Ao longo desta reportagem, falamos sobre como a realidade financeira é uma barreira expressiva quando o assunto é sair de casa e se tornar independente. Em 2024, o custo de vida em capitais brasileiras como Belo Horizonte está em alta, afetado por anos de inflação persistente e aumento no valor dos alugueis. Dados do IBGE e do Índice FipeZap, que monitora o preço dos alugueis e das vendas de imóveis no Brasil, indicam que, nas capitais, o custo do aluguel e dos imóveis subiu, em média, entre 7% e 9% nos últimos anos, em grande parte devido à valorização do mercado imobiliário e à escassez de novos lançamentos acessíveis.
Em Belo Horizonte, bairros como Lourdes, Savassi e Funcionários concentram uma alta oferta de apartamentos menores e mais novos, geralmente voltados ao público jovem, mas com valores que frequentemente ultrapassam a capacidade financeira da geração Z. Em média, os custos de alugueis em regiões centrais e valorizadas da capital podem consumir até 60% da renda de um trabalhador iniciante. Assim, a situação financeira acaba sendo um dos fatores mais críticos na decisão de sair de casa.
Além disso, mesmo os jovens que conseguem arcar com o aluguel enfrentam o custo de serviços básicos e necessidades diárias, como energia elétrica, transporte e alimentação, que aumentam a pressão sobre o orçamento. Vamos pegar um exemplo na comunicação: o salário médio para quem está iniciando a vida profissional na área, em BH, fica em torno de R$2.500 a R$3.000, enquanto aluguel em regiões mais acessíveis da cidade já começam em torno de R$1.200 a R$1.500 para imóveis de um quarto, segundo o Índice FipeZap.
Além disso, a variação de preços dentro da cidade pode chegar a 131%, segundo dados do QuintoAndar. No mapa abaixo, você confere os bairros que mais valorizaram ou se desvalorizaram neste ano:
Quanto custa sair de casa em 2024?
Para quem sonha em morar sozinho, mas não tem uma planilha financeira, o plano talvez precise ficar para outro momento. Segundo o IBGE, o custo de vida em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte representa uma parcela significativa do salário de jovens entre 20 e 29 anos, e a inflação acumulada nos últimos anos adicionou cerca de 20% a mais de gastos para itens essenciais.
No caso específico de Belo Horizonte, o custo de vida apresenta uma leve vantagem em relação a São Paulo, mas, ainda assim, é elevado para jovens que estão começando a carreira. Em 2022, o jornal O Tempo apontou que o salário mínimo, que na época era R$1.212, mal pagava o aluguel de um apartamento na região central de Belo Horizonte. Mesmo com o aumento do valor do salário mínimo, o preço do aluguel também aumentou ao menos em 5% acima da média da inflação, segundo dados do Sindicato da Habitação de Minas Gerais (Secovi-MG). Além disso, em bairros como Savassi e Lourdes, onde a maioria dos apartamentos é de pequeno e médio porte, o aluguel pode consumir até 70% do salário de um jovem recém-formado. Vale destacar que no site do Serasa, os profissionais indicam que 50% da sua renda líquida mensal deve ser destinada a gastos essenciais, ou seja, gastos fixos como energia elétrica, água, aluguel, supermercado, transporte, plano de saúde, farmácia.
Morar perto do trabalho ou ser autônomo?
Os formatos de trabalho mudaram drasticamente nos últimos anos, com o crescimento do trabalho remoto no período pandêmico e a autonomia dos profissionais, seja para abrir seus negócios ou passar a atuar em projetos pontuais em vez de contratos de longo prazo. Para a geração Z, que já entrou no mercado sob esses novos formatos, essa realidade trouxe tanto vantagens quanto desafios. A flexibilidade do trabalho remoto, por exemplo, permite morar em áreas periféricas, onde o custo do aluguel é menor, sem a necessidade de gastar horas em deslocamento. Por outro lado, a instabilidade de trabalho e renda dificulta a criação de um planejamento financeiro sólido, essencial para quem quer alugar ou comprar um imóvel.
Além disso, os bancos e imobiliárias ainda dão preferência a firmar contratos de compra e venda com quem é contratado de forma tradicional, o que deixa muitos jovens fora do mercado de imóveis, por terem um trabalho flexível ou freelancer.
Outro fator decisivo na busca pelo primeiro imóvel são as novas regras de financiamento da Caixa Econômica Federal, que entraram em vigor em novembro de 2024. Com as mudanças, o banco passa a financiar até 70% do valor do imóvel pelo Sistema de Amortização Constante (SAC) e até 50% do montante pelo sistema Price. No modelo anterior, as cotas de financiamento eram de até 80% e 70%, respectivamente, o que afeta o bolso do comprador, que precisará de um montante maior para dar entrada no imóvel.
Esses desafios financeiros e de estabilidade no trabalho são agravados pela alta expectativa de vida da geração Z, que busca não apenas um local para morar, mas um ambiente que reflita sua identidade e ofereça qualidade de vida. No entanto, entre a busca pelo “lugar ideal” e a realidade financeira, a maior parte dos jovens acaba optando por morar com os pais ou dividir aluguel com colegas até conseguir melhores condições financeiras. “Minha primeira experiência de sair de casa foi quando tive a oportunidade de morar em um apartamento já mobiliado que uma tia tinha disponível, neste caso só precisei gerir as despesas. o processo foi bem pensado pois eu queria ter mais privacidade e liberdade”, nos contou Larissa Trindade, analista de licitação de 29 anos que decidiu sair de casa para ter um espaço só seu. “Atualmente, sou eu quem arco com todas as despesas da casa todo mês. A liberdade de fazer minhas próprias escolhas e ter um espaço que reflete muito a minha personalidade foram as principais vantagens em ter saído de casa”, ela afirma.
Em resumo, para 2024, a geração Z seguirá enfrentando desafios pertinentes para sair de casa e a questão financeira ainda é um “calo” que pode atrapalhar ainda mais o processo. Enquanto o cenário econômico for dominado por uma alta na inflação e os trabalhos informais forem a regra, não a exceção, os jovens adultos terão obstáculos ao longo do processo de busca por um lar.
Se esta é a sua primeira leitura sobre o tema, recomendamos que você acesse a página “Entre o Sonho e a Realidade: O desafio das novas gerações em sair de casa” e confira a reportagem completa, a partir da parte 1.
Reportagem produzida por Helena Antunes e Rosana Ramos na disciplina Laboratório de Jornalismo Digital no semestre 2024/2 no curso de Jornalismo do Campus São Gabriel da PUC Minas, sob a supervisão da prof. Verônica Soares da Costa.
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