Os Jogos Paralímpicos de Tóquio começam nesta terça-feira (24) e, após uma espera de cinco anos, têm o potencial de dar visibilidade às pautas das pessoas com deficiência. Para além de ser uma possibilidade de inclusão e de demonstração de que não há limites ou barreiras para os esportes de alto rendimento, as Paralimpíadas também representam uma possibilidade de quebrar preconceitos e de revelar as desigualdades pelas quais, não apenas os atletas paralímpicos, mas as pessoas com deficiência de modo geral, estão sujeitos.
Este ano, os jogos de Tóquio contarão com 253 atletas brasileiros competindo em 20 das 22 modalidades. Dentre eles, estão os representantes mineiros Gabriel Geraldo, Rafael Medeiros e a jovem convocada Luiza Fiorese, que, apesar de ser capixaba, morou quatro anos em Minas e é ex-aluna da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) da PUC Minas. Com 24 anos, Luiza integra a equipe da Seleção Brasileira de Vôlei Sentado.
Luiza começou sua história no mundo do esporte ainda pequena treinando handebol. Aos 15 anos foi diagnosticada com um tumor no fêmur esquerdo, precisando de retirar o osso da perna e inserir uma prótese no lugar. Como consequência , precisou deixar o esporte. Na época, por falta de incentivo, a atleta não teve uma transição imediata para o esporte paralímpico e ficou seis anos sem praticar.
E foi aí que Luiza encontrou no jornalismo uma forma de continuar o contato com o esporte, iniciando a graduação na PUC Minas em 2016, ano que coincidiu com a fundação da Atlética José Albino de Comunicação, da qual ela foi vice-presidente.
“A atlética foi fundamental para manter viva em mim a paixão pelo esporte, a vontade de estar dentro das quadras. De início, atuei como treinadora da equipe de handebol e foi muito gratificante poder aplicar tudo que sabia sobre a modalidade e estar em contato com as competições”, afirma Luiza.
Luta conta o capacitismo
Dentre os principais desafios para se lançar como atleta paralímpica, a jornalista destaca o capacitismo intrínseco à sociedade perante as pessoas com deficiência, que as priva de sonhar alto, colocando-as em situação de se contentar com o pagamento de auxílio pelo Governo. “As pessoas olhavam para mim e não me viam capaz de fazer as coisas. Eu me senti útil após voltar para o esporte. O esporte paralímpico devolve para o atleta essa sensação, além de ser uma forma de inclusão”, esclarece Luiza, que estreia nas paralimpíadas nesta sexta-feira (27), às 6h30 (horário de Brasília).
Pesquisadora da relação entre mídia, esporte e pessoas com deficiência, a professora da Universidade Federal de Roraima Tatiane Hilgemberg observa que, ao longo dos anos, os meios de comunicação vêm retratando melhor o atleta paralímpico. Segundo ela, hoje o foco está direcionado a questões esportivas, medalhas, recordes e treinamentos, que antes eram ignorados para se destacar apenas as histórias de superação dos atletas. “O foco acabava recaindo sobre a deficiência. As discussões sobre anti-capacitismo nas redes sociais são muito importantes para impactar na forma com que as pessoas com deficiência são vistas pela sociedade e na forma com que os meios de comunicação representam essas pessoas”, explica a pesquisadora.
É nesse sentido que os Jogos Paralímpicos podem dar visibilidade às pautas anti-capacitistas e contribuir para uma representação sem preconceitos das pessoas com deficiência.
Mineiros representam Brasil em Tóquio
Rafael Medeiros, 31 anos, foi convocado pela terceira vez para representar o Brasil nas Paralimpíadas na modalidade tênis em cadeira de rodas que estreia nesta quinta-feira (26) . Nascido na capital mineira, Belo Horizonte, o atleta teve seu primeiro contato com o esporte paralímpico no Hospital de Reabilitação Sarah Kubitschek, quando logo criança conheceu o basquete e, depois, o tênis.
Em decorrência do cenário da pandemia de covid-19 no mundo, alguns torneios de tênis precisaram ser cancelados, levando ao atleta, que se dedica ao esporte há 17 anos, a sensação de incerteza e mais dificuldade para a classificação. Apesar dos desafios, Rafael conseguiu manter o treinamento e suas expectativas para Tóquio são positivas. “ No início da pandemia, fiquei dois meses tentando manter a forma física em casa e, quando pude, voltei a treinar de quatro a cinco vezes na semana, fazer academia, fisioterapia”, relata o atleta.
Em questões financeiras, Rafael frisa que patrocínio particular é muito difícil no Brasil. O atleta recebe bolsa da Confederação Brasileira de Tênis para jogar os torneios e bolsa do Governo por jogar nas Paralimpíadas.
Destaque nas piscinas, Gabriel Geraldo, 19 anos, começou seu contato com o esporte em 2015, nos Jogos Escolares de Minas Gerais. Na época, dentre as dificuldades que o atleta encontrou, uma das principais era a estrutura que a cidade de Corinto, interior de Minas Gerais, apresentava para um atleta paralímpico, mas apesar dos obstáculos Gabriel nunca pensou em desistir. “Desistir é uma palavra que eu desconheço.”
Gabriel e seu técnico, Fábio Antunes, foram convocados para as Paralimpíadas de Tóquio no mês de julho e seguem com foco para alcançar as metas traçadas. “Temos uma história longa juntos, somos amigos fora das piscinas e dos treinamentos. Nosso desafio é estar entre as primeiras posições do ranking mundial e atuamos com o objetivo de fazer com que o atleta nade cada vez mais rápido”, afirma Fábio.
Gabriel tem sua estreia nas piscinas nesta terça-feira (24), às 21h (horário de Brasília).
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