Para os críticos de Taylor Swift, pode parecer estranho o alvoroço em torno da cantora. Há quem argumente que suas músicas retratam dramas fúteis, que suas performances são infantis, que suas composições são genéricas. Será mesmo?
Taylor não se lançou na indústria do pop há tanto tempo quanto as demais artistas famosas: enquanto Ariana Grande, Lady Gaga e Katy Perry já bombavam no gênero, a loira era uma artista country. Mesmo assim, ela conseguiu se estabelecer como concorrência para elas, tornando-se uma das artistas mais populares da atualidade.
A música country não seria amiga de Taylor por muito tempo: ela é inflexível, lenta e até um pouco machista. Mesmo assim, o gênero sempre a acolheu e ela quase não enfrentou nenhuma concorrência direta. Mais importante ainda: a música country fez de Taylor Swift uma transgressora, o que significa que até mesmo suas músicas mais boazinhas pareciam conter certa malícia. Vista de fora, ela era uma guerreira conquistadora. Mas para quem é do ramo, mesmo sendo a maior estrela do estilo, esse cenário não duraria muito. Ficou claro que um dia ela teria que deixar o country de lado.
Foi apenas em 2012 que Swift iniciou a transição para o pop, com o álbum “Red”. A mudança se consolidou com o álbum seguinte, “1989”, em 2014. O álbum foi aclamado pela crítica, recebendo elogios pela produção e pelas letras inteligentes. Segundo Alexis Petridis, jornalista e crítico do The Guardian, “a coisa realmente impressionante sobre o 1989 é como a Taylor Swift domina completamente o álbum: os produtores (Max) Martin e (Jack) Antonoff fazem um monte de gravações pop extremamente polidas todo ano, mas eles são raramente tão inteligentes, afiados ou tão perfeitamente sintonizados como foram nesse álbum. Isso sugere que essas qualidades foram trazidas ao projeto pela mulher cujo nome está na capa. Como compositora, Swift tem uma compreensão aguçada tanto de seu público quanto da história pop. Ela evita os chavões rasos e comuns sobre empoderamento e sobre bobagem aspiracional sem sentido”.
Segundo Jon Caramanica, crítico da Gazeta do Povo, a concepção de música pop do 1989 remonta à década de 1980, quando o pop não era tão escancaradamente híbrido. Essa escolha, segundo ele, permitiu que Taylor conseguisse ganhar espaço com o público sem se preocupar com as modinhas mais recentes e sem ser acusada de apropriação cultural.
“1989” não só arrebatou prêmios, incluindo o Grammy de Álbum do Ano, mas também alcançou sucesso comercial massivo, vendendo milhões de cópias ao redor do mundo. Além da música, “1989” foi uma experiência cultural. Com ele, a artista mudou o jogo dos negócios em favor dos músicos, defendendo melhores contratos para os artistas junto às gravadoras e aos serviços de streaming.
Swift retirou todas as suas músicas dos serviços de streaming na época e optou por lançamentos físicos e digitais exclusivos em forma de protesto contra o pagamento injusto que os artistas menores recebiam de plataformas como o Spotify e a Apple Music. Essa estratégia não apenas impulsionou as vendas, mas também ressignificou a relação entre artistas e serviços de streaming. Em 2015, a Apple Music alterou suas políticas de pagamento, depois que Swift escreveu uma carta aberta defendendo melhor remuneração.
Assim, a transição de estrela country para diva pop foi um completo sucesso. “1989” foi o álbum mais rápido da década a bater 5 milhões de cópias vendidas, 36 semanas após ser lançado. O número superou o recorde da cantora Adele, com o disco “21” – que, em 2011, precisou de 42 semanas para alcançar as vendas de “1989”. Taylor também foi a única artista a ultrapassar 1 milhão de cópias vendidas em 2014, superando Coldplay, que havia vendido 745 mil cópias na semana de lançamento de “Ghost Stories”. “1989” passou 11 semanas no topo da Billboard 200 e foi certificado com nove discos de platina pela Recording Industry Association of America (RIAA). Ele vendeu mais de 10 milhões de cópias ao redor do mundo e foi certificado multi-platina em muitos países.
