Em meio à pandemia ocasionada por um vírus até então pouco conhecido, que levou a consequências em escala global, o futebol mineiro teve que se reinventar para se adaptar ao novo contexto da Covid-19. As medidas de isolamento social e o crescente número de casos de infectados impediram a realização de diversos eventos esportivos. Dessa forma, tanto o trabalho dos clubes quanto o dos jornalistas esportivos foram altamente impactados.
No futebol, o calendário foi interrompido. No dia 15 de março, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou a paralisação dos campeonatos nacionais. Para os clubes, começaram a surgir problemas, principalmente com a diminuição de renda e com a pressão dos patrocinadores. Já no caso dos jornalistas, a produção de conteúdos sofreu impacto.
Em Minas Gerais, a primeira competição a retornar foi o Campeonato Mineiro. No dia 7 de julho, a Federação Mineira de Futebol (FMF) recebeu a liberação das autoridades de saúde do estado para realizar a volta do futebol no dia 26.
A redução de renda é o principal impacto
Lara Pereira, repórter do América-MG no Superesportes, diz que, no Coelho, o planejamento inicial de renda girava em torno de R$37mi em receita entre venda de jogadores, cotas de competições e patrocínios, mas, com a pandemia, essa previsão foi impactada. Entretanto, o avanço do América para a semifinal da Copa do Brasil representou um alívio aos cofres, já que com o avanço as semifinais, a equipe alviverde já acumulou aproximadamente R$ 17 milhões em premiações.
Em entrevista exclusiva ao Super.FC em maio, o presidente do Conselho Gestor do Cruzeiro, Saulo Fróes, disse que a pandemia fez o “Cruzeiro perder cerca de R$ 5 milhões por mês”.
Já no Galo, de acordo com estimativas publicadas pela Sports Value, empresa especializada em consultoria financeira e marketing esportivo, do ano de 2019 para o ano de 2020, a perda financeira projetada no Atlético é de 27% da renda do ano passado, que era estimada em 354 milhões.
Porém não foi só o financeiro que foi prejudicado. Os atletas, que rodam o Brasil inteiro para jogar, estão se contaminando e desfalcando os clubes, provocando surtos de Covid-19 dentro dos elencos. O Atlético viveu esse drama recentemente, com 11 jogadores e 15 pessoas ligadas à diretoria e à comissão técnica com a doença. Já o América e o Cruzeiro não chegaram a vivenciar surtos, mas tiveram jogadores infectados.
Previsões da saúde para o futebol mineiro
O presidente do Grupo IAG Saúde, Renato Camargos Couto, que é especialista em clínica médica e terapia intensiva, com mestrado e doutorado em Ciências da Saúde, Infectologia e Medicina Tropical pela UFMG, diz que a volta do público aos estádios depende, principalmente, da redução da incidência da doença, da velocidade de transmissão local, da curva de novos casos e da intensidade de disseminação. Apenas dessa forma, os torcedores estarão minimamente seguros nos estádios.
De acordo com Renato Couto, em todas as situações em que há contato com menos de dois metros de distanciamento, sem máscara, por 15 minutos, as pessoas envolvidas na partida estão em alto risco de contaminação. Além disso, os testes feitos em indivíduos assintomáticos podem resultar em um falso negativo. Dessa forma, o frequente erro nos exames pode aumentar os riscos.
Em relação às possíveis formas de prevenção ao coronavírus nos estádios, o médico relata que, exceto o distanciamento social e a vacina, todas as outras medidas têm falhas.
Clubes tomam medidas para diminuir os impactos
Para garantir a segurança de atletas e funcionários, América, Cruzeiro e Atlético desenvolveram protocolos sanitários dentro dos clubes. A principal medida foi a esterilização frequente do Centro de Treinamento. Além disso, seguiu as normas da CBF em relação à testagem de jogadores e comissão técnica.
Em nota oficial publicada pela CBF no dia 10 de agosto, o novo protocolo exige que “todos os jogadores dos elencos dos clubes, inscritos na competição correspondente, serão testados a cada rodada, com 72 horas de antecedência a cada partida, independente de estarem ou não relacionados para o jogo.” Além de que “os resultados deverão ser enviados à CBF até 24h antes da partida pelo clube mandante e até 12h antes da viagem pelo clube visitante, o que permitirá que qualquer equipe proceda a troca de eventuais jogadores com teste positivo.”
Nos estádios, a cobertura feita pelos jornalistas se restringe ao momento do jogo. Entrevistas na zona mista e coletivas de imprensa passaram a acontecer online. A entrada dos repórteres no CT dos clubes mineiros também foi proibida.
Mudanças na rotina
Durante o período de paralisação, a forma de produzir conteúdo jornalístico passou por modificações. Com a restrição de novas possibilidades de pautas e assuntos, alguns jornalistas tiveram que buscar temáticas em outras áreas, sendo deslocados para outras editorias.
Entretanto, para os que permaneceram como setoristas no ambiente esportivo, a interrupção das coberturas de eventos ao vivo e das famosas rodas de debates também impactaram a rotina. Por isso, novos focos de redação foram explorados. Estatísticas, fatos históricos, matérias especiais e novos formatos de entrevistas foram alguns dos pilares estabelecidos por jornalistas para inovarem na produção de conteúdo.
Como exemplo, na Rede Globo de Televisão, a falta de pautas novas sobre futebol fez com que jogos históricos fossem reprisados e transmitidos aos domingos. A ideia agradou ao público e acarretou em um bom engajamento para a emissora, que mostrava grandes partidas da Seleção Brasileira e dos clubes locais. Porém, após os primeiros meses, a Globo, na falta de jogos, encerrou a programação do futebol no domingo, que só foi retomada em 26 de julho, quando as partidas voltaram a ser realizadas.
Nós que trabalhamos com futebol temos aquelas pautas que vão sempre se reciclando, porque é “o treino do dia seguinte”, é “o jogo do fim de semana seguinte”, e a gente ficou sem isso. Tivemos que usar muito a criatividade, enfim, buscar pautas fora de jogo, fora de treino.
Guilherme Frossard – setorista do Atlético Mineiro no GE
Com a pandemia, coube a muitos jornalistas a função de realizar as apurações, e as coberturas de transmitir informações da própria casa. Samuel Venâncio, setorista do Cruzeiro na rádio Itatiaia, disse que faz tudo pelo serviço remoto. “Praticamente tudo que eu faço é de casa. A tecnologia proporciona isso”, declarou o jornalista. Já no dia-a-dia do Atlético, o jornalista Guilherme Frossard, que também está trabalhando remotamente, conta que, além da rotina, as pautas de trabalho também mudaram.
Reportagem desenvolvida por Artur Henrique, Bernardo Lucas, Gabriel Maia, Lucas Jannotti, Júlia Pimentel, Maria Clara Soares, Rodrigo Leonel e Sofia Gontijo para a disciplina de Apuração, Redação e Entrevista no semestre 2020/2.
Parabéns para todos os envolvidos. Excelente reportagem!