Lembro-me de, quando criança, mesmo que despolitizada, assisti Marina Silva na televisão se candidatando à presidência. Eu não me interessava por política, não concebia a importância disso em nossas vidas, mas, ainda assim, simpatizava com falas dela.
Via-a defender que devíamos focar nossos esforços em cuidar do meio ambiente e garantir a dignidade dos povos marginalizados. Mesmo sem dimensionar como as mazelas da nossa sociedade são viscerais, com raízes tão profundas, reconhecia nela a vontade de tornar esse mundo um lugar melhor.
Agora que cresci, tendo uma noção maior das mazelas viscerais que condenam o nosso mundo, posso compreender a importância do trabalho de Marina. Ela é uma barreira de proteção contra a destruição da natureza, uma das figuras mais importantes para a valorização das nossas terras, para a segurança dos povos originários e as culturas nortistas.
Uma mulher nascida em Breu Velho (Acre), sem acesso à educação. Apesar da alfabetização tardia aos 16 anos, foi capaz de se tornar uma grande articuladora política. Uma sobrevivente da exploração da mão de obra seringueira que presenciou em sua infância. Uma professora, pesquisadora que dedicou a vida a salvar o planeta. Uma ministra que, aos 67 anos, ainda luta fervorosamente pelo bem comum.
Posso citar suas inúmeras participações políticas à frente de movimentos como Central Única de Trabalhadores do Acre (CUT), e também na Câmara dos Deputados, sendo uma das mais votadas nacionalmente em 1986. Em 2025, está pela segunda vez ocupando o cargo de Ministra do Meio Ambiente, mas o Brasil não admite seus primores.
Então vos digo: Marina Silva é reconhecida internacionalmente. Venceu o prêmio ambiental Goldman em 1996 por conquistar uma reserva de 2 milhões de hectares para as comunidades locais da Amazônia. Foi tida, em 2008, pelo The Guardian Weekly como uma das 50 mais importantes figuras políticas em prol do meio ambiente e contra a degradação ambiental – verdadeiro apocalipse. Agora,, em 2025, ganhou o prêmio de Liderança para o Desenvolvimento Sustentável na Índia.
Mesmo com um histórico mais primoroso do que o que pude citar aqui, Marina precisou deixar a sessão do Senado na última terça (27/05). Senadores homens, que deveriam ter seus mandatos cassados pelas atrocidades ditas, como “difícil te ouvir por 6 horas sem te estrangular”, tentaram desassociar a mulher da ministra para justificar desrespeito (chega a ser patético) e diminuí-la, dizendo-lhe que se pudesse em seu lugar, atribuindo-lhe pouco: o oposto de toda sua trajetória.
Apelaram para a agressão pois não poderiam instrumentalizá-la favoravelmente aos interesses dos ricos poderosos. Como puderam ser tão condescendentes com Virgínia Fonseca na CPI das casas de aposta? Marina, uma mulher negra que defende o povo, orgulhosamente verbalizou não ser uma mulher submissa. Marina Silva foi durante toda a sua carreira e segue sendo uma potente opositora da opressão humana e da exploração ambiental.
Em uma sessão no Senado programada para discutir os avanços do desmatamento favorecido pelo governo e as estratégias para impedi-los, a dedicação dos senadores foi o ataque à mulher e à ministra. A ministra Marina Silva merece tanto respeito quanto a mulher Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima (seu nome de batismo). Questiono-me se o Brasil merece uma pessoa como ela, talvez não, mas precisamos de gente assim, composta de força, coragem e caráter.
Agora, destinando-me a ela: ponha-se no seu lugar, ministra! Por dignidade: a presidência. A esperança se inspira em você.
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