Hoje em dia, Swift segue quebrando recordes. Em julho deste ano, a cantora se tornou a primeira artista viva a ter quatro trabalhos no ranking semanal dos 10 discos mais populares dos Estados Unidos, feito pela revista “Billboard”. O recorde se deu graças aos lançamentos dos álbuns “Speak Now: Taylor’s Version” (2023), “Midnights” (2022), “Lover” (2019) e “Folklore” (2020). Além disso, Midnights deu a ela o título de primeira artista a ocupar todo o top 10 das músicas mais ouvidas do mundo. Doze álbuns de Taylor Swift já ocuparam o primeiro lugar na revista Billboard. É o maior número já atingido por uma mulher. O recorde anterior pertencia a Barbra Streisand, ultrapassada por Swift em 2023.
Em novembro de 2023, o Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, reuniu 60 mil pessoas por dia de show, enquanto o Allianz Parque, em São Paulo, um estádio consideravelmente menor, reuniu 40 mil por dia. Ao todo, Taylor se apresentou para, aproximadamente, 300 mil brasileiros. Isso são só os fãs que conseguiram o tão disputado ingresso. Nos Estados Unidos, a cantora fez mais de 60 shows, todos esgotados, e ainda houve relatos de fãs que não conseguiram ingresso.
Ela também provou ter a lealdade de milhões de fãs quando se posicionou contra a antiga gravadora, a Big Machine Records, que se recusou a oferecer a ela a oportunidade de comprar os direitos de suas seis primeiras gravações. Taylor Swift pode não ter sido a primeira a lutar por esse direito, mas atraiu enorme atenção para um problema com o qual muitos artistas lidam. É óbvio que Swift ocupa uma posição privilegiada e pode assumir riscos que muitos outros não conseguem. Mas, com seu poder, gerou discussões sobre contratos e o valor da música, abrindo o caminho para os artistas emergentes.
Em uma tentativa de retomar o controle dos seus primeiros trabalhos, Swift anunciou que iria gravar novamente seus seis primeiros álbuns. Cada álbum regravado incluiu faixas bônus, com músicas que ficaram de fora das gravações originais. Cada um desses lançamentos foi acompanhado por campanhas publicitárias e novos produtos colecionáveis para os fãs. A iniciativa funcionou muito bem. Todos os álbuns relançados até agora foram mais vendidos do que os originais, com exceção de “1989”, que foi relançado há apenas um mês, mas que já está caminhando para superar a versão de 2014. Desde 28 de outubro, o álbum já vendeu 3,5 milhões de cópias. Este resultado se deve, em grande parte, ao apoio dos seus fãs, conhecidos como Swifties. Eles adotaram completamente as novas gravações, deixando de consumir as versões “roubadas”.
Sendo assim, é notável que números e vendas não são um problema para Taylor. E quanto ao que ela compõe? As composições são infantis? São bobas? Sobre isso, a crítica discorda. Taylor é a maior vencedora da categoria Álbum do Ano, a mais importante do Grammy. As três vitórias da artista são ainda mais impressionantes quando se descobre que cada uma delas foi por um estilo musical diferente. “Fearless”, álbum que garantiu sua primeira vitória, é do gênero country. A segunda vitória, com “1989”, é pop. A terceira e mais recente foi com “Folklore”, que é indie folk. É preciso admitir: a palavra que melhor caracteriza a artista é “versatilidade”.
Ao contrário de algumas opiniões, os dramas retratados nas composições passam longe da futilidade. Não significa que toda música seja boa. Algumas são realmente simples, criadas exclusivamente para vender e grudar na mente do público. São jogadas inteligentes, o pop chiclete é necessário na indústria. “Shake it Off”, por exemplo, é chiclete e é extremamente popular.
Ainda assim, resumir a artista a essas músicas é desonesto. Não são futilidades quando Taylor canta sobre depressão, suicídio, ansiedade, autossabotagem, autoestima, abuso e dependência emocional. Seu sucesso mais recente, “Anti-Hero”, é um dos exemplos mais leves desses conflitos. Além dos temas, Taylor se destaca pela boa escrita: em 2023, ela recebeu o título de compositora da década pela Nashville Songwriters Association. Swift tem uma maneira única de encaixar palavras, de escrever com termos complexos e rimas inesperadas. Sua forma de escrever virou curso em universidades renomadas, como a Universidade de Nova York. Swift também recebeu um doutorado honoris causa em belas-artes da mesma universidade, por ser considerada “uma das artistas mais produtivas e celebradas da sua geração”.
