.

A redação da Rede Minas já era a maior redação de Minas Gerais, onde nós transmitimos ao vivo nossos programas jornalísticos, agora estamos modernizando a redação inteira, provavelmente em setembro ou outubro o nosso jornalismo terá uma redação moderna de onde serão exibidos nossos produtos jornalísticos, será a redação mais moderna do estado. São muitos avanços em pouco tempo, que refletem uma perspectiva diferenciada com essa possibilidade de contar com uma empresa que vai ao mercado, busca parceiros, captação de recursos, uma série de oportunidades e isso tem trazido um novo fôlego para nós.

Ao contrário do que está acontecendo com a EBC (leilões de bens e prédios), a EMC está conseguindo um avanço agora? Há crescimento em comparação com outras empresas de comunicação pública que estão em perigo de privatização?

Eu não posso falar da realidade da EBC, pois não estou lá dentro, eles estão vivendo essa perspectiva, essa conversa da privatização existe lá sim. Eu fiz uma visita há alguns meses e nós perguntamos para eles sobre a questão dos prédios, são imóveis que estavam desocupados e eles estão privatizando pois geram custos.

No nosso caso aqui, nós temos uma sede das emissoras que talvez seja a mais moderna das emissoras públicas do Brasil, é uma sede feita para abrigar televisão, rádio e internet, foi feita para isso, as soluções técnicas todas desse lugar são feitas em função disso.

Depois que eu fui monitor do [jornal] Marco, meu segundo emprego foi de estagiário na TV Minas, que funcionava em uma casinha no Bairro Floresta, depois fomos para um prédio alugado, sempre ocupando espaços improvisados. E este espaço que ocupamos hoje, foi feito desde a planta até a finalização pensado para abrigar esses veículos de comunicação, então é um espaço bastante generoso, que nos permite fazer as teleaulas, por exemplo, o que nenhuma emissora de televisão fez na pandemia. Nós estamos produzindo e transmitindo as aulas da Rede Estadual de Educação a partir da Rede Minas, e isso adquiriu para nós uma perspectiva muito interessante, a de podermos utilizar os melhores professores da rede do estado e fazer aulas de reforço a partir da emissora e assim transmitir para todos os municípios que o sinal da televisão chega.

A pandemia antecipou uma tendência do mundo híbrido, onde estamos um tanto presencial, mas também, utilizando essas ferramentas virtuais. Isso abriu uma perspectiva de captação de recursos para nós muito importante, pois passamos a ganhar para fazer isso e é esse dinheiro que nos têm permitido fazer esse conteúdo inédito que vamos estrear.

Então, fica complicado eu discutir e comparar em relação a uma realidade que eu não domino necessariamente. Nós ficamos lendo coisas, imaginando coisas, mas a real mesmo nós não temos, o fato é que os dados que eu tenho da TV Brasil é que a audiência aumentou muito nos últimos tempos, a meu ver, algumas escolhas não são muito ideais, como, por exemplo, passar a novela Os Dez Mandamentos [produção da Rede Record], mas é uma escolha. 

Fotografia do prédio atual da Empresa Mineira de Comunicação. Prédio branco com um pequeno design amarelo no teto.
Novo prédio que abriga a sede da Rede Minas
Créditos: Divulgação / Rede Minas.

Tem alguma consideração final?

Gostaria de agradecer a oportunidade, eu comecei minha trajetória profissional no Marco, pra mim é uma honra falar com vocês, independente do assunto, podem me ligar, podem fazer uma visita para ver na real o que está acontecendo aqui. Estamos conseguindo em pouco tempo avançar em aspectos históricos para viabilizar sonhos e projetos da Rede Minas.

Nós estamos nos preparando, com esses conteúdos todos que estamos produzindo, para terem a perspectiva de irem para o streaming podendo ser vistos hoje ou daqui um ano, mantendo sua relevância, estamos buscando formas de viabilizar o streaming para colocar a produção atual e antiga da Rede Minas quanto das rádios disponíveis para o grande público.

Aqui na emissora, nós temos o maior acervo audiovisual de Minas Gerais, que está sendo digitalizado e pode dar origem a projetos de programa e de memórias com diálogos desse passado. Temos alguns projetos em andamento e queremos disponibilizar no streaming para avançarmos no alcance da nossa programação, se tivermos um streaming gratuito podemos colocar nosso conteúdo para as pessoas poderem assistir em qualquer lugar. Nós ainda não temos o recurso para fazer  nosso streaming, temos a tecnologia, todos nossos programas já estão nascendo em formatos de temporadas… Assim estamos moldando nossos produtos para, quando lançarmos nosso streaming, termos nossa estante cheia de programações para disponibilizar. São muitos desafios, mas estamos conseguindo alcançar!

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