Outras universidades em várias partes do mundo também ofereceram seus cursos, como “A Psicologia de Taylor Swift“, da Universidade Estadual do Arizona (EUA); “O Repertório de Taylor Swift“, da Universidade do Texas (EUA); e “Literatura: A Versão de Taylor“, da Universidade de Ghent (Bélgica).
Até quem não se identifica com o problema relatado por Taylor em alguma composição consegue ser conquistado, porque a cantora abre um livro sobre a própria vida. Como contadora de histórias, ela é excelente. Dá vontade de saber o que acontece, o que incentiva o consumo de muitas músicas que são relacionadas à mesma história.
Por isso a artista é tão popular. Ela não precisa de performances extravagantes com coreografias elaboradas, até porque sabe que é péssima dançarina. Taylor Swift sabe que o forte dela é outro: escrever sobre dilemas com os quais seus ouvintes se identificam ou sobre histórias que eles gostem de acompanhar.
A popularidade de Taylor Swift também pode ser explicada pela conexão que ela cria com os fãs. Desde o início da carreira, é um hábito de Swift deixar pistas (Easter Eggs) nas letras, clipes, shows, postagens e entrevistas, coisas que indiquem sobre o que será o próximo lançamento. Os fãs adoram a prática. Para o lançamento do álbum 1989 (Taylor’s Version), Swift publicou uma série de quebra-cabeças no Google, que os fãs precisavam resolver para revelar os nomes das faixas bônus a serem lançadas. Ao todo, os Swifties resolveram todos os 33 milhões de quebra-cabeças em menos de 24 horas.
A brincadeira, além de tudo, foi uma jogada de marketing: Taylor impulsionou as buscas pelo seu nome no Google durante o processo. A falta do joguinho não faria os fãs ouvirem o álbum menos vezes, porque já era uma regravação bastante esperada devido ao sucesso da versão original, mas foi um processo inteligente de divulgação. Uma verdadeira mulher de negócios. Desmerecer a inteligência de Taylor ao dizer que ela só faz sucesso por ser branca, loira e magra é ignorar o quão bem planejada sua carreira é. O quanto ela se reinventa para se manter na indústria.
Além disso, a legião de fãs de Taylor Swift atravessa gerações. Alguns estão com ela desde o início e já levam os filhos para os shows ou exibições do filme da turnê. E o público mais jovem não fica de fora. Swift também cativou um público mais jovem no TikTok, plataforma utilizada predominantemente pelos jovens da Geração Z.
As músicas de Taylor Swift costumam se tornar tendências populares na internet. O lançamento do álbum Midnights, no ano passado, fez muitos fãs fazerem dancinhas que se tornaram virais, como Bejeweled e Karma. As famosas ‘trends” da plataforma ajudaram a aumentar o alcance das músicas,. Outras músicas como “Enchanted”, “You Belong With Me”, “August” e “Don’t Blame Me” também viralizaram. O mais interessante é que essas músicas são antigas e sempre viralizam “do nada”, com exceção das canções do Midnights, de 2022.
A cantora também participa de trilhas sonoras de produções para adolescentes e jovens adultos. A série “O Verão que Mudou Minha Vida” incluiu 13 canções de Taylor Swift ao longo das suas duas primeiras temporadas. As músicas de Swift são tão importantes para a história que sua autora, Jenny Han, quase dedicou à artista o segundo livro da série.
Assim, nota-se que Taylor Swift conquista públicos de todas as idades. Ela continua a dominar o ambiente cultural com sua música, decisões comerciais e a fiel legião de fãs. Atualmente, Swift está no auge da popularidade. Considerando seus 17 primeiros anos de carreira, Swift já provou que não vai embora tão cedo. São 17 anos fazendo sucesso, 17 anos de recordes de vendas, 17 anos com uma legião enorme de fãs. Taylor Swift é muito popular e veio para ficar.
Artigo de opinião desenvolvido por Júlia Barreto, aluna do 3º período do curso de Jornalismo, sob supervisão da profª Verônica Soares da Costa.
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